Mão segurando preservativos coloridos

M�o segurando preservativos coloridos

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O carnaval volta a colorir as ruas de todo o Brasil. Embora muitos tenham o desejo de extravasar a alegria reprimida pela aus�ncia da festa desde 2020 - interrompida pela pandemia - � preciso curtir a folia com consci�ncia, seguran�a e, principalmente, sa�de. Isso porque as chamadas Infec��es Sexualmente Transmiss�veis (IST) v�m crescendo bastante nos �ltimos anos em Minas Gerais. Segundo a Secretaria de Estado de Sa�de (SES-MG), os casos de s�filis adquiridas, ou seja, transmitidas de uma pessoa para outra, passaram de 712 em 2011 para 16.017 em 2021, aumento de 2.149%. As confirma��es de HIV tamb�m subiram: de 734, em 2011, para 3943 em 2022, crescimento de 437,2%.

Infectologista do Hospital Semper, Leandro Curi ressalta que creditar esses n�meros apenas ao sexo desprotegido, sem o uso de preservativos, � uma atitude, no m�nimo, simpl�ria. Existem uma s�rie de fatores que, segundo ele, devem ser levados em considera��o. "Infelizmente n�o temos observado, nos �ltimos tempos, campanhas maci�as na m�dia a respeito da preven��o das IST. Geralmente elas se limitam ao uso do preservativo no carnaval, mas nem no pr�prio carnaval t�m sido robustas. Isso sem falar que aulas e conversas sobre educa��o sexual nas escolas ainda s�o vistas como tabu por muitas organiza��es de pais. O assunto tamb�m n�o � falado em casa. Com isso, o jovem, ao iniciar a vida sexual, fica sem informa��o adequada sobre o que fazer e como se prevenir".



Essa desinforma��o, conforme destaca o especialista, tamb�m deve ser colocada em pauta para explicar n�o s� o aumento do n�mero de infec��es como tamb�m da gravidez na adolesc�ncia". Curi, de fato, est� certo. Prova disso � que, apesar de em 2022 ter havido uma redu��o de 18% no n�mero de gesta��es na adolesc�ncia, ainda assim, o Brasil contabiliza 380 mil partos em que as m�es s�o meninas de at� 19 anos, segundo dados do Minist�rio da Sa�de, o que representa 14% dos nascimentos no pa�s.

Investimento em ampla informa��o � o melhor rem�dio


O infectologista do Hospital Semper aponta que a falta de informa��o sobre as IST tem v�rios gargalos. Muitos pacientes, segundo enfatiza o m�dico, n�o fazem ideia dos m�todos preventivos. "No caso do HIV, por exemplo, existem outras formas de evitar a contamina��o, para al�m do uso do preservativo. E detalhe: todas dispon�veis gratuitamente no SUS. H� a chamada Profilaxia Pr�-Exposi��o (PrEP), que consiste na tomada di�ria, ou sob demanda, de um comprimido que impede que o v�rus infecte o organismo, antes de a pessoa ter um contato de risco. Para quem toma PrEP diariamente, a medica��o, ofertada em unidades ambulatoriais de sa�de, pode evitar que o HIV se estabele�a e se espalhe no corpo."

 

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Curi destaca ainda a Profilaxia P�s Exposi��o, ou PEP, medida de preven��o de urg�ncia, dispon�vel nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), tamb�m aplicada contra hepatites virais e outras infec��es sexualmente transmiss�veis. Nessa situa��o o indiv�duo recorre a medicamentos para reduzir o risco de adquirir essas infec��es. O m�todo deve ser iniciado o mais r�pido poss�vel, preferencialmente nas primeiras duas horas ap�s a exposi��o e no m�ximo em at� 72 horas. A dura��o da PEP � de 28 dias e a pessoa deve ser acompanhada pela equipe de sa�de. "Essas informa��es t�o b�sicas e essenciais n�o chegam a grande parte da popula��o. Se isso fosse mais disseminado, quantos casos n�o seriam evitados", destaca Leandro acrescentando que no Brasil h� mais de 200 mil pessoas vivendo com HIV sem saber da condi��o sorol�gica.

Outro desconhecimento coletivo que assusta Curi � o fato de muitas pessoas, por exemplo, n�o conhecerem o preservativo interno, chamado antigamente de 'camisinha feminina', que, segundo ele, pode ser usado amplamente, inclusive, no sexo anal. "Muitas tamb�m n�o sabem sequer que existe testagem para IST nos postos de sa�de ou da exist�ncia dos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA), unidades do SUS � disposi��o da popula��o para testes, tratamento e acompanhamento de todas as infec��es. Quando esse acesso [� informa��o e ao conhecimento] � suprimido, considero tal postura mais que uma neglig�ncia, mas sim um crime contra a vida, contra a humanidade. Vale lembrar que prevenir � muito mais barato que remediar", destaca.

O especialista tamb�m faz um alerta sobre a grande variedade de IST, cada uma com sintomas diferentes. Por isso diante de qualquer altera��o no corpo, como por exemplo, �ngua aumentada na regi�o genital, ferida que n�o se cicatriza, entre outras anormalidades, o ideal � procurar ajuda m�dica especializada. "Belo Horizonte, volto a dizer, tem Centros de Testagem e Aconselhamento onde � poss�vel fazer testes para diversas IST gratuitamente. Basta consultar os endere�os no site da prefeitura. N�o � vergonha ter um diagn�stico positivo para qualquer infec��o transmitida por vias sexuais. O mais importante �, em caso de confirma��o [da infec��o], iniciar o tratamento o mais precocemente poss�vel".

Por fim, Leandro ressalta que qualquer tipo de sorofobia - preconceito e discrimina��o contra pessoas que vivem com HIV ou outras IST - deve ser combatido veementemente. "Por isso campanhas de conscientiza��o em massa s�o extremamente bem-vindas, afinal o preconceito vem da ignor�ncia, da penumbra do conhecimento. Ele n�o deve ter lugar na nossa sociedade."