homem na rua
S�O PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Idosos que vivem isolados socialmente, encontrando ou interagindo raramente com amigos e familiares, t�m maior perda do volume cerebral e sintomas de depress�o, quadro que, a longo prazo, aumenta o risco de doen�as neurodegenerativas, como dem�ncia.
Um novo estudo, conduzido com 8.896 idosos no Jap�o sem diagn�stico pr�vio de dem�ncia, indicou que a perda de volume cerebral foi maior naqueles que viviam isolados (67,8% contra 67,3%), assim como as les�es foram em m�dia 0,27% maiores neste grupo.
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Embora sejam valores com uma diferen�a pequena (cerca de 0,75% de varia��o), eles s�o estatisticamente significativos e demonstram uma associa��o clara da solid�o com esses efeitos negativos na diminui��o cerebral, afirmam os autores.
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A intera��o social � importante em todas as fases da vida, mas em indiv�duos mais velhos pode ser imprescind�vel para manter o bem-estar e a qualidade de vida.
Embora seja ainda dif�cil associar a rela��o do isolamento com a atrofia cerebral, o sentimento de solid�o pode levar a efeitos danosos no c�rebro, como a perda de conex�es cerebrais importantes e o aumento das microles�es na massa branca cerebral (composta dos eixos longos dos neur�nios e respons�veis pela conex�o el�trica entre eles).
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Para chegar a essa conclus�o, os cientistas analisaram os exames de resson�ncia magn�tica neurol�gicos de aproximadamente 10 mil idosos inclu�dos na pesquisa JPSC-AD (Colabora��es Japonesas para Estudos Prospectivos em Envelhecimento e Dem�ncia, na sigla em ingl�s), um estudo populacional nacional que busca avaliar os fatores de risco para a doen�a neurodegenerativa avan�ada.
Depois, foram selecionados aqueles sem diagn�stico pr�vio de dem�ncia e estes foram perguntados sobre a frequ�ncia de intera��o social -Quantas vezes voc� tem contato com amigos e familiares que n�o moram na mesma casa que voc� (por exemplo, encontro pessoal ou telefone)?-, com uma op��o de resposta m�ltipla escolha -todos os dias, v�rias vezes na semana, v�rias vezes no m�s e raramente.
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Aproximadamente 6 em cada 10 (57%) eram mulheres, e a idade m�dia era 73 anos.
Cruzando as respostas dos pacientes com os exames de imagem e ajustando para outras vari�veis, como escolaridade, presen�a de comorbidades e outras, eles viram que a propor��o entre o volume cerebral e a caixa intracraniana diminu�a quanto menor a frequ�ncia de intera��o social. Isso significa, na pr�tica, que ocorre a perda de massa cerebral (conex�es) em pessoas que enfrentam o isolamento com mais frequ�ncia do que naquelas que interagem mais socialmente.
Al�m disso, houve uma associa��o positiva entre a presen�a de les�es na massa branca cerebral e a menor frequ�ncia de intera��o social.
Como sintomas de depress�o tamb�m podem afetar o c�rebro, os cientistas analisaram tamb�m se estes eram agravados conforme a quantidade de intera��es e se isso afetava tamb�m o volume cerebral. Em geral, de 15% a 29% das associa��es entre o menor volume cerebral e isolamento tinham como causa principal os sintomas depressivos.
A pesquisa foi a primeira a utilizar uma grande base de dados nacional e apontar associa��o entre o isolamento social e a perda de volume cerebral. De acordo com os autores, houve tamb�m redu��o em algumas �reas cerebrais importantes ligadas aos sentimentos, como as am�gdalas (respons�vel por respostas emocionais relativas ao comportamento social de humanos e outros mam�feros) e o hipocampo (associado com emo��es, motiva��o, atividade hormonal, atividade auton�mica e forma��o de mem�ria).
O lobo temporal e o hipocampo, de acordo com estudos, s�o algumas das primeiras �reas afetadas na doen�a de Alzheimer. A redu��o de conex�o e massa nessas �reas pode, assim, levar a danos associados � perda cognitiva e progress�o de dem�ncia.
O estudo tem algumas limita��es, como o fato de que os indiv�duos que reportaram o menor contato social tinham j� uma maior incid�ncia de comorbidades, como diabetes, hipertens�o e h�bitos de vida pouco saud�veis, que s�o tamb�m fatores de risco para dem�ncia.
Foi preciso, assim, ajustar essas diferen�as para as comorbidades, isolando os efeitos verificados de outros fatores na perda cognitiva. A an�lise final mostra uma associa��o entre a perda de volume cerebral e a baixa frequ�ncia social, indicando, ainda, que recuperar o contato com os familiares pode reverter esse efeito e atenuar os sintomas depressivos associados nos idosos.
Consequ�ncias negativas
Segundo Simone de Paula Pessoa Lima, geriatra da Sa�de no Lar, pesquisas como essa s�o importantes, pois ajudam a comprovar como o isolamento social est� associado a uma s�rie de consequ�ncias negativas para a sa�de, incluindo impactos no bem-estar emocional e na sa�de cognitiva.
“Idosos que n�o possuem est�mulos, tais como atividades intelectuais, sociais e f�sicas podem ter uma maior perda cognitiva. � medida que envelhecemos, acontece uma diminui��o da plasticidade cerebral, que � a capacidade do c�rebro de se adaptar e formar novas conex�es neurais. Ocorre uma modifica��o natural nos processos da cogni��o. Quando associados a fatores externos ou doen�as que prejudicam o c�rebro podem resultar em problemas de mem�ria, dificuldade de concentra��o, diminui��o da velocidade de processamento mental, dentre outros. Por isso � fundamental fazer com que o idoso tenha desafios intelectuais diariamente. Isso faz com que esse processo seja minimizado.”
Simone de Paula Pessoa Lima � geriatra da Sa�de no Lar
A intera��o com outras pessoas, segundo a profissional, oferece in�meros est�mulos que s�o ben�ficos para o c�rebro. Isso inclui participar de atividades sociais, como conversar com amigos, envolver-se em grupos comunit�rios, dedicar-se ao lazer com outras pessoas, ter rela��es pr�ximas, dentre outros.
“� importante ressaltar por�m que essa perda de volume cerebral pode ser causada tamb�m por outros fatores de risco, tais como o estilo de vida ao longo dos anos, sa�de em geral e gen�tica.”
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