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Estado de Minas RELACIONAMENTOS

Em 10 anos, Tinder transformou paquera em jogo e deu mais poder �s mulheres

Especialistas concordam que o Tinder colocou mulheres heterossexuais no controle da procura e gamificou o flerte


11/09/2022 19:00 - atualizado 11/09/2022 19:01

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Seja para relacionamentos duradouros, sexo sem compromisso ou passatempo, os aplicativos trouxeram consequ�ncias (foto: Alexander Sinn on Unsplash )
 No meio do tr�nsito de uma tempestade que caiu em S�o Paulo em 2014, a consultora Lilian Ribeiro, 37, deu match pelo Tinder com o administrador Rafael Ribeiro, 40, que estava em casa, sem luz e impossibilitado de assistir um jogo de futebol. Em pouco tempo, j� estavam morando juntos. Casados h� sete anos, eles hoje t�m dois filhos pequenos. "As pessoas se espantam que nos conhecemos pelo aplicativo e deu certo", diz ela.

O aplicativo que conecta casais como Lilian e Rafael completa dez anos nesta segunda-feira (12) e revolucionou a paquera on-line, antes restrita a sites de namoro - que atra�am uma popula��o mais velha.

Nesta �ltima d�cada, especialistas concordam que o Tinder colocou mulheres heterossexuais no controle da procura e gamificou o flerte em meio a uma sociedade cada vez mais individualista.

O primeiro aplicativo de relacionamento a utilizar a l�gica do GPS, na verdade, foi o Grindr, em 2009, focado no p�blico gay . Mas, foi depois do Tinder que surgiram outros com a mesma l�gica, como o Bumble e o Happn.

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Para a psic�loga L�gia Baruch, que estudou o tema no doutorado, os aplicativos mudaram a maneira como as pessoas usam as imagens e como elas se vendem para um relacionamento. "H� uma busca constante por algu�m que se encaixe, mas pouca disposi��o para a constru��o de rela��es."

Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e colunista da Folha, classifica os aplicativos como "revolu��o feminista". Se nos sites elas recebiam enxurrada de mensagens sem filtros, j� nos aplicativos, elas t�m que concordar com o match para dar in�cio ao papo.

Uma pesquisa divulgada em 2016 pela Universidade Queen Mary, de Londres, mostra que homens costumam dar mais likes no Tinder que as mulheres. Por outro lado, apenas em 0,6% dos casos eles s�o correspondidos. J� as mulheres, com um comportamento mais seletivo, t�m um retorno de 10%.

Apesar do controle nas m�os delas, os aplicativos n�o limaram ass�dios. Outra pesquisa divulgada em 2020 pelo Centro de Pesquisas Pew mostra que 30% dos americanos adultos j� usaram sites ou aplicativos. Entre eles, 37% afirmam que foram contatados por um usu�rio mesmo ap�s manifestarem que n�o tinham interesse naquela pessoa. E 35% receberam mensagens ou imagens sexualmente expl�citas indesejadas.

Lemos considera que o Tinder gamificou a paquera. Ou seja, o aplicativo proporciona aos usu�rios uma experi�ncia como a de um jogo que embaralha cartas e vai mostrando pouco a pouco, de acordo com o interesse do usu�rio.

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Ou seja, o Tinder mostra v�rias op��es que n�o s�o interessantes e, de vez em quando, aparecem alguns com poder de reten��o alto. "H� uma prefer�ncia por conhecer outras por meio do aplicativo e o desafio n�o � usar o aplicativo, mas deixar de us�-lo", avalia ele.

Seja para relacionamentos duradouros, sexo sem compromisso ou passatempo, os aplicativos trouxeram consequ�ncias. Ele cita como exemplo o surgimento do termo ghosting -quando uma pessoa corta todas as comunica��es com a outra sem explica��es.

"Temos uma dissolu��o da vida em comunidade e um individualismo exacerbado. O ghosting se torna n�o s� f�cil de ser praticado, como representa uma deteriora��o de pr�ticas comunit�rias."

Fragilidade nas rela��es

ilustração com rostos de várias pessoas
O primeiro aplicativo de relacionamento a utilizar a l�gica do GPS, na verdade, foi o Grindr, em 2009, focado no p�blico gay (foto: Depositphotos)
A produtora de conte�do Andrea Diniz, 47, tamb�m sente essa fragilidade nas rela��es. H� quase um ano no Tinder, ela conta que j� se apaixonou e j� se decepcionou com os homens que conheceu no aplicativo.

Diniz busca um relacionamento s�rio, mas n�o tem pressa. "As chances de encontrar homens nessa idade que n�o seja o 'tio do pav�' s�o baix�ssimas", diz. A maioria dos homens da sua idade, afirma, "procuram por gatinhas" ou n�o querem nada s�rio porque vem de relacionamentos longo que se arrastaram.

Ela nota que, nos aplicativos, muitos deles est�o em busca de sexting [envio de mensagens digitais de teor er�tico], mas n�o t�m vontade para sair e bater papo. "Tenho me dado melhor no ao vivo", resume.
J� a assistente administrativa Mariana Castro, 25, tem um carinho especial pelo aplicativo, pois foi por l� que conheceu a atual namorada Liz Figueiredo, 22, no in�cio de 2021. Elas deram match, mas a conversa n�o engatou.


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 Um dia, Liz foi � farm�cia e, coincidentemente, a atendente era Mariana. A partir dali, elas come�aram a conversar e logo elas passaram a namorar.

"Se tem aplicativo para pedir comida, fazer compras, porque n�o usar para conhecer algu�m?", diz a assistente administrativa, que passou a usar mais o aplicativo durante a pandemia.

Dados divulgados pelo Tinder apontam que as conversas ficaram 33% mais longas durante a crise sanit�ria. Procurado, a empresa n�o divulgou o perfil mais detalhado dos usu�rios e n�o quis comentar o tema. Disse apenas que mais de 50% de quem usa o aplicativo t�m a idade de Mariana e sua namorada, entre 18 e 25 anos.

Filtros pr�-sele��es

A psic�loga Carla Guth tem um olhar mais cr�tico aos aplicativos de paquera. Para ela, os filtros e pr�-sele��es criadas contribuem para um comportamento cada vez mais controlador da sociedade. "Antes, as pessoas tinham vontade de se abrirem. Hoje, elas v�m frustradas porque o outro n�o atende as necessidades. Nos tornamos controladores e o novo � assustador."

J� a fisioterapeuta Cybelle Varonos, 53, considera esses filtros positivos. Quem a encontra no Tinder, j� l�: "cansada de pessoas rasas, solteira, sem filhos e 9 tatuagens." Como n�o costuma frequentar festas e bares, o aplicativo ajuda a fazer uma esp�cie de pr�-sele��o. "Quem n�o gosta, nem d� like", diz ela que j� se apaixonou, teve rela��es casuais e fez amigos com o Tinder.

Ela avalia que o preconceito de quem se conhece pelo aplicativo diminuiu, mas conhecidos ainda perguntam se ela n�o tem medo de cair em algum golpe. "No bar e na academia n�o tem perigo? Quem n�o usa � porque tem medo de se envolver."


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