Bullying

Bullying

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Quatro em cada dez estudantes foram v�timas de bullying na escola, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). De acordo com o estudo, 24% dos alunos disseram que “a vida n�o vale a pena”. Os principais motivos de chacota e humilha��o referem-se � apar�ncia do corpo, do rosto, da cor e etnia. Embora quase nunca seja descrito em pesquisas, o bullying adotivo engrossa as estat�sticas.

Na legisla��o, bullying � definido como todo ato de viol�ncia f�sica ou psicol�gica, intencional e repetitivo. De acordo com o entendimento legal, diversos crimes podem ser praticados por meio do bullying, principalmente nas escolas. Ainda que os menores de idade n�o cometam crimes, mas infra��o penal, eles podem ser punidos com medidas socioeducativas previstas pelo Estatuto da Crian�a e do Adolescente (ECA).

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Crime


Um projeto de lei (1333/20) est� em tramita��o no Congresso Nacional desde 2020 para tipificar como crime o ato de praticar ou incitar discrimina��o ou preconceito contra crian�a ou adolescente em raz�o de sua filia��o civil diversa da consangu�nea, como a adotiva, a socioafetiva e a decorrente da chamada reprodu��o assistida heter�loga, quando h� doa��o de s�men ou de embri�o. Ainda n�o h� previs�o de quando o projeto ser� inclu�do na pauta de vota��o.

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A servidora p�blica federal, jornalista e escritora Lisandra Barbiero interessou-se pelo tema bullying adotivo por n�o ter encontrado refer�ncias sobre ele na literatura dispon�vel. Ela comenta que os bullyings tradicionais re�nem as caracter�sticas de trazer dor, medo e ang�stia para a v�tima. Segundo Lisandra, o adotivo re�ne essas mesmas caracter�sticas, mas tem uma dose maior de perversidade porque criminaliza a origem gen�tica da pessoa, expondo a origem de forma pejorativa, colocando a crian�a adotada como cidad�o de segunda classe, inferior at�  mesmo dentro da hierarquia familiar.

“H� uma criminaliza��o da gen�tica dessa crian�a, mesmo ap�s o processo finalizado da ado��o. Eu vivenciei isso e outros adotados com quem conversei tamb�m, se sentiam muito inferiores dentro da hierarquia familiar, tinham vergonha de contar sua hist�ria. A� vem o medo, a falta de pertencimento da fam�lia”, alega Lisandra. Ela diz que o bullying adotivo provoca o sentimento de n�o fazer parte da fam�lia, de n�o ser amado como deveria e alerta os pais adotivos a manterem o olhar atento sobre os filhos.

“As crian�as n�o t�m o arcabou�o intelectual que o adulto tem, mas observa e absorve. O que as pessoas �s vezes consideram timidez pode ser silenciamento”, afirma a escritora. Adotada aos 7 meses, Lisandra enfrentou um processo traum�tico de bullying adotivo na escola. Ela conta que descobriu a ado��o ao confrontar a m�e porque se viu diferente dos demais membros da fam�lia nos porta-retratos espalhados pela casa. Na �poca, h� 30 anos, conta que se sentiu especial quando a m�e disse que ela n�o tinha sido gerada na barriga, mas no cora��o.

“Achei aquilo bonito, verdadeiro e me senti especial, nos abra�amos e essa foi a maior confid�ncia de amor entre n�s. Eu me senti filha e amada”, lembra. No entanto, ao contar a novidade na escola, a escritora descobriu todo o preconceito que ainda cerca o tema. Ela lembra que quando dividiu a hist�ria com os colegas eles n�o entenderam o que era ser gerada no cora��o, mas, no dia seguinte passaram a olhar com desconfian�a e reprova��o. Ao entrar na sala de aula, no quadro verde estava escrito em letra grande: “voc� foi adotada”.

“Os colegas disseram que eu tinha sido encontrada no lixo, que ningu�m me quis, que nunca havia sido amada, que era feia e pobre. Foi um bullying devido � ado��o, � hist�ria gen�tica. E at� hoje n�o tem ningu�m que escreve sobre isso. Que outras crian�as n�o sofrem caladas o que sofri?”. questiona a escritora. Ela comenta que precisou de muitos anos para ressignificar sua ado��o.

Bullying adotivo


Lisandra defende que o tema bullying adotivo seja debatido na escola. “A educa��o precisa ter um olhar voltado para isso”, comenta. Ela � autora de tr�s livros e um e-book sobre ado��o. “N�o Nascemos Filhos, Nos Tornamos: o amor na ado��o sempre vencer� o medo do abandono e do desamor” defende que toda crian�a, consangu�nea ou n�o, percorre o mesmo processo para se tornar filho, que passa pela conviv�ncia di�ria com a fam�lia, pela decis�o dos pais de amar, acolher e cuidar dessa crian�a.

“A Incr�vel Hist�ria de Aninha”, volumes 1 e 2, fala sobre a descoberta da ado��o, de maneira amorosa, e sobre o que representa passar por esse processo. O e-book “15 Li��es de Uma Adotada” foi escrito a partir da experi�ncia da autora, sobre como ressignificou a ado��o para moldar-se como pessoa, na forma de construir sua fam�lia e de ter amizades.

O objetivo do trabalho liter�rio de Lisandra � lan�ar luz sobre o tema ado��o. “Quero que mais crian�as tenham a oportunidade que tive, de ser amada, acolhida e ter o aconchego de viver em uma fam�lia. Tenho m�e, irm�o, raiz, hist�ria. Por mais que as institui��es de acolhimento deem todas as condi��es para as crian�as viverem ali, n�o � o local adequado para uma crian�a crescer. A crian�a precisa de v�nculo, da conviv�ncia familiar, da prote��o de uma casa. Quero que mais fam�lias sejam despertadas para esse encontro oportunizado pela vida. Quero que mais crian�as tenham oportunidade de terem orgulho da sua hist�ria, da sua origem, de se sentirem amadas e respeitadas pela sua fam�lia”, afirma.

Sobre Lisandra Barbiero

Servidora p�blica federal, jornalista e escritora. Especialista em neuroci�ncias do comportamento e p�s-graduada em Educa��o Infantil.  Membro do Grupo de Trabalho de Afinidade e Ra�a do Senado Federal. Lisandra tornou-se filha pela ado��o aos sete meses de vida. Escreveu quatro livros com o tema ado��o no Brasil.  A autora, no livro que ser� lan�ado em maio " N�o Nascemos Filhos, Nos Tornamos!" apresenta um novo conceito que envolve diferentes tipos de viol�ncia denominado bullying adotivo.

� pesquisadora do assunto no Pa�s e mentora do primeiro curso de ado��o voltado para as quest�es emocionais, psicol�gicas e educativas sob a �tica de quem viveu na pr�tica o sentimento de ser acolhida.  Acredita que a ado��o � um  caminho para a constru��o de la�os afetivos e um meio s�lido de amor capaz de proporcionar mudan�a de vida para milhares de crian�as e adolescentes que esperam ansiosamente para desfrutar do aconchego de um lar e de ter o direito constitucional � conviv�ncia familiar e comunit�ria garantidos.