
Uma mir�ade de temas – combate � pobreza, mudan�as clim�ticas, sa�de, respeito � Constitui��o Federal, pandemia, vacina��o, sal�rio m�nimo, viol�ncia contra a mulher, infraestrutura – foram lan�ados num rold�o de narrativas. Em alguns momentos, foi constrangedora a exibi��o, ao vivo e a cores, das narrativas correntes na bolha do Brasil paralelo, no principal e �ltimo evento da campanha presidencial. “Alt-right” na veia, de fazer inveja a Donald Trump.
De todo o cen�rio do espet�culo, o mais estridente foi a reiterada exorta��o de Bolsonaro ao lema do movimento fascista A��o Integralista Brasileira (AIB), criado na d�cada de 1930. Em dez segundos adicionais que recebeu da modera��o, levantou as m�os para o alto e bradou mirando o teto do est�dio: "Deus, p�tria, fam�lia e liberdade. Obrigado, meu Deus, por esse momento!".
S�o conceitos perigosamente naturalizados pelo bolsonarismo, sem que as pessoas fa�am liga��es dos perigos e consequ�ncias desta ideologia na hist�ria do mundo e tamb�m liga��es desta ideologia com a viol�ncia pol�tica crescente no Brasil. Ganhe quem ganhar, o Brasil precisar� passar por processo de esclarecimento semelhante � “desnazifica��o”, conduzida na Alemanha ap�s a Segunda Guerra Mundial. Obviamente, dif�cil ocorrer a depender do resultado deste domingo.
Bolsonaro abriu o mon�logo de ataques do debate – em princ�pio nervoso, mas foi se recompondo ao longo do teatro de guerra, sem efetivamente conseguir impor as suas pautas. Logo de partida, Bolsonaro tentou uma desesperada tentativa de bala de prata, fazendo o an�ncio de que aumentaria o sal�rio m�nimo para R$ 1.400,00.
A “promessa” foi desconstru�da por Lula, que mostrou n�o haver previs�o para tal aumento, na pe�a or�ament�ria de 2023 enviada pelo governo ao Congresso. Em olhar retrospectivo, Lula afirmou que ao longo dos �ltimos anos o sal�rio m�nimo n�o teve ganho real, diferentemente do que ocorrera em seu governo. Em atua��o esperada, em diversos momentos do debate, retomou a pauta da corrup��o -mas desta vez recebeu o troco com acusa��es sobre si e a sua pr�pria fam�lia. Nada novo.
Lula evitou provoca��es, esteve melhor do que no �ltimo debate, mas teve um desempenho mediano, pouco assertivo para desmontar com n�meros narrativas de Bolsonaro. Igualmente desfiando mon�logos, Lula foi perdendo energia ao longo do debate.
Mas marcou alguns pontos contra o advers�rio na competi��o das rejei��es. Teve tr�s bons momentos. Um deles, quando associou Bolsonaro a Roberto Jefferson em seu ataque com granadas e artilharia pesada aos policiais federais. Outro, ao questionar a compra de 35 mil comprimidos de Viagra deste governo para as For�as Armadas, ouvindo por resposta de Bolsonaro o constrangido balbucio: “Viagra � bom para a pr�stata”.
E do campo dos costumes veio a grande novidade que ainda n�o havia sido exposta em debates anteriores: a campanha de Lula recuperou um discurso de Bolsonaro deputado federal, defendendo a p�lula abortiva, em refer�ncia �queles que � �poca chamou de “uma multid�o de brasileiros subnutridos”. Foi o pior momento de Bolsonaro, que admitiu, inclusive citando o nome do medicamento abortivo: "Trinta anos atr�s, 30 anos atr�s, abortiva � Cytotec, � p�lula do dia seguinte, � isso? Outra coisa, 30 anos atr�s, eu posso mudar", disse Bolsonaro. Como esperado, viralizou nas redes digitais.
Para quem constr�i a pr�pria imagem numa narrativa implac�vel, que se faz passar em favor da fam�lia – tem filhos em tr�s casamentos – e contr�rio ao aborto, n�o deixa de ser uma estocada desagrad�vel, que causa disson�ncia cognitiva junto ao bolsonarismo radical. Mas esse � um voto cristalizado, que n�o ser� alterado. Percebendo o malogro, Bolsonaro ainda tentou devolver a Lula a acusa��o. Para eleitores indecisos, pairou a d�vida se o presidente que concorre � reelei��o n�o teria sido pego na mentira.
A noite n�o terminou bem para Bolsonaro. Em suas considera��es finais, em ato falho, pediu a Deus para ajud�-lo a se eleger para “deputado federal”, tempos em que, talvez, exotismos e incongru�ncias naturalizadas em sua narrativa n�o tinham o peso da faixa presidencial. O pior do show, contudo, veio ap�s o debate. A assessora da Rede Globo, avisou por protocolo, ao microfone, reiterando o combinado com os candidatos sobre o tempo de declara��es ap�s o debate: "Candidato, o senhor tem um minuto".
Irritado, Bolsonaro disparou: “Sou candidato ou sou presidente? Se for candidato eu vou embora. Eu sou candidato, eu vou embora. Ent�o, por favor. Eu sou presidente da Rep�blica. Candidato eu era l� dentro”. Bolsonaro tamb�m tretou com um jornalista portugu�s da ATP, em xen�foba declara��o: “N�o sei se entendi o que voc� falou. Mas se ficar repetindo eu continuarei n�o entendendo. � que n�o falo espanhol nem portunhol". Para piorar, bateu na mesa nervoso e se retirou da entrevista coletiva, quando indagado por jornalista da Folha, por que mentia afirmando que o ato de campanha de Lula no Complexo de Alem�o teria envolvimento com o tr�fico, se toda a imprensa carioca sabe que o organizador da visita fora um comunicador social de hist�rica trajet�ria. Bolsonaro reagiu aos berros. "Voc� tem moral para me chamar de mentiroso?".
Hoje, das redes sociais, uma outra hist�ria do debate ser� contada de parte a parte. A depender dos cortes e sele��es, as torcidas ir�o lutar para levar para fora das bolhas os trechos que interessam a cada candidato. E � a� que se dar� a batalha final.