médico de alto ângulo verificando a pressão arterial do paciente

Dados do Previne Brasil mostram que mais de 80% dos munic�pios ainda n�o conseguem aferir a press�o arterial de 50% dos seus hipertensos, a cada seis meses

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Um em cada quatro brasileiros na faixa et�ria entre 30 e 79 anos tem hipertens�o, mostra o primeiro relat�rio global sobre a doen�a divulgado na �ltima ter�a (19/09) pela Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), durante a Assembleia-Geral da ONU, em Nova York (EUA).

S�o 50,7 milh�es de pessoas vivendo com press�o alta. E, para que o pa�s atinja a marca de 50% dos casos controlados, seria preciso que mais 8,4 milh�es de pessoas recebessem um tratamento eficaz, segundo o relat�rio.

Os dados da OMS convergem com os resultados do Covitel 2023 (Inqu�rito Telef�nico de Fatores de Risco para Doen�as Cr�nicas n�o Transmiss�veis em Tempos de Pandemia), que tamb�m indicou o avan�o da doen�a no pa�s nos �ltimos anos. O inqu�rito mostrou ainda uma maior preval�ncia entre o sexo feminino, o que diferencia o pa�s da tend�ncia global de mais homens afetados.

Para a antrop�loga Soraya Resende Fleischer, professora da Universidade de Bras�lia (UnB), a concentra��o maior entre as mulheres se relaciona a m�ltiplos aspectos da vida social, al�m dos fatores biom�dicos. O agravamento dos quadros de hipertens�o, segundo a pesquisadora, tem rela��o direta com as maiores taxas de desemprego entre mulheres, principalmente as negras.


A baixa qualidade dos transportes, a aus�ncia de escola integral para os filhos, o pre�o dos alimentos e a exposi��o � viol�ncia urbana e de g�nero tamb�m influenciam. Fleischer enfatiza a import�ncia de ir al�m da prescri��o de medicamentos e mudan�as de h�bitos.

Para ela, � essencial conhecer tamb�m os arranjos dom�sticos e o contexto de quem vive com hipertens�o, o que inclui entender quem compra a comida e cozinha nas casas, bem como o papel dos alimentos e do exerc�cio na hist�ria daquela pessoa.

 

O recente relat�rio da OMS mostra que o n�mero de adultos hipertensos no mundo dobrou entre 1990 e 2019, passando de 650 milh�es para 1,3 bilh�o. Globalmente, aumentar a taxa de pessoas com a doen�a sob controle para 50% evitaria 76 milh�es de mortes at� 2050, ainda de acordo com o documento.

Entre as dez maiores causas de mortalidade no mundo, cinco est�o associadas � hipertens�o n�o controlada: doen�a isqu�mica coronariana, acidente vascular cerebral (AVC), doen�a pulmonar obstrutiva cr�nica, diabetes e doen�as renais.

FATORES DE RISCO

Al�m disso, a hipertens�o aumenta o risco de descolamento de retina, infarto agudo do mioc�rdio e perdas de vis�o e audi��o. O crescimento das taxas de sobrepeso e da obesidade s�o apontados como alguns dos fatores de risco para a alta preval�ncia da hipertens�o. Mais da metade da popula��o brasileira (56,8%) estava com excesso de peso no primeiro trimestre deste ano, uma alta de quase 10% em rela��o a igual per�odo de 2022, segundo dados do Covitel 2023.

 

Para Gabriela de Paula Arrifano, biom�dica e professora da UFPA (Universidade Federal do Par�), o processo de transi��o nutricional e econ�mica das �ltimas d�cadas pode ter rela��o direta com o aumento de casos de hipertens�o, mas contaminantes ambientais tamb�m s�o um importante fator: "Metais pesados e pesticidas est�o relacionados ao desenvolvimento de doen�as cardiovasculares e altos n�veis de estresse", explica a pesquisadora.

A subnotifica��o dos casos ainda � um problema a ser enfrentado pelos profissionais de sa�de. Arrifano pondera que o acesso m�dico nas regi�es mais pobres do pa�s � muito dif�cil em compara��o com grandes centros urbanos.

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Dados do Previne Brasil, programa criado na gest�o de Jair Bolsonaro (PL) e que mudou a forma de financiamento da aten��o prim�ria, mostram que mais de 80% dos munic�pios ainda n�o conseguem aferir a press�o arterial de 50% dos seus hipertensos, a cada seis meses.

A hipertens�o arterial � frequentemente chamada de "assassina silenciosa" porque, muitas vezes, n�o apresenta sintomas percept�veis. Segundo o relat�rio da OMS, a doen�a j� causa mais de 10 milh�es de mortes por ano.

O diagn�stico e o tratamento precoce e eficaz levam a melhores desfechos na sa�de da popula��o afetada. O relat�rio estima que, entre adultos de 30 a 79 anos no mundo, somente 54% tenham recebido o diagn�stico, 42% sejam tratados e 21% tenham a hipertens�o controlada.