
“O bullying � uma epidemia, ele acontece em toda escola brasileira”, foi assim que o professor, escritor e terapeuta Hugo Monteiro Ferreira explicou o tamanho do problema do bullying no Brasil atualmente. Todo ano em 7 de Abril, � celebrado o Dia do Combate ao Bullying e � Viol�ncia na Escola. Nesta mesma data, o escritor vai participar do projeto Sempre Um Papo para lan�ar “A Gera��o do Quarto: Quando Crian�as e Adolescentes nos Ensinam a Amar”, da Editora Record.
A conversa acontecer� virtualmente �s 19h pelo YouTube, Facebook e Instagram.
A data foi criada ap�s o Massacre de Realengo, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro do Realengo, Rio de Janeiro. Armado, come�ou a disparar contra os alunos dentro de uma das salas de aula. No ataque matou doze estudantes com idade entre 12 e 15 anos, al�m de ter deixado outros 20 feridos. O atirador, que havia sido v�tima de bullying quando aluno daquela escola em sua adolesc�ncia, cometeu suic�dio logo ap�s a a��o.
O bullying como viol�ncia
“Em m�dia 3 a 4 crian�as, cerca de 18,5% da popula��o escolar se envolve com bullying 2 a 3 vezes por semana.” O professor argumenta que, infelizmente, hoje em dia o cyberbullying - pr�tica que envolve o uso de tecnologias de informa��o e comunica��o para dar apoio a comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados por um indiv�duo ou grupo com a inten��o de prejudicar o outro - piora a situa��o drasticamente, a gravidade aumenta cerca de 70%.
De acordo com ele, isso acontece porque anos atr�s, um jovem que sofria bullying na escola, tinha o tormento apenas de segunda a sexta. Agora, com o acesso � internet, telefones em m�os e grupos de mensagens, � poss�vel praticar a viol�ncia de qualquer lugar e a qualquer momento, e em alguns casos, de forma impune e an�nima.
“Ele pode ser feito em l�nguas diferentes, a longa dist�ncia, o cyberbullying � terr�vel. A matriz continua a mesma, � a tentativa de destruir aquilo que n�o � igual a mim, tenho raiva do que � diferente. O grande objetivo do bullying � a destrui��o da alteridade”, explica.
Fen�meno da Gera��o Quarto
Em sua obra, Hugo busca apresentar sua tese da Gera��o Quarto, resultado de uma pesquisa com 3.115 meninos entre 11 e 18 anos. Deste grupo, 238 se enquadram na Gera��o Quarto, termo que o autor criou para denominar aqueles que “(..) passam muito tempo dentro desse c�modo, com quase nenhuma interlocu��o com as pessoas que moram na mesma casa, muita dificuldade de dizer o que sentem e um potencial de viol�ncia contra si ou contra o outro muito intenso, muito forte”.
No livro, o autor mostra como a aus�ncia de afeto, nos casos em que as queixas das v�timas de bullying n�o s�o devidamente acolhidas, podem resultar aem sentimentos de vingan�a contra o outro ou contra si pr�prio na forma de autoles�es, idea��o suicida e suic�dio.
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Em entrevista para o Estado de Minas, ele argumenta ainda que o termo “quarto” � uma met�fora. N�o necessariamente esse isolamento � por meio de um c�modo, mas sim a atitude de se fechar para aquela viol�ncia, de n�o saber expressar essa dor e pedir ajuda.
“Na adolesc�ncia, h� uma tend�ncia ao isolamento, isso � natural. O que ocorre agora � que a gera��o quarto se isola em sofrimento profundo, porque h� sofrimento, n�o sabe se comunicar verbalmente, face a face”, completa. Al�m disso, ele refor�a que a Gera��o Quarto � um term�metro, por ela pode - se mensurar o quanto a sociedade adoeceu.

Criando caminhos para acabar com a epidemia
Para o autor, os caminhos para acabar com essa epidemia do bullying passam por cinco pilares: cuidado; autoconhecimento; conviv�ncia; dialogicidade e amorosidade.
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“� necess�rio que escola e fam�lia trabalhem consci�ncia emocional, as crian�as precisam saber lidar com elas. [...] A escola precisa ter um programa interno para trabalhar as quest�es emocionais. Depois, deve trabalhar o autocuidado, a autoestima. Alimenta��o, atividade f�sica, qualidade das rela��es”, aconselha.
Ele refor�a ainda que, o autoconhecimento tem uma rela��o direta com a ancestralidade. “A crian�a deve saber de onde veio, quem s�o seus familiares, qual sua matriz. Quando a crian�a conhece sua hist�ria, sua capacidade de se defender e n�o ofender � potencializada. A pessoa que tem consci�ncia de si raramente � v�tima de bullying”, opina.
A conviv�ncia, de acordo com o Hugo, � a no��o de respeitar as diferen�as. Ainda mais na escola, em que coexistem v�rios grupos diferentes. Ademais, a dialogicidade tem rela��o com aprender a ouvir, ao exerc�cio da escuta. “� preciso aprender a ouvir e ser ouvido, e para isso, � necess�rio falar, aprender a se comunicar sem viol�ncia. � sobre se expressar sem se violentar e sem violentar o outro."
Por �ltimo, a amorosidade s�o as emo��es essenciais de serem trabalhadas, como a compaix�o. “Sem ela, o indiv�duo n�o consegue entender que todo mundo sofre assim como ele sofre, logo, sem essa compreens�o, vem a vontade de fazer todo mundo sofrer igual ele sofre”, ressalta o autor.
A fun��o dos pais � de escuta
Hugo ressalta que � fundamental que os pais aprendam a ouvir os filhos. Por�m, essa conversa tem que vir em forma de escuta, quando os pais ouvem sem opinar, aconselhar, julgar ou avaliar.
“Tentar ouvir significa dar ao filho a liberdade dele falar o que pensa. Se os pais perceberem que os filhos est�o iniciando o movimento da entrada no “quarto” ou demonstra algum tipo de comportamento que causa estranhamento, � preciso imediatamente come�ar a ouvir”, explica.
Al�m disso, Hugo aconselha que os pais devem passar pelas institui��es sociais que os filhos frequentam e fazem parte, n�o como forma de vigil�ncia, mas com car�ter de instru��o e aconselhamento. “Antes de tudo, � necess�rio ser uma pessoa que vai realmente ouvir o filho, para que ele possa desenvolver os pilares essenciais.”
*Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Fernanda Borges