Próximo ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, lembrado nesta sexta-feira (29/8), um alerta chama atenção: depois de 18 anos em queda, o número de adultos fumantes no Brasil cresceu 25% entre 2023 e 2024. Divulgados recentemente pelo Ministério da Saúde, os dados também apontam aumento no número de usuários de cigarros eletrônicos. No último ano, 2,6% dos adultos das capitais usavam o dispositivo diariamente ou ocasionalmente. Em 2023, esse percentual era de 2,1%.

O artigo "A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta!", publicado em 2025 na Revista Brasileira de Cancerologia, revelou que a cada R$ 1 que a indústria do tabaco lucra, o Brasil gasta 2,3 vezes o valor diretamente no tratamento de doenças relacionadas ao tabaco, e 5,1 vezes com o custo total (direto e indireto) dessas doenças.

Risco de câncer

Para a oncologista clínica Daiana Ferraz, que integra a equipe da Cetus Oncologia - clínica especializada em tratamentos oncológicos com unidades em Belo Horizonte, Betim e Contagem – o cenário é preocupante e escancara ainda mais a necessidade de ações de conscientização popular quanto aos riscos do tabagismo. “No Brasil, mais de 174 mil pessoas morrem a cada ano por doenças causadas pelo tabaco, sendo 55 mil por câncer. Já no mundo, são oito milhões de mortes anuais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)”.

Ainda de acordo com a médica, entre os cânceres mais associados ao tabaco, está o de pulmão, o segundo mais comum após o de mama, e o que mais mata, tanto homens quanto mulheres, especialmente quando diagnosticado tardiamente. “Ele se desenvolve a partir de mutações genéticas adquiridas nas células do epitélio brônquico, geralmente por agentes carcinógenos, entre eles o tabaco.”

Mas engana-se quem pensa que a doença se instala de forma imediata. Daiana explica que a exposição crônica às substâncias do cigarro, por anos, causa lesões pré-malignas nas estruturas pulmonares, seguidas de mutações acumuladas com proliferação descontrolada. “Esse cenário contribui para a formação de um tumor invasivo que pode se disseminar para outros órgãos, em um processo conhecido como metástase”. O tipo mais comum da neoplasia é o adenocarcinoma, seguido pelo carcinoma escamoso e o carcinoma de pequenas células (mais agressivo).

Como tratar?

A boa notícia, conforme a oncologista, é que os tratamentos têm avançado bastante nos últimos 10 anos. Deles fazem parte desde as cirurgias em estágios iniciais, às terapia-alvo e imunoterapia. As chances de cura são altas – entre 70 e 80% - se o diagnóstico for precoce. “Para casos mais avançados, o prognóstico é reservado, contudo as terapias-alvo e imunoterapia prolongam a sobrevida do paciente e melhoram a qualidade de vida.”

Para aumentar as chances de um diagnóstico com a doença ainda em fase inicial, Daiana recomenda o rastreamento com tomografia de baixa dose, como prevenção secundária. O exame é indicado para pessoas entre 50 e 80 anos, especialmente as que fumam 20 ou mais maços de cigarro por ano ou pararam de fumar nos últimos 15 anos.

Melhor opção é parar de fumar

Porém, Daiana enfatiza que a melhor opção é sempre parar de fumar. “Quem deseja interromper o vício, mas não consegue fazer isso de forma autônoma, deve procurar a unidade de saúde mais próxima de casa ou do trabalho. O tratamento consiste em encontros individuais ou em grupo com médico e equipe. Durante esse caminho, será avaliado o grau de dependência do paciente em relação ao cigarro e a partir daí a necessidade de um plano terapêutico individual, de modo cognitivo-comportamental e medicamentoso, se necessário”.

O mais importante, segundo a especialista, é que, independentemente do tempo de vício/consumo, cessar o tabagismo trará benefícios indiscutíveis para o funcionamento pulmonar. Ela lista alguns deles, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer:

  • Basta que o organismo fique 20 minutos sem tabaco para que a pressão sanguínea e a pulsação voltem ao normal
  • Após duas horas, já não haverá mais nicotina circulando no sangue
  • Passadas 12 a 24h, os pulmões já funcionam melhor
  • A partir de um ano sem cigarro, o risco de desenvolver doença coronariana cai pela metade em relação a um fumante
  • Já em 10 anos, as chances de diagnóstico de câncer de pulmão também caem 50%

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