mulher de costas leva mão no ombro em sinal de dor

N�o bastasse o cansa�o e o sofrimento f�sico, portadores de dor cr�nica precisam lidar com a descren�a de familiares, amigos, colegas de trabalho e at� de profissionais

Tumisu/Pixabay


Etimologicamente, o termo pandemia significa “algo que aflige a todos”. Deste ponto de vista, a m�dica intervencionista em dor, Amelie Falconi, afirma, sem medo de errar, que a dor cr�nica � a pandemia do s�culo: “Pense em quantas pessoas voc� conhece com dores cr�nicas ou como produtos diversos, que prometem al�vio das dores, s�o ofertados em todos os lugares”, diz. De acordo com ela, fora a morte, n�o existe nada mais democr�tico que a dor.: "Ela n�o diferencia g�nero, classe social, religi�o ou faixa et�ria”, afirma.

Corroborando a vis�o de Amelie Falconi sobre o alcance da doen�a, estudo de 2021, feito por pesquisadores ligados � Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (Sbed) e diversas universidades e faculdades brasileiras, constatou que a preval�ncia da dor cr�nica no Brasil � de 45.59%. Outro estudo da mesma sociedade em 2017 mostrou uma preval�ncia de 39%.

Quase metade da popula��o mundial sofre com dor cr�nica

Sem d�vida a pandemia da COVID-19 foi uma das respons�veis por este aumento das dores cr�nicas. Para chegarem a este resultado, os cientistas respons�veis pelo estudo partiram de uma premissa de que a dor cr�nica afeta entre 30% e 50% da popula��o mundial. Ou seja, quase metade das pessoas em todo mundo sofrem com a doen�a, que, obviamente, n�o pode ser ignorada.

De acordo com a m�dica intervencionista em dor, devido � sua ampla preval�ncia, �nus econ�mico e social, associa��o com quest�es de acesso e justi�a social, a dor cr�nica � considerada cada vez mais um problema de sa�de p�blica. Do ponto de vista financeiro, ressalta Amelie Falconi, os impactos na sa�de p�blica s�o gigantescos: “Para se ter uma ideia, os Estados Unidos dispendem US$ 600 milh�es em custos diretos e indiretos de dor cr�nica anualmente".
Os indiv�duos que sofrem de dor cr�nica percebem claramente como a doen�a � custosa financeiramente: “Al�m de aumentar o gasto mensal, com planos de sa�de, consultas, reabilita��o, rem�dios e psic�logo, a dor cr�nica atrapalha que seu portador ganhe dinheiro, porque o impede de trabalhar muitas vezes”, explica a m�dica.

Outro aspecto importante da vida humana que a dor cr�nica gasta e que n�o pode ser recuperado como o dinheiro � o tempo: “O paciente perde v�rios momentos de lazer por estar em tratamento e quando est� de ‘folga’ de m�dicos e outros profissionais de sa�de, est� com dor ou cansado demais”, comenta Amelie Falconi.

Cansa�o, sofrimento f�sico e descren�a das pessoas

Amelie Falconi, médica intervencionista em dor

Amelie Falconi, m�dica intervencionista em dor, lembra que a dor � multifatorial, com intera��es complexas entre muitos fatores biol�gicos, psicol�gicos e sociais

D�bora Silva Ferreira/Divulga��o
N�o bastasse o cansa�o e o sofrimento f�sico, portadores de dor cr�nica tamb�m precisam lidar com a descren�a de familiares, amigos, colegas de trabalho e at� de profissionais.

Conforme Amelie Falconi, como a dor � algo um subjetivo e n�o aparece em exames, � comum que muitos n�o saibam lidar com pacientes nesta condi��o: “Al�m de n�o saber o que � dor, n�s profissionais tamb�m sa�mos da faculdade com defici�ncias severas como falta de empatia e compaix�o com os portadores dessa doen�a".
A falta de conhecimento m�dico sobre o assunto faz com que milhares de pacientes com dor cr�nica saiam dos consult�rios sem um controle adequado da dor.

Falta de empatia diante da ignor�ncia

J� a falta de compreens�o, acolhimento e empatia por parte das pessoas pr�ximas faz com que o fardo da dor se torne ainda mais dif�cil e suportar. De fato, segundo a m�dica, o contexto de ignor�ncia e descren�a compromete toda a abordagem da dor e faz com que pacientes n�o se tratem de maneira adequada.

“Diferente de um paciente com doen�a card�aca, que tem medo de passar por uma cirurgia, um portador de dor cr�nica deseja a interven��o cir�rgica como primeira op��o de tratamento”, comenta a m�dica intervencionista em dor.

Doen�a invis�vel

Isso ocorre, segundo ela, porque n�o se leva t�o a s�rio uma doen�a invis�vel quanto uma doen�a que se v�: “Em um mundo ideal, por�m, cuidar�amos da dor da mesma maneira que cuidamos de um cora��o: seguindo etapas e corrigindo fatores de riscos, que s�o respons�veis por desencadear e alimentar a dor cr�nica”, diz a m�dica.

Passos do tratamento da dor cr�nica

Saiba dos passos que precisam ser respeitados no tratamento da dor cr�nica de acordo com a m�dica intervencionista em dor:
  1. O paciente deve ser submetido a um tratamento conservador ativo, ou seja, uma fisioterapia bem-feita, de prefer�ncia uma fisioterapia particular (n�o gen�rica)
  2. Se este caminho n�o funcionar, deve-se ir para o plano B: cirurgia.
  3. � importante corrigir fatores de risco do paciente significa interferir no estilo de vida da pessoa, estimulando-a a praticar atividade f�sica, dormir bem, comer adequadamente e cuidar da sa�de mental.
  4. No tratamento da dor cr�nica n�o se pode esquecer do uso de medicamentos. Estes s�o importantes para devolver uma certa autonomia ao portador da doen�a, para que ele d� prosseguimento � fisioterapia, por exemplo. Contudo, alerta  Amelie Falconi, controlar a dor com farmacol�gicos n�o significa us�-los de forma indiscriminada, mas sim com orienta��o m�dica: “O uso de rem�dios sem orienta��o pode atrapalhar o funcionamento dos outros rem�dios que voc� utiliza e, consequentemente, o tratamento de outra doen�a. Pior: automedicar-se pode causar a cronifica��o da dor”.

A dor � multifatorial

Amelie Falconi explica que a dor � multifatorial, com intera��es complexas entre muitos fatores biol�gicos, psicol�gicos e sociais. Em outras palavras, a dor influencia em tudo e tudo influencia na dor.

Conforme a m�dica, quando o paciente usa e abusa de rem�dios ele trata apenas os sintomas dessa dor, que, por terem causas variadas, n�o s�o resolvidas com a utiliza��o de rem�dios:  “Chamo isso de 'enxugar gelo' na dor cr�nica. O paciente n�o modificou o que est� causando a dor, ent�o, a consequ�ncia � ela intensificar e torn�-la permanente".

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Se tudo influencia na dor cr�nica, Amelie Falconi volta a ressaltar a import�ncia de empregar medidas al�m das farmacol�gicas para ajudar no controle da dor, mas tamb�m para melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade e reduzir os sintomas associados.

Conforme a m�dica intervencionista em dor, para obter bons resultados no tratamento da dor cr�nica, n�o basta olhar apenas para a doen�a: “Cada dor se manifesta de uma maneira totalmente diferente e individual. O mesmo tratamento apresenta resultados diferentes em pessoas diferentes. Isso mostra porque precisamos olhar para a pessoa, al�m da dor”.