Foto de uma jovem alegre vestida de pijama est� na cama em casa sob um cobertor dormindo.
Quando se pensa em sonambulismo, � muito comum vir � mente a imagem de uma crian�a andando pela casa de pijaminha. Entretanto, essa � uma condi��o cl�nica tamb�m comum entre os adultos. Cerca de 30% referem ter apresentado pelo menos um epis�dio de sonambulismo na vida, e 3% a 4% destes relatam pelo menos um epis�dio no �ltimo ano. � mais comum entre aqueles com hist�ria familiar dessa condi��o e naqueles que t�m quadros psiqui�tricos como ansiedade, depress�o e transtorno obsessivo-compulsivo . Entre as crian�as, a frequ�ncia � maior e os estudos apontam que uma em cada cinco apresentar� alguma vez essa condi��o.
O son�mbulo mant�m os olhos abertos, n�o responde aos est�mulos do meio e, muitas vezes, realiza tarefas complexas como se vestir, arrumar a cozinha e at� sair de carro. No outro dia, o paciente n�o se recorda do que fez e, quando acordado no meio do epis�dio, mostra-se confuso. Metade deles apresenta sonol�ncia diurna no dia seguinte, um sinal de que o sono n�o foi reparador.
H� algum tempo ainda se acreditava que o sonambulismo era um fen�meno de sonhar acordado, mas n�o � bem isso o que acontece. O sonambulismo inicia-se na fase do sono n�o associada aos sonhos. � uma forma de estar acordado pela metade. A parte do c�rebro respons�vel pelos movimentos est� acordada, mas aquela associada � consci�ncia e a processos cognitivos ainda dorme. Adaptar a casa para evitar acidentes � importante, e o tratamento medicamentoso � indicado especialmente para as pessoas que t�m maior risco de acidentes.
Os cuidados voltados ao ambiente em que o son�mbulo dorme n�o devem ser vistos como exagero. O sonambulismo provoca acidentes em cerca de metade daqueles que sofrem dessa condi��o. O curioso � que at� 80% dos acidentados n�o acordam durante esses epis�dios, como se estivessem em um estado de analgesia. Sentem as dores no corpo s� no outro dia. H� descri��o de queda de uma altura de tr�s metros sem despertar!
Existe um mito de que n�o devemos acordar um son�mbulo, pois ele pode nos agredir. N�o � por a�. Na verdade, n�o precisamos acordar o son�mbulo. Vamos conversando calmamente e sugerindo que ele volte para a cama e, em casos de risco iminente de acidente, a� sim devemos acord�-lo. De uma forma geral, no sonambulismo, no pesadelo, no terror noturno, n�o precisamos acordar a pessoa, j� que ao despertar ela ter� muito mais chances de se lembrar do epis�dio, que frequentemente gera estresse ps�quico.
Se o son�mbulo demonstra sinais de medo intenso devemos pensar em terror noturno, uma variante do sonambulismo, e ambos podem ocorrer na mesma pessoa. Por outro lado, se percebemos que a pessoa est� atuando no seu pr�prio sonho, como se estivesse lutando com algu�m, por exemplo, a� pensamos no transtorno do sono REM, condi��o mais frequente em adultos de meia idade ou mais.
No pesadelo, a pessoa n�o faz essa atua��o, pois no sono REM, que � quando acontece a maioria dos sonhos, o sistema motor est� desativado para que a pessoa n�o encene seu sonho ou pesadelo. No caso do transtorno do sono REM, o racioc�nio de acordar ou n�o a pessoa n�o � diferente, j� que em situa��es de risco, devemos acordar o paciente. Aqui o risco recai tamb�m sobre outrem que dorme na mesma cama. Medica��es podem ser indicadas e, muitas vezes, h� a recomenda��o que os casais durmam em camas separadas.
Por �ltimo, chamo a aten��o para alguns tipos de crises epil�pticas durante o sono que podem parecer sonambulismo. S�o bem menos comuns que o sonambulismo e a pessoa pode iniciar movimentos estereotipados ainda na cama, como o de pedalar deitado ou outros padr�es de movimentos repetitivos. Aqui o diagn�stico requer a experi�ncia cl�nica de um neurologista e, por vezes, � necess�ria a monitoriza��o do eletroencefalograma durante a noite.
*Ricardo Afonso Teixeira � doutor em neurologia pela Unicamp, professor do curso de medicina do Unieuro e neurologista do Instituto do C�rebro de Bras�lia
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