Julia Moi�li | Ag�ncia FAPESP

mulher domingo com aparelho que ajuda a respirar

Em estudo com 46 volunt�rios, pesquisadores da Unifesp observaram que nos postadores de dist�rbio n�o tratados h� uma acelera��o do processo de encurtamentno dos tel�menos - biomarcadores do envelhecimento celular, entre os que utilizam aparelho CPAP, o dano � atenuado

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Pessoas com apneia obstrutiva do sono vivenciam repetidas pausas respirat�rias ao longo da noite, que podem durar alguns segundos ou at� mesmo minutos e s�o seguidas por despertares que prejudicam a qualidade do descanso. Se n�o tratado, o dist�rbio pode, com o passar dos anos, causar problemas de sa�de, como aumento de risco cardiovascular, hipertens�o, insufici�ncia card�aca, diabetes e comprometimento da mem�ria e da concentra��o.

Pesquisa feita na Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp) revelou que a apneia tamb�m promove a diminui��o dos tel�meros – estruturas presentes nas extremidades dos cromossomos e que t�m o papel de manter a integridade do material gen�tico existente no n�cleo celular. Os tel�meros naturalmente v�o encurtando � medida que as c�lulas se dividem para regenerar os tecidos e �rg�os do corpo. E quando ficam demasiadamente pequenos, a c�lula envelhecida para de se multiplicar. Na medida em que acelera esse processo de encurtamento dos tel�meros, portanto, a apneia promove o envelhecimento precoce das c�lulas.

A boa not�cia dos estudos conduzidos na Unifesp � que o problema pode ser amenizado com uso do CPAP (sigla em ingl�s para press�o positiva cont�nua em vias a�reas) – aparelho acoplado a uma m�scara que lan�a ar no nariz durante o sono e regulariza a respira��o. Os resultados mais recentes foram divulgados na revista Sleep.
 
Com apoio da Fapesp, os pesquisadores acompanharam ao longo de seis meses 46 pacientes homens, na faixa et�ria entre 50 e 60 anos, com apneia do sono moderada ou grave. Os volunt�rios foram divididos em dois grupos e tratados com CPAP ou um aparelho semelhante, por�m, com vazamentos de ar que n�o permitem o efeito terap�utico e funcionam como placebo.

Nas visitas mensais os cientistas checaram a ades�o dos pacientes ao aparelho, terapia considerada complexa e inc�moda, e coletaram sangue para mensurar o comprimento dos tel�meros – an�lise realizada em tr�s ocasi�es – no in�cio do experimento, ap�s um per�odo de tr�s meses e ao final da interven��o. Al�m disso, foram analisados no sangue marcadores inflamat�rios e de 
estresse oxidativo.
“O encurtamento dos tel�meros � inevit�vel porque est� relacionado � inflama��o e ao estresse oxidativo do envelhecimento, mas descobrimos que pessoas com apneia apresentam uma acelera��o desse processo”, explica Priscila Farias Tempaku, pesquisadora na �rea de medicina e biologia do sono do Departamento de Psicobiologia da Unifesp e autora do estudo. “Observamos ainda que, tanto aos tr�s quanto aos seis meses, o uso do CPAP atenuava essa acelera��o.”
 
Os pesquisadores investigaram ainda os mecanismos moleculares que envolvem a associa��o entre apneia e tel�meros. Um desses mediadores, o marcador inflamat�rio TNF-α, mostra que provavelmente a via molecular implicada � a inflama��o: “Nos pacientes que usaram o placebo, a mol�cula se mostrou um fator influente no comprimento dos tel�meros; j� naqueles que usavam o CPAP n�o havia essa associa��o, mostrando que, al�m de sua import�ncia j� conhecida na redu��o do risco cardiovascular e metab�lico, o aparelho tamb�m diminui a inflama��o e, consequentemente, atenua o encurtamento do tel�mero”, explica Tempaku.
 
“Os resultados deixam claro o papel do sono como fator protetor para o envelhecimento ou de risco para quem apresenta alguma altera��o”, avalia Sergio Tufik, diretor do Instituto do Sono da Unifesp e coordenador do estudo. “Esse � um �timo incentivo, j� que a maioria das pessoas resiste a usar o CPAP.”

Episono

Pioneiro nos estudos sobre o sono no Brasil e no mundo, Tufik � o criador do projeto Estudo Epidemiol�gico do Sono (Episono), feito a cada d�cada desde 1986 para tra�ar um panorama completo do sono dos paulistanos sob a �tica da sa�de p�blica. Al�m de estabelecer a preval�ncia de problemas como ronco, sonambulismo e ins�nia, os trabalhos j� renderam a publica��o de mais de 70 artigos em revistas cient�ficas.

A edi��o de 2015 do Episono, que avaliou o tamanho do efeito do encurtamento dos tel�meros num per�odo de dez anos, mostrou que ter apneia grave equivale a envelhecer dez anos. Essa informa��o, somada �s descobertas do trabalho atual, indicam o pr�ximo caminho dos pesquisadores: trazer ainda mais aten��o para a rela��o entre sono e envelhecimento. “Dormir mal envelhece, est� associado � mortalidade tanto quanto outras doen�as e a apneia ocorre em 30% das pessoas”, afirma Tufik. “Mas a popula��o est� desassistida, j� que nem o sistema p�blico nem os conv�nios oferecem CPAP – isso precisa mudar”, alerta o pesquisador.

A preval�ncia da apneia vem aumentando paralelamente ao avan�o da obesidade, uma vez que as doen�as est�o frequentemente associadas. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bari�trica e Metab�lica indicam que 70% dos obesos sofrem com o dist�rbio do sono, sendo que o �ndice chega a 80% no caso de obesidade m�rbida.

Os principais sintomas da apneia obstrutiva do sono s�o o ronco, a fadiga diurna e a diminui��o da capacidade de concentra��o – fatores que comprometem a qualidade de vida e podem ser incapacitantes. O diagn�stico requer um exame conhecido como polissonografia e o tratamento, al�m do uso de CPAP, costuma envolver mudan�a no estilo de vida, incluindo perda de peso, redu��o no consumo de bebida alco�lica � noite e de rem�dios para dormir.

O artigo Effect of Obstructive Sleep Apnea and CPAP on Telomere Length and its Associated Mechanisms pode ser lido em: 
https://academic.oup.com/sleep/article/46/Supplement_1/A207/7181654.