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Estado de Minas COMPORTAMENTO

A press�o sobre as m�es para perder a 'gordura da gravidez'

Especialistas afirmam que o corpo passa por mudan�as significativas nessa fase; expectativa de retorno ao corpo antes do parto � imposs�vel para muitas mulheres


27/10/2022 18:27 - atualizado 27/10/2022 23:08

Pessoa segurando criança
Retorno ao corpo de antes do parto � algo imposs�vel para muitas mulheres (foto: Getty Images)

Depois que nasce o beb�, m�es enfrentam a press�o de retornar aos corpos que tinham antes da gravidez. As consequ�ncias s�o enganosas e, �s vezes, perigosas.


Logo depois que Sharon Oakley teve seu beb� em 2018, seus conhecidos rapidamente a felicitaram pela sua apar�ncia. "Oh, voc� est� muito bem. Como voc� emagreceu!" era o que ela ouvia meses depois do parto.


Ela talvez parecesse ter "voltado ao normal", mas a realidade era diferente. Embora tivesse perdido a maior parte do peso ganho durante a gravidez, fisicamente ela estava sofrendo.


A canadense Oakley, que mora em Yorkshire, no Reino Unido, � uma �vida corredora que adorava correr com seu filho no carrinho de beb�, em uma rotina que ela manteve por seis meses depois de dar � luz. Mas ela sofria perda urin�ria por todo o caminho. E, ao voltar ao trabalho, ela come�ou a sofrer escapes da bexiga tamb�m no escrit�rio.

 

 


Ap�s uma busca complicada pelo diagn�stico, que incluiu uma espera de seis meses por uma indica��o de fisioterapeuta, Oakley descobriu que sofria de retocele e prolapsos da bexiga e do �tero. Esta condi��o ocorre quando os �rg�os p�lvicos n�o s�o mantidos adequadamente no lugar porque o assoalho p�lvico foi enfraquecido e eles deslizam da sua posi��o normal.


Quatro anos depois, sua condi��o melhorou, mas ela ainda tem escapes ocasionais. Ela sempre carrega calcinhas de reserva quando sai de casa e fica preocupada quando sai para correr. Houve uma �poca em que ela pensou que precisaria demitir-se do emprego.


"� uma parte muito estranha da nossa cultura avaliar o per�odo p�s-parto de uma mulher em termos da sua apar�ncia e n�o como ela est� se sentindo", afirma Oakley. "Eu pare�o estar bem, mas tenho essas les�es do parto que ainda estou enfrentando todos os dias."


Hist�rias como a de Oakley s�o muito mais comuns do que se imagina.


Embora nem sempre seja sintom�tico, somente o prolapso dos �rg�os p�lvicos afeta at� 90% das mulheres ap�s o parto. J� a incontin�ncia urin�ria, que tamb�m pode ser causada pela rigidez excessiva do assoalho p�lvico, cicatrizes dos tecidos ou les�es nervosas, atinge cerca de um ter�o delas.

 

E existe a di�stase abdominal, em que os m�sculos abdominais que se separam para abrir espa�o para que a barriga cres�a ainda n�o se uniram de volta. Esta condi��o pode fazer com que a barriga pare�a inchada e causar dores, pris�o de ventre e escapes de urina, al�m de dificuldades para andar ou levantar-se. Ela afeta 60% das mulheres ap�s o parto.

 

E, mesmo na aus�ncia de les�es espec�ficas da gravidez ou do parto, o corpo sofre altera��es fisiol�gicas dr�sticas durante a gravidez, o parto e o per�odo p�s-parto. Elas s�o causadas pelos horm�nios que dizem ao corpo que mantenha as gorduras armazenadas, pela press�o sobre o assoalho p�lvico e pelos nutrientes que s�o retirados da alimenta��o da m�e para sustentar o feto ou um beb� em lacta��o. Tudo isso significa que a recupera��o e a cura s�o demoradas.

 

Mas muitas mulheres descobrem que, depois que o beb� nasce, a mensagem que elas recebem da sociedade n�o � que elas devem repousar e recuperar-se, mas sim que elas devem "voltar ao normal", para os corpos e comportamentos que elas tinham antes de ficarem gr�vidas.

 

A imprensa examina os corpos das celebridades ap�s o parto para saber se elas perderam peso ou n�o, com pouco ou nenhum conhecimento de outras condi��es que aquelas pessoas podem estar enfrentando.

 

Existem in�meros programas de dieta e exerc�cios dedicados �s m�es, mas relativamente poucos deles s�o elaborados por especialistas em sa�de p�s-parto. Os amigos, a fam�lia e at� os colegas fazem coment�rios frequentes sobre a apar�ncia f�sica de uma m�e.

E, enquanto os homens com "pneuzinhos" — ou seja, com f�sico "m�dio" — atualmente est�o sendo celebrados, as mulheres que realmente d�o � luz raramente recebem a mesma considera��o.

 

Para algumas m�es, a press�o para perder peso rapidamente, aliada � assist�ncia m�dica e cuidados p�s-parto inadequados, pode ser uma mistura t�xica e at� perigosa. Ela pode piorar as les�es do parto e dificultar a cura.

E pode tamb�m prejudicar a sa�de f�sica e mental em um dos per�odos emocionalmente mais turbulentos e vulner�veis, e com maior priva��o de sono, da vida de uma pessoa.

Mudan�as inevit�veis

Tornar-se m�e significa mais do que entrar em uma nova etapa da vida. � uma transforma��o da vida, da mentalidade e at� da identidade de uma pessoa.

Para muitas mulheres, esta provavelmente � a primeira vez em que elas foram totalmente respons�veis por um ser humano pequeno e vulner�vel, que precisa delas de forma praticamente constante. E pode ser tamb�m a primeira vez em que elas n�o trabalham ou s�o financeiramente dependentes do parceiro.


Barriga de mulher após gestação ao lado de mão de uma criança
A aten��o constante ao corpo das celebridades durante e ap�s a gravidez pode trazer muita press�o para as mulheres, que se espelham em padr�es que n�o s�o realistas (foto: Getty Images)

Podem surgir preocupa��es financeiras, principalmente em pa�ses que n�o oferecem licen�a-maternidade ou pol�ticas de creche adequadas. E, se ou quando elas retomam suas carreiras, as m�es frequentemente sentem a press�o de projetar a imagem de que a maternidade n�o as mudou - muitas vezes para evitar a "penalidade da maternidade", que prejudica os sal�rios e as perspectivas profissionais das mulheres.

 

 

Tudo isso ocorre, mesmo sabendo que a maternidade afeta n�o s� as prioridades (fazendo com que, por exemplo, seja mais dif�cil ficar at� tarde da noite no escrit�rio), mas chega at� a mudar o c�rebro das pessoas.

 

Para piorar a situa��o, tudo isso acontece em uma �poca em que muitas mulheres est�o mais exaustas do que nunca. Elas est�o se recuperando fisicamente da gravidez e do parto. E mais de um quarto delas sofre de problemas de sa�de mental, como a depress�o p�s-parto ou estresse p�s-traum�tico ap�s darem � luz.

 

E, como se n�o bastassem todos esses fatores de tens�o, as m�es ainda lutam contra a press�o para "voltar ao normal".

 

Muitas culturas, especialmente no Ocidente, colocam uma press�o imensa sobre as mulheres ap�s o parto. Elas precisam voltar a agir como se a gravidez, o parto e a maternidade nunca tivessem acontecido - e r�pido.

 

"Muitas novas m�es sentem que precisam se esfor�ar para provar que sua gravidez n�o causou altera��es a elas, nem aos seus corpos", segundo a ginecologista, obstetra e especialista em lacta��o Jennifer Lincoln, de Portland, no Estado de Oregon (EUA). Trata-se de uma "realidade inating�vel para muitas", afirma ela, mas as mulheres, ainda assim, internalizam essa press�o - e, �s vezes, for�am seus corpos ao m�ximo, de formas perigosas.

 

"J� vi pessoas que come�aram a exercitar-se apenas uma semana ap�s o parto e, depois, tiveram problemas com prolapso uterino e da cervical por se exercitarem demais, al�m de sofrerem maior sangramento", afirma Lincoln, que tamb�m � autora do livro Let's Talk About Down There: An OB-GYN Answers All your Burning Questions... Without Making You Feel Embarassed for Asking ("Vamos falar sobre l� embaixo: uma ginecologista-obstetra responde a todas as suas perguntas ardentes, sem deixar voc� constrangida por perguntar", em tradu��o livre).

 

"Tamb�m j� tive m�es que amamentavam, mas reduziram suas calorias de forma t�o dr�stica que seu volume de leite diminuiu", ela conta.

Mesmo em casos de gravidez e parto saud�veis e sem complica��es, o corpo sofre grandes altera��es. Muitas das mudan�as psicol�gicas significam que a retomada de exerc�cios vigorosos ou cortes de calorias precisam ser analisados com cautela. Outras transforma��es f�sicas podem chegar para ficar, tornando a volta ao normal um objetivo imposs�vel.

 

Em primeiro lugar, naturalmente, existe o ganho de peso.

 

"Quando voc� est� gr�vida, voc� tem um aumento de todos aqueles horm�nios que nos dizem para manter o peso porque precisamos dele", explica Jenna Perkins, enfermeira especializada em sa�de da mulher e dist�rbios do assoalho p�lvico da regi�o de Washington DC, nos Estados Unidos. "N�s precisamos de toda essa gordura armazenada em volta da nossa barriga para proteger nosso �tero sens�vel e o beb� que est� crescendo dentro dele."

Enquanto isso, os m�sculos abdominais e o assoalho p�lvico s�o estirados na espessura de uma folha de um papel. Carregar um feto e o estresse do parto vaginal colocam mais peso e press�o sobre o assoalho p�lvico.

 

At� os ossos se movem: durante a gravidez, a p�lvis se inclina e fica, em m�dia, cerca de 2,5 cm mais larga.

 

Muitas mulheres tamb�m sofrem os procedimentos e les�es comuns que podem resultar da gravidez e do trabalho de parto. E n�o apenas o prolapso dos �rg�os p�lvicos e a di�stase abdominal, mas a cura do corte da cesariana ou do rasgo do per�neo, por exemplo.

 

Isso pode levar mais tempo do que � informado para as mulheres. Seis semanas ap�s a cesariana, a maioria das cicatrizes do corte ainda n�o ter� se curado totalmente e a f�scia abdominal, que mant�m os �rg�os e os m�sculos nos seus lugares, ter� recuperado menos de 60% da sua resist�ncia original.

 

Todas essas mudan�as e seus poss�veis resultados, segundo os especialistas, indicam que a ideia de que as mulheres podem retornar fisiologicamente ao mesmo corpo de antes da gravidez em quest�o de semanas ap�s o parto �, no m�nimo, imprecisa, podendo chegar a ser perigosa.

'Est� animada?'

Em Indiana, nos Estados Unidos, Shelby Alley afirma que come�ou a sofrer a press�o da cultura da volta ao normal antes mesmo de dar � luz, em 2022.

 

"Meu patr�o, na �poca, antes mesmo que eu tivesse o beb�, perguntava: 'voc� est� muito animada para ter o seu corpo de volta?'", ela conta. "E era um pensamento t�o bizarro para mim porque eu estava literalmente gerando um ser humano. Meu corpo era mais meu do que nunca. Mas foi quando senti essa press�o pela primeira vez."

 

Ela internalizou a mensagem e, como resultado, mudou a forma como tratava o seu corpo. "Depois que meu filho nasceu, eu senti que, 'OK, n�o preciso continuar alimentando meu corpo porque n�o estou mais gerando outro ser humano. Posso come�ar a limitar minha dieta'", segundo ela.


Imagem da cantora Rihanna quando ela estava grávida
O foco da sociedade na r�pida perda de peso ap�s o parto pode fazer as mulheres se esfor�arem demais, colocando em risco seus corpos e sua sa�de (foto: Getty Images)

Mas, quando ela come�ou a reduzir as calorias, a primeira coisa que ela notou foi que seu leite diminuiu.

 

"Eu parei de superproduzir (eu conseguia bombear cerca de 240 ml) e mal gerava o suficiente para meu filho", ela conta. "Ele estava mamando de hora em hora, n�o parecia satisfeito."

 

E ela, que j� dormia pouco com a vida com um rec�m-nascido, sentiu-se ainda mais exausta e seu bom humor desapareceu.

Alley n�o restringe mais sua alimenta��o, mas, �s vezes, ainda se sente "culpada" por n�o ter perdido todo o peso da sua gravidez. "Foi dif�cil reconciliar o que o mundo quer que voc� seja com o que a natureza precisa que voc� seja", afirma ela.

'Perdi todo esse peso - ent�o, voc� tamb�m pode'

Apesar de toda essa realidade, a mensagem que as mulheres recebem depois do parto � clara: recupere o seu corpo, o mais r�pido poss�vel.

 

A �nfase na perda de peso ap�s o parto decorre de uma s�rie de fatores. Mas fundamentalmente, a cultura da "volta ao normal" surgiu das ideias gerais da maternidade moderna, segundo a soci�loga especializada em estudos da maternidade Sophie Brock, de Sydney, na Austr�lia. Ela tamb�m � apresentadora do podcast "The Good Enough Mother" ("A m�e suficientemente boa", em tradu��o livre).

"As m�es est�o sujeitas a certas normas e expectativas sociais, diferentes das mulheres que ainda n�o s�o m�es", afirma ela. "A press�o cultural da 'volta ao normal' � um exemplo disso."

 

"Espera-se que as m�es consigam apagar todas as evid�ncias f�sicas de terem, algum dia, tido filhos, ao mesmo tempo em que se dedicam totalmente a eles - tentando atender, ao mesmo tempo, �s press�es e exig�ncias do que significa ser simultaneamente uma m�e/esposa/profissional perfeita", explica ela.

 

Mas Brock acrescenta que "isso n�o � poss�vel - as pessoas nos pedem para atender a ideias conflitantes e nunca podemos ser 'suficientes'".

A cultura das celebridades tamb�m � um sintoma e uma causa ao mesmo tempo.

 

Algumas celebridades, como a modelo Emily Ratajkowski, parecem ter barrigas planas poucos dias depois do parto. J� outras estrelas conhecidas publicaram detalhes sobre a sua perda de peso, conseguida gra�as aos planos de dieta e exerc�cios.

 

E, quando as celebridades n�o retornam imediatamente aos seus corpos de antes do parto, a imprensa muitas vezes destaca essas mulheres como sendo diferentes ou excepcionais. Esse foco constante faz com que os corpos p�s-parto permane�am sendo tema de conversas - �s vezes, tornando-se o centro da aten��o do p�blico, independentemente do contexto em que essas reportagens s�o apresentadas.

 

"Voc� v� Rihanna no momento sendo criticada ou elogiada por n�o perder o peso do beb�", afirma a apresentadora brit�nica de TV e influenciadora digital Ashley James, que teve seu primeiro filho em janeiro de 2021. "Por que isso � tema de discuss�o?"

 

Alguns especialistas acreditam que, embora tenha se originado nas sociedades ocidentais predominantemente brancas, a cultura da volta ao normal tornou-se global. A fisioterapeuta e coach de fitness p�s-parto Surabhi Veitch, de Toronto, no Canad�, afirma que vem observando cada vez mais a press�o para perder peso, que atinge clientes de todas as etnias e nacionalidades.

 

Veitch afirma que isso "decorre da cultura da supremacia branca, na qual os padr�es brancos ou euroc�ntricos de beleza s�o a norma. Vejo isso causando impactos sobre mulheres brancas, asi�ticas, indianas e negras".

 

Veitch nasceu na �ndia e afirma que, quando ela era crian�a, era "melhor ser um pouco maior, mais curvil�nea... mas, agora, depois que a �ndia absorveu mais esses ideais ocidentais, existe l� essa press�o para sermos magras, com esses abdomens planos".

 

Ela acrescenta que j� observou este mesmo fen�meno em outras culturas asi�ticas, como as mulheres coreanas, chinesas e japonesas com quem ela trabalha.

'Solu��es m�gicas'

A publicidade tamb�m tem influ�ncia no aumento da press�o.

 

As redes sociais e o Google est�o repletos de an�ncios de cursos e planos de dieta destinados �s m�es. Existem at� produtos que s�o apresentados como "solu��es" para recuperar os corpos que as m�es tinham antes do parto.

 

A ortopedista e fisioterapeuta do assoalho p�lvico Margo Kwiatkowski, de Ventura, na Calif�rnia (Estados Unidos), destaca o uso popular das cintas modeladoras de compress�o para o abd�men, que algumas mulheres usam ap�s o parto.

 

"Elas n�o ir�o comprimir sua barriga", explica ela. Mas sua avers�o �s cintas vai al�m desta quest�o.

 

"Muitas das cintas modeladoras vendidas online e comercializadas para uso p�s-parto s�o exatamente como um espartilho", explica ela, o que pode agravar o prolapso.

Por mais que uma mulher possa n�o desejar entrar na cultura do "voltar ao normal", � dif�cil n�o ser afetada, segundo Sophie Brock. Ela compara a mensagem onipresente � nossa volta com a vida no "aqu�rio" da maternidade.


Mulher pedalando em bicicleta ergométrica
(foto: Getty Images)

"N�o podemos 'pular fora', nem ficar imunes a essa influ�ncia", afirma ela. "A cultura se manifesta nas nossas fam�lias, nos relacionamentos, carreiras, institui��es, nos meios de comunica��o a que somos expostos etc. Por isso, algumas ser�o capazes de construir/desenvolver/atingir mais 'imunidade' a essas mensagens do que outras."

 

Uma pessoa que descobriu que essas mensagens s�o prejudiciais � Lucy Kingsford, de Cambridge, no Reino Unido. Quando seu filho nasceu, em janeiro de 2022, Kingsford passou por uma episiotomia - um procedimento em que o per�neo � cortado na hora do parto para abrir caminho para o beb�.

 

Mas, no caso dela, seus pontos ficaram infectados. A dor era lancinante e ela n�o conseguia sentar-se sem uma almofada infl�vel.

"Eu n�o conseguia nem mesmo me deitar direito", ela conta. "Se eu andasse por mais de cinco minutos, abriria os pontos. Eu tomei tr�s rodadas diferentes de antibi�ticos e precisei parar de amamentar porque os rem�dios estavam deixando meu beb� doente."

Kingsford levou quatro meses para come�ar a andar novamente, que dir� recuperar o corpo que tinha antes do parto.

 

Apesar de tudo por que passou, ela tamb�m sente a press�o cultural para voltar ao normal - uma realidade que a fez sentir-se derrotada, agora que ela usa roupas que s�o oito n�meros maiores do que antes da gravidez.

 

"Esses dias logo ap�s o parto, por si s�, j� s�o dif�ceis", afirma ela. "E, ent�o, voc� tem a imprensa produzindo reportagens e mais reportagens dizendo, 'estas celebridades est�o com �tima apar�ncia poucas semanas depois do parto'."

 

"Mas o pior s�o as pessoas 'normais', n�o celebridades, dizendo 'perdi todo esse peso - voc� tamb�m pode'. Eu tive depress�o p�s-parto muito forte e n�o acho que ver esses conte�dos no Facebook tenha ajudado", afirma ela.

 

No caso de Alley e outras, a cultura da volta ao normal, muitas vezes, chega at� elas de familiares pr�ximos, que insistiram em comentar sobre o peso de Alley ao longo de toda a gravidez.

 

"Ningu�m deveria sentir que precisa voltar ao normal com tanta rapidez depois de ter um beb�. Eu sei que fui longe demais, r�pido demais", afirma ela. "Acho que, se tivesse uma comunidade que me apoiasse mais, ou uma comunidade de fato que me dissesse 'ol�, tudo vai ficar bem', acho que teria sido uma m�e melhor, mais cedo."

 

Outra mulher que se manifestou sobre as consequ�ncias da cultura da volta ao normal sobre a sa�de mental e f�sica das mulheres foi a influenciadora James. "Eu lembro que pensava 'seis semanas s�o suficientes, vou pegar a libera��o do m�dico da fam�lia e voltar a correr", ela conta.

"Minha fisioterapeuta de sa�de p�lvica disse 'voc� pode vir me ver antes de come�ar a correr de novo?' E foi quando ela me diagnosticou com prolapso. Ela disse que, se eu tivesse come�ado a correr, teria sido muito perigoso, pois eu teria agravado o prolapso."

 

James conta que, felizmente, ela j� havia trabalhado sua rela��o com seu corpo antes da gravidez e depois do parto, em grande parte por ter sofrido um per�odo ruim anteriormente, perto de 2014, quando teve ataques de p�nico antes de eventos, preocupada porque ela parecia "enorme".

 

"Quando fiquei gr�vida, fiquei animada, pensando 'que venham as mudan�as'", ela conta. "Fiquei com estrias na barriga, onde a pele ficou estirada, mas, na verdade, eu gosto delas... gosto da ideia de que o seu corpo � quase que uma tape�aria feita pela m�e natureza, com todas as pequenas cicatrizes de diferentes hist�rias da vida, como ter um filho."

 

Mas sentimentos como os de James continuam sendo exce��es e n�o a regra.

'Meu marido levou a balan�a embora'

� claro que existe outra realidade: para muitas mulheres, n�o importa o quanto elas fa�am exerc�cio ou sigam dietas. Seus corpos nunca voltar�o a ser o que eram antes da gravidez. E Veitch explica que isso � normal.

 

"Falo frequentemente sobre o p�s-parto como a puberdade", explica ela. N�s n�o passamos pela puberdade esperando que os nossos corpos se pare�am como quando t�nhamos nove ou 10 anos de idade. N�s sabemos que nossos corpos mudaram de forma permanente."

"Na gravidez ou no p�s-parto, n�o estamos mudando de forma t�o dr�stica, mas existem imensas altera��es", afirma ela. "E a maior parte das mulheres n�o voltar� a ter exatamente a mesma apar�ncia que elas tiveram um dia."

 

Mas, em uma cultura que valoriza a volta ao normal e faz com que ela pare�a acess�vel e saud�vel para todas as mulheres, n�o ter o corpo em forma, capaz de tudo o que fazia antes da gravidez, pode parecer um fracasso.

 

At� as mulheres que priorizaram a volta ao normal e acham que, de forma geral, foi positivo apresentam sentimentos contradit�rios.

Antes de ficar gr�vida, Hannah Lucy Galliers, de Gloucestershire, no Reino Unido, sempre manteve os exerc�cios como "grande prioridade". Mas, entre os lockdowns da pandemia de covid-19, o fechamento das academias e a gravidez, "eu n�o reconhecia mais quem eu era - eu n�o reconhecia meu rosto no espelho", ela conta.

 

E, depois de recuperar-se de uma cesariana, ela voltou imediatamente para a academia.

 

"Eu sempre usei o exerc�cio para regular minha sa�de mental e voltar ao normal era muito importante para mim", afirma ela. Mas Galliers ressalta que tamb�m foi motivada por querer parecer magra. E encontrar um meio-termo feliz n�o tem sido f�cil.

 

"Quando comecei a ficar preocupada porque meu peso n�o diminu�a ou havia aumentado um pouco, meu marido levou a balan�a embora, porque ele n�o queria que eu me deixasse mais doente", recorda ela. "Pode tornar-se algo muito obsessivo, pois vivemos em uma sociedade que determina os valores das mulheres pelo n�mero na balan�a."

 

James faz parte da resist�ncia � cultura da volta ao normal nas redes sociais, com postagens celebrando as mudan�as do seu corpo. Ela destaca que o foco no peso da pessoa p�-parto n�o � perigoso apenas para a sa�de f�sica e mental. � tamb�m uma revers�o bizarra de como as mulheres costumam ser tratadas durante a gravidez.

 

"S�o nove meses criando um beb�, com todos falando como voc� est� radiante e como voc� est� bonita. E, depois, eles ficam um tanto espantados", ela conta. "A sua apar�ncia externa n�o deveria ter import�ncia. Deveria ser, 'uau, obrigado por trazer uma vida para este mundo' ou 'voc� est� bem?'"

 

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) na se��o Family Tree do site BBC Worklife

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63381730


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