Maria Rico e sua filha Anabel Sharma foram internadas no Leicester Royal Infirmary no mesmo dia

Anabel diz que sentiu a m�o de sua m�e ficar cada vez mais fria nos momentos finais
BBCO coronav�rus, conta Anabel, "devastou" a fam�lia em uma velocidade assustadora. Quando ela e m�e foram internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), os m�dicos n�o tinham certeza se alguma das duas sobreviveria.
Elas foram colocadas uma do lado da outra e uma fotografia comovente as mostra de m�os dadas, como � poss�vel ver no in�cio desta reportagem. "Quando perguntei aos m�dicos se ia morrer, esperava que me dissessem que n�o", recorda Anabel.
"O que eles disseram foi 'n�o sabemos'. Isso foi um choque."
"Eu n�o estava pensando no sal�rio que recebia, ou no carro que dirigia. Eu s� gostaria de ter mais mem�rias com as pessoas que amo." Na cama ao lado, o estado de sa�de de Maria estava se deteriorando.
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Maria Rico era uma 'av� incr�vel', relata a fam�lia
ANABEL SHARMA"Um profissional de sa�de se ajoelhou ao meu lado e me disse que minha m�e havia assinado uma ordem para n�o ser reanimada. De certa maneira, minha m�e estava me contando seus desejos finais. Foi tudo muito surreal", lembra Anabel. A irm� de Anabel, Susana, foi levada ao leito da m�e enquanto usava equipamentos de prote��o individual.
No dia 1º de novembro, Maria removeu a m�scara de oxig�nio para falar com as duas filhas pela �ltima vez — apesar de saber que essa atitude apressaria a sua morte. "Minha m�e pediu que retirassem a m�scara e eles disseram: 'Assim que removermos o equipamento, voc� n�o ter� muito tempo'", relata Anabel. "E ela disse: 'Sim, eu sei disso. Mas j� chega'."
"Tivemos cerca de cinco minutos, o tempo em que ela conseguiu falar. Ent�o, ela perdeu a consci�ncia." “Ela nos disse que n�o tinha medo de morrer, que estava pronta. Ela me falou que eu precisava lutar muito, porque tinha as crian�as em casa."
"Os profissionais de sa�de ent�o aproximaram as nossas camas, para que eu estivesse pr�xima quando ela falecesse. Mas meus n�veis de oxig�nio come�aram a ficar perigosamente baixos, ent�o eles tiveram que me afastar para estabilizar o meu quadro."
"S� me lembro de segurar as m�os e conversar com ela." "Muito lentamente, as m�os dela estava ficando cada vez mais frias."
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O coronav�rus se espalhou pela fam�lia e todos os membros testaram positivo
ANABEL SHARMAA trag�dia da fam�lia de Anabel se repetiu em outras casas do Reino Unido e do mundo. At� o momento, j� foram registradas 6,8 milh�es de mortes por COVID em todo o globo.
Maria foi cremada algumas semanas depois. Anabel assistiu a cerim�nia por meio de uma transmiss�o ao vivo, diretamente de sua cama de hospital.
Ela permaneceu na UTI por quase tr�s meses. "Minhas mem�rias s�o muito fragmentadas. Parece que eu s� tinha piscado, mas os dias se passavam. Na maioria das vezes, eu n�o estava totalmente consciente."
Quando Anabel finalmente teve alta, voltou para casa, em Leicestershire, sentindo-se fraca e chocada. Anabel sofreu fortemente com a perda da m�e. "Por algumas semanas, quando voltei, dormi no quarto dela", conta.

Maria Rico morava com a filha, o genro e tr�s netos
ANABEL SHARMASeus filhos — ent�o com 10, 12 e 22 anos — tamb�m estavam lutando para aceitar a devasta��o que a COVID havia causado na fam�lia. "Um dos dois filhos mais novos sempre ia para a cama comigo. Foi emocionalmente traum�tico para eles. Eles eram muito jovens."
"A coisa mais dolorosa para mim foi saber que eles foram informados de que a m�e deles poderia n�o sobreviver."
O tempo de Anabel no hospital tamb�m teve um grande impacto em seu marido, Bharat.

Anabel diz que sente sorte por ter tido uma segunda chance ap�s o coronav�rus
BBC"Meu marido teve que carregar a fam�lia quando eu estava no hospital", relata. "Ele recebia atualiza��es di�rias sobre meu estado na UTI. Eram conversas muito dif�ceis que ele tinha todos os dias."
Anabel sofre agora com os efeitos da covid longa.
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Seus pulm�es ficaram danificados, e ela ainda sente muito cansa�o.
"Tenho cicatrizes nos pulm�es e danos no cora��o e no f�gado. N�o sou a mesma pessoa de antes." Ela � grata � equipe da UTI que a tratou — Anabel at� voltou para visit�-los.
Enquanto descreve a morte como um momento "de partir o cora��o", ela est� feliz pelo fato de a m�e n�o ter morrido sozinha.
Ela tamb�m entende que a vis�o de vida mudou como resultado dessa experi�ncia.
"Senti que havia me perdido at� aquele ponto. Lamentei muito os momentos que n�o tive com as crian�as devido �s press�es do trabalho."
"Tenho sorte de ter uma segunda chance para lidar com esses arrependimentos."
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