A n�o ades�o aos antirretrovirais, al�m de tornar a carga viral detect�vel, permite que o v�rus seja transmitido, alertam os especialistas
Durante o tratamento com antirretrovirais, acreditava-se que o HIV ficava adormecido no corpo humano, em reservat�rios de c�lulas. Em estudos independentes publicados na edi��o desta quarta-feira (13/09) da revista Cell Host & Microbe, cientistas mostram que n�o. Segundo eles, esses v�rus produzem, espontaneamente, RNA e prote�nas virais que podem afetar respostas imunol�gicas espec�ficas dos pacientes. A descoberta, acreditam, pode ser o caminho para o desenvolvimento de novas terapias e at� de abordagens curativas.
Estudos anteriores mostraram que, quando esses reservat�rios de HIV adormecidos s�o reativados em laborat�rio, eles passam a produzir RNA e prote�nas virais. No entanto, ainda n�o era claro se isso tamb�m acontecia em pessoas infectadas pelo v�rus. "Quer�amos perceber se esse fen�meno � real e, em caso afirmativo, que partes do v�rus est�o sendo expressas e se h� impacto no sistema imunol�gico. Mesmo nas pessoas que s�o tratadas, o HIV continua tendo alguma atividade e continua a interagir com o sistema imunit�rio. Temos que entender se essas intera��es cont�nuas t�m consequ�ncias clinicamente relevantes", afirma, em nota, Daniel Kaufmann, pesquisador da Universidade de Montreal, no Canad�, e coautor de um dos estudos.
Para investigar a din�mica, Kaufmann e colegas colheram amostras de sangue de 18 pessoas com HIV e submetidas a tratamento com antirretrovirais durante mais de tr�s anos. O material foi analisado a partir da t�cnica de citometria de fluxo de RNA, com o objetivo de identificar e classificar as c�lulas T CD4 , que s�o as atacadas pelo HIV. Depois, a equipe examinou se essas estruturas estavam infectadas com o v�rus e produzindo o RNA do HIV ou suas prote�nas.
Dos 18 pacientes, 14 (77%) tinham reservat�rios de HIV que produziam espontaneamente RNA viral. Em sete (38%), os reservat�rios virais tamb�m produziram prote�nas, incluindo a p24, um componente do inv�lucro do v�rus. Kaufmann explica que a maior parte dos v�rus que permanecem no corpo durante o tratamento com antirretrovirais � defeituosa, n�o consegue realmente se multiplicar. "Mas descobrimos que esses v�rus defeituosos ainda podem produzir RNA viral e, �s vezes, prote�nas", afirma. Esse comportamento, explicam os autores, � suficiente para estimular uma resposta imunol�gica.
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Os cientistas tamb�m notaram que as respostas imunit�rias espec�ficas do HIV mais fortes foram associadas a reservat�rios de v�rus mais ativos. Para Kauffman, as informa��es sugerem que o RNA e as prote�nas produzidas por esses reservat�rios podem ser impulsionadores de inflama��o. "Isso pode ser importante porque um subconjunto de pessoas tratadas com sucesso com antirretroviral ainda tem consequ�ncias negativas de viver com a infec��o, por exemplo, doen�a card�aca acelerada, fragilidade e osteoporose prematura", pontua.
Cura
No outro estudo sobre o tema, cientistas dos Estados Unidos descrevem que um subconjunto de c�lulas T CD4 expressa espontaneamente RNA viral durante o per�odo de tratamento com antirretrovirais. Segundo a pesquisa, foram observadas menores quantidades de prote�nas em pacientes que enfrentavam a fase de infec��o aguda. Por�m, as respostas imunol�gicas eram semelhantes em rela��o �queles no est�gio de infec��o cr�nica.
"Provavelmente, as estrat�gias de remiss�o do HIV ter�o que visar a produ��o de prote�nas virais durante os tratamentos (...) para controlar a recupera��o do v�rus ap�s a interrup��o da terapia", indica, em nota, Lydie Trautmann, pesquisadora da Universidade Oregon de Sa�de e Ci�ncia, nos Estados Unidos.
Victor Bertollo, infectologista do Hospital Anchieta, em Bras�lia, concorda que essas descobertas podem ser o in�cio de uma caminhada rumo a novas terap�uticas. "Muito se estuda sobre esses reservat�rios porque a gente precisa de alguma forma, atingi-los para, futuramente, conseguir promover a cura do v�rus do HIV. Estudos como esse, sobre atividade do v�rus no reservat�rio, podem ser uma primeira etapa para alguma proposi��o eventual de tratamento de fato curativo, que seria a elimina��o de todo esse reservat�rio do organismo", afirma.
Werciley Vieira J�nior, infectologista do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia, concorda. "Os tratamentos podem ser afetados com esses resultados. A gente pode descobrir rem�dios que penetrem no santu�rio e consigam inibir essa m�nima replica��o, o que torna a abordagem mais efetiva para eliminar o v�rus", ilustra.
Palavra de especialista: Sob controle
"Com o tratamento antirretroviral, a gente consegue, hoje, suprimir o v�rus circulante no sangue. Os indiv�duos que fazem esse tratamento ficam com a carga indetect�vel no organismo. Isso permite que n�o tenham complica��es decorrentes do HIV e que atinjam uma expectativa de vida similar � da popula��o geral, al�m de fazer com que n�o transmitam o v�rus. Temos dados bastante robustos de que indiv�duos com carga viral indetect�vel n�o transmitem. Por�m, se essas pessoas param com os medicamentos, esses reservat�rios permitem que o v�rus passe a replicar novamente e, a�, a pessoa pode voltar a desenvolver a Aids propriamente dita."
Victor Bertollo, infectologista do Hospital Anchieta
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