
Os efeitos da exposi��o ao zika v�rus ainda no �tero nem sempre s�o percebidos de forma imediata, alerta um grupo de cientistas dos Estados Unidos. Eles observaram que crian�as cujas m�es tiveram contato com o micro-organismo ainda na gravidez podem passar a apresentar problemas no neurodesenvolvimento de tr�s a cinco anos depois. Diferen�as cognitivas, no humor e na mobilidade est�o entre as complica��es, detalhadas na edi��o dessa ter�a-feira (29/11) da revista Pediatric Research.
Primeira autora do artigo, Sarah Mulkey, neurologista pr�-natal do Children's National Hospital, enfatiza que a constata��o refor�a a necessidade de um monitoramento adicional de meninos e meninas que nasceram nessa condi��o.
"Essas descobertas s�o uma pe�a do quebra-cabe�a que fornece informa��es sobre o neurodesenvolvimento de longo prazo de crian�as com exposi��o pr�-natal ao v�rus zika. Elas indicam que uma avalia��o mais aprofundada � necess�ria � medida que essas crian�as envelhecem", afirma, em nota.
Mulkey lembra que ainda n�o est� claro como as crian�as que, durante a epidemia de 2015 a 2017, foram expostas ao v�rus no �tero e n�o sofreram complica��es imediatas, como a microcefalia e a s�ndrome cong�nita do zika, v�o se desenvolver � medida que envelhecem. Em busca dessas respostas, ela e colegas avaliaram o neurodesenvolvimento de 55 crian�as de 3 a 5 anos que nasceram sob essa condi��o em Sabanalarga, Col�mbia, e as compararam com 70 crian�as com de 4 a 5 anos sem esse contato fetal.
As avalia��es ocorreram entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021, per�odo em que a equipe testou as habilidades motoras das crian�as (como destreza manual, equil�brio, mirar e pegar objetos) e a prontid�o para a escola (incluindo conhecimento de cores, letras, n�meros e formas).
Al�m disso, os pais responderam a tr�s question�rios com informa��es sobre a fun��o cognitiva dos pequenos (como mem�ria e controle emocional), condi��es comportamentais e f�sicas (responsabilidade, mobilidade etc.) e sua experi�ncia como respons�veis por essas crian�as (incluindo se se sentiam angustiados com o contato precoce com o v�rus).
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Nos testes, crian�as expostas ao zika obtiveram pontua��es baixas em prontid�o para a escola. Os relatos dos pais, por sua vez, indicaram a ocorr�ncia de n�veis significativamente mais baixos de mobilidade e responsabilidade - nos testes, houve diferen�a nos escores de fun��o cognitiva, mas n�o significativa.
Al�m disso, os respons�veis de 11% das crian�as expostas ao zika relataram problemas de humor, contra 1% das do grupo controle. A equipe tamb�m identificou que os integrantes do primeiro grupo eram mais propensos a relatarem sofrimento parental.
Aposta em anticorpo ultrapotente
Mesmo em pouca quantidade, um tipo incomum de anticorpo conseguiu neutralizar o zika, tornando a infec��o viral indetect�vel. O resultado foi observado em experimentos com ratos por cientistas estadunidenses e, segundo eles, abre caminho para o desenvolvimento de terapias que protejam beb�s dos efeitos potencialmente devastadores dessa infec��o.
"Existem duas maneiras poss�veis de usar esse anticorpo: para reduzir rapidamente os n�veis de zika no sangue de pessoas gr�vidas que foram infectadas ou como medida preventiva para pessoas em risco de contrair o v�rus durante um surto", explica Sallie Permar, pediatra e pesquisadora da Weill Cornell Medicine e uma das autoras da pesquisa, apresentada, neste m�s, na revista Cell.
Os pesquisadores isolaram um anticorpo ultrapotente de imunoglobulina M (IgM) usando c�lulas sangu�neas retiradas de gr�vidas infectadas pelo zika cujos filhos pareciam saud�veis. A hip�tese do grupo era de que essas mulheres poderiam abrigar anticorpos capazes de prevenir a infec��o cong�nita, o que se confirmou em camundongos. Os experimentos mostraram que o IgM protegeu as cobaias de infec��es letais e suprimiu o v�rus a ponto de ele n�o poder ser detectado em exames de sangue.
Os efeitos desse anticorpo, chamado DH1017.IgM, tamb�m surpreenderam a equipe por ele ser um tipo mais fraco e menos maduro, produzida no in�cio de uma infec��o. Essa prote�na imunol�gica tem cinco "bra�os", usados para se ligar ao v�rus. Os cientistas observaram que, no caso da infec��o pelo zika, esses "tent�culos"se prendem simultaneamente ao pat�geno, o enfraquecendo.
Para desenvolver o anticorpo em uma terapia, os pesquisadores planejam come�ar a testar sua seguran�a e a efic�cia em modelos pr�-cl�nicos adicionais. Ainda n�o h� previs�o para os ensaios com humanos.
Limita��es
Segundo os autores, as respostas dos adultos podem ter sido influenciadas pelo aumento da preocupa��o com o desenvolvimento de filhos expostos t�o precocemente ao v�rus. H� ainda a possibilidade de algumas distin��es nos resultados terem sido causadas pelas diferen�as de idade - e, portanto, de desenvolvimento - entre os grupos de crian�as.
Ainda assim, os autores concluem que, embora essas crian�as expostas ao zika estejam progredindo � medida que se desenvolvem, elas podem precisar de apoio adicional enquanto se preparam para come�ar a escola. "Ainda h� muitas perguntas sem resposta sobre os impactos de longo prazo do zika em crian�as expostas no �tero", justifica Mulkey.