Alice Groth - Correio Braziliense*
Pela praticidade e pelo custo acess�vel, os ultraprocessados est�o substituindo as refei��es tradicionais, feitas a partir de ingredientes in natura. Especialistas t�m alertado o quanto a troca pode impactar diretamente na sa�de da popula��o. Um estudo publicado nesta segunda-feira (7/11), na revista American Journal of Preventive Medicine, mostra esse efeito nos brasileiros: o consumo de alimentos submetidos a muitos processos industriais foi associado a mais de 10% das mortes prematuras e evit�veis por todas as causas registradas no Brasil, em 2019.
No estudo, liderado pela Universidade de S�o Paulo (USP), os cientistas consideraram informa��es sobre o consumo alimentar presentes na Pesquisa de Or�amentos Familiares (POF) de 2017 e 2018, a composi��o da popula��o e de mortalidade brasileira, al�m de dados recentes da literatura internacional sobre a ingest�o de ultraprocessados. Os resultados mostraram que, em todas as faixas et�rias e em todos os g�neros, o consumo de ultraprocessados variou de 13% a 21% da ingest�o total de alimentos no Brasil, no per�odo estudado.
Um total de 541.260 pessoas com idade de 30 a 69 anos morreram prematuramente em 2019, sendo que 261.061 desses �bitos ocorreram por doen�as evit�veis n�o transmiss�veis. As ferramentas de modelagem indicaram que aproximadamente 57 mil dessas mortes poderiam ser associadas ao consumo dos industrializados, correspondendo a 10,5% do montante e 21,8% de todas as mortes por doen�as n�o transmiss�veis na popula��o adulta.
Os cientistas tamb�m avaliaram alguns cen�rios de redu��o no consumo de ultraprocessados e os poss�veis impactos. Diminuir em 10% a ingest�o desses alimentos poderia prevenir 5,9 mil mortes prematuras por ano. O n�mero de vidas preservadas chegaria a 29 mil com a ado��o de h�bitos mais saud�veis e restri��o em 50% na quantidade de industrializados ingeridos. "Colocando em uma linha temporal, se o brasileiro voltasse aos n�meros de consumo por ultraprocessados que t�nhamos h� 10 anos, seriam 12 mil mortes prevenidas anualmente", afirma Eduardo Nilson, autor principal do estudo e integrante do N�cleo de Pesquisas Epidemiol�gicas em Nutri��o e Sa�de da USP.
Pol�ticas p�blicas
Segundo o cientista, uma ferramenta para estimar as mortes atribu�veis a um h�bito alimentar de baixo teor nutricional pode auxiliar as autoridades nas tomadas de decis�o. Essas informa��es devem ser consideradas como prioridade em termos de defini��o de pol�ticas p�blicas no Brasil, tanto de taxa��o de alimentos quanto de produ��o. E isso est� alinhado, inclusive, com o pr�prio Guia Alimentar da Popula��o Brasileira, que j� fala em restringir o consumo de ultraprocessados, de fazer a base da dieta com alimentos in natura e minimamente processados", justifica.
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Gislaine Ferreira, nutricionista do Hospital S�rio-Liban�s de Bras�lia, lista algumas dessas formula��es industriais cada vez mais presentes na rotina do brasileiro: salsichas, hamb�rgueres, nuggets de frango, sorvetes, chocolates, biscoitos, salgadinhos, refrescos e refrigerantes, entre outras. A especialista lembra, ainda, que o consumo desses alimentos est� associado a muitos desfechos de enfermidades. "Principalmente obesidade, doen�as cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de c�ncer", diz. "Tamb�m representa, como mostrado no estudo, uma causa significativa de mortes evit�veis e prematuras entre os adultos brasileiros. Isso se d� devido � alta carga de s�dio, a��car e gordura trans presentes nesses alimentos."
*Estagi�ria sob a supervis�o de Carmen Souza