C�lulas de cora��o infectadas com Trypanosoma cruzi. A estrutura maior (azul) � o n�cleo da c�lula e as menores s�o os n�cleos das c�lulas do parasita. Em vermelho, o citoesqueleto da c�lula card�aca
Classificada pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) como uma das 17 doen�as tropicais negligenciadas, a Doen�a de Chagas, causada pelo protozo�rio Trypanosoma Cruzi (T.cruzi) ainda tem um grande impacto na Am�rica Latina, onde afeta principalmente popula��es carentes. A conscientiza��o sobre a doen�a � importante, tanto para elevar a suspei��o para o seu diagn�stico como para conscientizar a sociedade de uma doen�a que ainda � um importante problema de sa�de p�blica no Brasil.
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Em 1909, o jovem m�dico e pesquisador brasileiro Carlos Chagas, trabalhando no interior de Minas Gerais, em um ambiente com poucos recursos e com um agu�ado senso cient�fico, descreveu n�o s� o agravo causado aos humanos pelo protozo�rio, como tamb�m todo o ciclo da doen�a e a transmiss�o, tendo como vetor o barbeiro. Seu trabalho jogou luz sob essa doen�a at� ent�o negligenciada dos livros de medicina, voltados para doen�as de pa�ses desenvolvidos, sendo um dos grandes trabalhos da ci�ncia m�dica brasileira do s�culo XX.
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A via cl�ssica de contamina��o � por meio dos barbeiros da fam�lia Triatominiae. “Ao picarem os humanos para se alimentarem, esses barbeiros defecam e eliminam os protozo�rios nas fezes. Os protozo�rios acabam contaminando os humanos ao penetrarem pelas feridas na pele ou mucosas. H� outras formas de transmiss�o, sendo que atualmente a transmiss�o por via oral tem recebido bastante aten��o. Na transmiss�o oral, a contamina��o dos humanos se d� pela ingest�o de alimentos contaminados pelo parasita, como caldo de cana e a�a�. H� ainda vias menos comuns de transmiss�o, como a transfus�o de sangue e a gestacional”, afirma Milton Henriques Guimar�es Junior, cardiologista da Funda��o S�o Francisco Xavier.
O m�dico explica que a doen�a tem a fase aguda e a cr�nica. Na fase aguda, que dura de tr�s a oito semanas, o quadro cl�nico � vari�vel. A maioria dos pacientes da fase aguda tem a forma assintom�tica, mas existe uma minoria de pacientes que desenvolvem um quadro febril, com desenvolvimento de g�nglios (linfonodos) e crescimento do ba�o e do f�gado. Na fase cr�nica, a maior parte dos pacientes vai seguir de forma assintom�tica e sem acometimento de �rg�os ou sistemas. Essa fase � detectada por exames sorol�gicos e � chamada de fase indeterminada, podendo durar d�cadas.
� estimado que 70% dos pacientes permane�am na fase assintom�tica. Cerca de 30% dos pacientes v�o progredir para o acometimento card�aco e/ou do aparelho digestivo. Para essa parcela dos pacientes, a doen�a tem ent�o consequ�ncias s�rias, com desenvolvimento de insufici�ncia card�aca, arritmias card�acas graves que podem levar a morte s�bita, dificuldade de degluti��o por problemas de motilidade no es�fago e constipa��o intestinal grave.
Silenciosa e silenciada
A enfermidade chegou a ser erradicada no Brasil quando o pa�s recebeu, em 2006, um certificado de elimina��o do Trypanosoma Cruzi. Mas, em meados de 2018, ela reapareceu. Dois anos depois, em 2020, foram confirmados 146 casos de Doen�a de Chagas Aguda (DCA), com uma letalidade de 2%, sendo que todos os �bitos ocorreram no estado do Par�, muitos por contamina��o via oral.
A comunidade m�dico-cient�fica considera essa enfermidade silenciosa porque a maioria das pessoas infectadas n�o apresenta sintomas ou tem manifesta��es muito leves, podendo passar d�cadas at� ser diagnosticada. � tamb�m silenciada, pois quando comparada � doen�as que afetam popula��es de pa�ses desenvolvidos, recebe menos aten��o da comunidade cient�fica mundial e menos investimentos em pesquisa, o que faz com que o desenvolvimento de novos tratamentos seja lento. “Nesse sentido, � importante destacar o papel de v�rios centros de pesquisa no Brasil, que contribuem de maneira importante para melhor entendimento e enfrentamento dessa enfermidade”, ressalta o especialista.
Transmiss�o
No ano passado, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alertou para a mudan�a de perfil da doen�a nos �ltimos anos no pa�s. Segundo a SBC, 70% dos casos aconteceram pela ingest�o de alimentos contaminados e h� relatos da doen�a causada pelo consumo de a�a� e caldo de cana.
Testes realizados por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas e publicados na revista Advances in Food na Nutrition Research mostraram que o protozo�rio causador da Doen�a de Chagas � capaz de sobreviver na polpa da fruta do a�a� tanto em temperatura ambiente como a 4ºC, temperatura m�dia de uma geladeira, e at� – 20ºC, no a�a� congelado.
Por exemplo, a cidade de Bel�m, no Estado do Par�, registrou, somente no ano passado, 11 casos suspeitos de Doen�a de Chagas causados pela ingest�o de a�a�. A cidade � a que registra maior n�mero de casos em todo o pa�s, segundo a Universidade do Estado do Par� (UEPA).
“A contamina��o acontece quando h� falta de higiene. Por isso, para prevenir a transmiss�o por via oral � muito importante se atentar para a aplica��o de boas pr�ticas de coleta, higieniza��o e processamento do fruto”, completa o cardiologista.
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