MG: 1 a cada 5 alunos têm pelo menos dois anos de atraso no aprendizado
Minas Gerais ocupou o terceiro lugar em índices de aprendizado no ranking nacional, mas enfrenta alta taxa de atraso escolar
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Um a cada 5 estudantes do ensino médio tem pelo menos dois anos de atraso no aprendizado na rede estadual de Minas Gerais, segundo o Censo Escolar de 2024. Em evento realizado nesta terça-feira (14/10), o secretário de educação do Estado, Rossieli Soares, afirmou que se não houver um processo de recomposição, os alunos continuarão com o déficit.
No ano passado, Minas ocupou o terceiro lugar no ranking nacional de crianças alfabetizadas. No entanto, o atraso escolar é significativo, conforme dados do último Censo, especialmente nos últimos anos escolares. Em 2024, somente 5% dos estudantes tiveram proficiência adequada no terceiro ano do ensino médio em matemática.
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"A pior geração do terceiro ano do ensino médio está aqui em 2025, porque é a turma que cursou o sétimo ano durante a pandemia. O déficit é tão elevado, que os alunos do quinto ano do ensino fundamental já não conseguem acompanhar o sétimo ano. Se não olhar o conteúdo agora, o aluno não conseguirá acompanhar quando passar para séries futuras", comenta Rossieli.
O quadro nos anos finais do ensino médio é preocupante, sobretudo em matemática. Na rede pública mineira, incluindo as redes municipal e estadual, Minas apresentou uma queda na alfabetização durante a pandemia, passando de 63,7% em 2019 para 43,2% em 2021. A recuperação apareceu em 2023, quando os índices ficaram em 59,8%, entretanto, aquém do período pré-pandemia.
De acordo com o secretário, ainda é necessário recuperar os níveis de aprendizagem anteriores à pandemia, apesar de já ter havido melhora e existir outros fatores que comprometem o ensino no estado e no restante do país.
“O quadro é muito desafiador na educação brasileira. Em Minas Gerais, obviamente, não tá longe disso. E teve uma situação ainda mais agravada com a pandemia, por exemplo, que trouxe mais dificuldades ainda no processo de aprendizagem. Os alunos que estão no terceiro ano são aqueles que estavam no Ensino Fundamental [durante a pandemia], que trazem uma necessidade de recomposição de aprendizagem ainda mais elevada neste momento”, diz.
Baixo desempenho em matemática
Em paralelo aos dados apresentados pela Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG), o Anuário Brasileiro da Educação, publicado em setembro, mostra que apenas 10,5% dos alunos da 3ª série apresentam aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e em Matemática em Minas Gerais. Os alunos do 9º ano, o último ano do ensino fundamental, também apresentam baixo desempenho, com apenas 19,5% com aprendizagem adequada nas mesmas disciplinas.
O documento, elaborado pelo Movimento Juntos Pela Educação, também aponta que, a cada 100 crianças em Minas, 96 ingressam na pré-escola, nas redes municipal, estadual e privada, mas só concluem o ensino médio 71 alunos em 100.
Abandono escolar
Segundo dados de 2023 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as taxas de reprovação e de abandono dos estudos em Minas são 2% mais altas do que a média nacional. Isso significa que 35 mil jovens mineiros abandonam a escola anualmente.
Para Soares, a reprovação sistemática e atraso escolar estão diretamente associadas aos números. Ele acredita que a reprovação dos alunos pode afastá-los ainda mais e causar a evasão escolar. A taxa de distorção de idade e série é alta no primeiro ano do ensino médio, mas cai ao longo dos anos, porque os alunos abandonam os estudos conforme avançam nas séries.
Ao todo, 73 mil adolescentes de 15 a 17 anos ficaram fora da escola em Minas Gerais em 2024. Pesquisas feitas pela SEE/MG apontam que cada jovem que abandona o ensino médio, deixa de ganhar R$159 mil ao longo da vida produtiva, o que representa cerca de R$3 mil de renda a menos por ano. Em Minas, esses jovens deixam de ganhar ao longo da vida R$ 11,6 bilhões.
O estado apresenta 36% de estudantes com aprendizagem adequada, enquanto 91% são aprovados e, por isso, os níveis de reprovação não apresentam relação direta com o nível de aprendizagem.
Para melhorar os índices, a SEE/MG realiza a busca ativa, estratégia que integra o calendário da rede estadual e reúne atividades como mutirões de visitas às famílias, passeatas, mostras escolares, oficinas, apresentações culturais e rodas de conversa. Todas as Superintendências Regionais de Ensino (SREs) participam da mobilização, com o envolvimento direto de gestores, professores e equipes pedagógicas.
“A primeira coisa que a gente fez foi a ‘busca ativa’. A escola tá vendo que o aluno tem chance ou já abandonou? Vamos atrás desse aluno. Vamos, literalmente, ligar. Vamos na casa. Teve uma série de mobilizações feitas pelas nossas escolas, inclusive com monitoramento para trazê-los de volta”, disse Soares.
Apesar de focar nos estudantes infrequentes, a proposta é também assistir os alunos que não faltam, mas apresentam algum tipo de desinteresse nas atividades escolares. De acordo com a pasta, é comum que alguns estudantes, sobretudo os que cursam o ensino médio, parem de estudar ou deixem de frequentar a escola por questões financeiras – muitas vezes procuram um emprego e abandonam o estudo. Esses alunos também são observados com atenção, pois têm necessidade de continuar o ensino pós ensino médio, para que não ocupem apenas vagas de subemprego.
Plano de recomposição de Aprendizagem (PRA)
Para driblar esses obstáculos na educação, SEE/MG tem o Plano de recomposição de Aprendizagens (PRA), que tenta reduzir a defasagem do ensino e de aprendizagens com a elaboração de estratégias de ensino com foco na recomposição das aprendizagens por meio das Habilidades da BNCC e do Currículo Referência de MG.
O PRA faz o acompanhamento e o monitoramento na gestão de sala de aula, considerando o diagnóstico de cada turma e de cada estudante. O plano também prevê a continuidade da implementação do Currículo Referência de Minas Gerais na realidade da sala de aula, por meio de ações práticas do dia a dia, a partir das orientações feitas por professores responsáveis por realizarem visitas às escolas, considerando as avaliações sistêmicas, internas e externas, e também intervenções nas escolas.
“O plano de recomposição da aprendizagem talvez tenha sido uma das coisas mais importantes, porque a gente parou e disse: ‘Olha, o aluno tá no terceiro ano do ensino médio, mas tem esses déficit de aprendizagem’. Então, a partir desse diagnóstico, os materiais impressos foram pensados a partir de quais as habilidades e conhecimentos que o aluno não teve, que precisam ser garantidos a todos os nossos estudantes”, explica Soares.
O programa também conta com uma equipe que visita as escolas prioritárias – com índices piores do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) – semanalmente. O foco é reduzir lacunas acumuladas nos últimos anos e elevar o desempenho da rede. O protocolo do PRA disponibiliza materiais próprios para apoiar a aplicação, acompanhamento contínuo nas escolas e atividades com metodologias específicas para os alunos com maior defasagem.
Avaliação do Saeb
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2025 ocorrerá entre os dias 20 e 31 de outubro, com a aplicação de testes e questionários impressos em todo o país. Os testes são aplicados a cada dois anos na rede pública e em uma amostra da rede privada e reflete os níveis de aprendizagem demonstrados pelos estudantes avaliados, explicando esses resultados a partir de uma série de informações contextuais.
A pasta faz um apelo para que haja colaboração integrada para que os alunos consigam realizar as provas da melhor forma possível. Isso porque, é necessário que 80% dos alunos de cada escola participem da avaliação. Caso o estado obtenha um bom resultado, o governo federal pode bonificar em até R$ 600 milhões a pasta da educação, através do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
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“É muito importante que todas as famílias, todas as escolas, todos os profissionais da educação, todas as nossas crianças e nossos adolescentes estejam mobilizados para fazer essa avaliação. Primeiro, porque é um retrato de Minas Gerais. E saber sempre o nível que a gente está, como que a gente pode avançar, de como que a gente pode melhorar cada vez mais”, diz o secretário.
As provas ocorrem em um período de duas semanas, agendadas em cada uma das escolas. É um dia de prova para cada turma. A depender do tamanho da escola, pode ocorrer em dias diferentes em turmas diferentes.