
Ao longo do ano de 2020 sempre mantivemos n�veis end�micos extremamente elevados, que n�o foram reduzidos, s� aumentaram. N�o tivemos uma segunda onda epid�mica, mas uma primeira que aumentou progressivamente.
A epidemia no Brasil disseminou-se pelo pa�s de tal forma, que se transformou numa bola de neve descendo uma montanha quase que intermin�vel. O pior, esta intensa circula��o viral nos transformar� no celeiro mundial de variantes virais de preocupa��o (VOC), o que nos isolar� do planeta.
Essas variantes exigir�o vacinas com uma flexibilidade t�o grande, a ponto de n�o conseguirmos produzi-las na velocidade que surgir�o.
Os demais pa�ses se afastar�o de n�s e nos impor�o restri��es s�rias, at� que consigamos controlar a circula��o viral em nosso territ�rio. A hecatombe econ�mica e social � iminente, caso n�o percebamos que vivemos uns para os outros.
Todos ter�o que dar a sua cota de sacrif�cio em nome do bem comum. Esse � o momento de agirmos como na��o e como seres humanos.
Ser forte n�o � ter m�sculos, mas ter c�rebro e respeito, uns pelos outros. Nossas op��es s�o extremamente limitadas. Vacinar toda popula��o no mais curto espa�o de tempo poss�vel e frear a epidemia, ou restringir a mobilidade social de forma aguda por per�odos curtos de tempo (15 a 21 dias) de maneira intermitente, a exemplo do que fizeram v�rios pa�ses, tais como, Portugal, Espanha e It�lia, entre outros.
Fizemos isso em Belo Horizonte. Apesar de n�o ser uma ilha, BH tem a menor mortalidade do pa�s dentre as cidades com mais de 1 milh�o de habitantes e a segunda dentre as com mais de 100 mil habitantes.
A primeira op��o n�o � fact�vel a curto prazo (2 a 3 meses). Perdemos esta chance, se � que a tivemos, o ano passado.
A primeira op��o n�o � fact�vel a curto prazo (2 a 3 meses). Perdemos esta chance, se � que a tivemos, o ano passado.
Por sermos um pa�s continental, a epidemia sempre estar� mais aguda em algum local, por�m, progredir� em ondas intermin�veis at� que atinjamos a ilus�ria imunidade de comunit�ria (ou de rebanho). O o�sis imunol�gico coletivo enterrar� milhares de brasileiros, inclusive nossa economia, antes de ser uma realidade.
As variantes dissolveram a miragem.
O Dr. Robert Challen publicou em 10/03/2021 , artigo de extrema relev�ncia na conceituada revista Inglesa BMJ, , cujo titulo � Risk of mortality in patients infected with SARS-CoV-2 variant of concern 202012/1.
A conclus�o do estudo � a seguinte: a probabilidade de que o risco de mortalidade seja aumentado pela infec��o com VOC-202012/01, variante isolada no Reino Unido, � alta. Se esse achado for generaliz�vel para outras popula��es, a infec��o com VOC-202012/1 tem o potencial de causar mortalidade adicional substancial em compara��o com variantes circulantes anteriormente.
O planejamento da capacidade de sa�de e as pol�ticas de controle nacionais e internacionais s�o todos impactados por essa descoberta, com o aumento da mortalidade dando peso ao argumento de que medidas mais coordenadas e rigorosas s�o justificadas para reduzir as mortes por SARS-CoV-2.
Ou seja, essas variantes de preocupa��o, podem n�o apenas ser mais transmiss�veis, como tamb�m, mais letais, fato que temos observado em nossa pr�tica di�ria em diferentes faixas et�rias, n�o apenas em idosos, como vimos na primeira fase da pandemia.
Esta descoberta acende para n�s o alerta de que ainda n�o vimos o pior desta pandemia. No sentido oposto ao nosso, foi a Nova Zel�ndia, com 1 caso decretou lockdown nacional. Seriam eles exagerados, ou n�s relaxados (irrespons�veis) demais?
Aos olhos da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), eles est�o certos e n�s errados. Nosso malabarismo em corda bamba, de olhos fechados sobre um abismo viral, nos custar� vidas e liberdade.
A situa��o � t�o grave, que n�o � hora para apontarmos o dedo para culpados. Sabemos quem s�o eles. Com tempo e a cabe�a fora d’�gua, poderemos colocar os pingos nos “Is”.
Neste momento, precisamos frear o v�rus. Isso significa, pararmos de circular ao m�ximo, usarmos m�scaras, fazermos distanciamento social, observarmos rigorosamente as medidas higi�nicas e combatermos com rigor as aglomera��es.
Paralelamente e imediatamente, incorporarmos o maior n�mero e tipos de vacinas poss�veis e vacinarmos a popula��o. Isto exigir� flexibilidade dos �rg�os regulat�rios?! Sim, mas sem perder de vista princ�pios b�sicos de seguran�a na incorpora��o destas vacinas.
Agilidade m�xima com responsabilidade e regras compat�veis com a urg�ncia que o momento exige.
Testar o m�ximo de pessoas e isolar as infectadas por pelo menos 7 a 10 dias em hospitais de campanha de baixa complexidade (ou hot�is de campanha), os quais n�o deveriam ter sido desmontados de forma precoce.
Mas, deixemos os “Is “ para depois. Fundamental, n�o cantemos vit�ria antes da hora. Este v�rus n�o veio de passagem. Veio para ficar! Temos que control�-lo com compet�ncia e responsabilidade, o que pode ser traduzido em responsabilidade, civilidade e ci�ncia. N�o temos tempo, nem mais vidas a perder. Urg�ncia � a palavra do momento.
Neste sentido, a Associa��o M�dica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lan�aram esta semana um documento hist�rico, o qual reproduzo a seguir na �ntegra.
INFORMATIVO CONJUNTO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA E ASSOCIA��O M�DICA BRASILEIRA SOBRE LOCKDOWN
"Estamos vivendo no Brasil o momento mais dif�cil e preocupante desde a confirma��o do primeiro caso de COVID-19. H� um elevado n�mero di�rio de novos casos e de vidas perdidas. Al�m disso, a ocupa��o das unidades de terapia intensiva (UTI) ultrapassa 80%-90% na maioria dos estados, chegando a 100% em alguns munic�pios, simultaneamente, gerando filas de pacientes cr�ticos que necessitam de tratamento r�pido neste setor e a necessidade de transfer�ncias intermunicipais e interestaduais.
Sendo assim, medidas restritivas s�o indicadas para conter a velocidade de propaga��o do v�rus SARS-CoV-2. Uma destas a��es � o lockdown, ou seja, o confinamento obrigat�rio, que permite o funcionamento somente de servi�os essenciais e que precisam ser mantidos, como assist�ncia � sa�de, assist�ncia social, atividades de seguran�a (p�blica e privada), transporte e entrega de cargas em geral, produ��o, distribui��o e comercializa��o de produtos de sa�de, higiene, alimentos e bebidas em todo o pa�s, produ��o, distribui��o e comercializa��o de combust�veis e derivados, imprensa, entre outros.
Trata-se de uma medida extrema, mas de efetividade cient�fica comprovada quando n�o h� outras formas capazes de controlar a transmiss�o comunit�ria e a redu��o r�pida do n�mero de novos casos e de �bitos, al�m da capacidade dos servi�os de sa�de absorverem os casos de COVID-19 e outras urg�ncias e emerg�ncias m�dicas por outras causas.
Trata-se de uma medida extrema, mas de efetividade cient�fica comprovada quando n�o h� outras formas capazes de controlar a transmiss�o comunit�ria e a redu��o r�pida do n�mero de novos casos e de �bitos, al�m da capacidade dos servi�os de sa�de absorverem os casos de COVID-19 e outras urg�ncias e emerg�ncias m�dicas por outras causas.
O lockdown deve ser efetuado somente em algumas situa��es e em alguns locais, quando se fizer necess�rio, por um per�odo determinado, com fiscalarrlingiza��o r�gida e puni��o a todos que desrespeitarem. � uma medida individualizada, na tentativa de evitar o colapso do sistema de sa�de local.
Sabemos que n�o � uma medida popular e que pode trazer s�rias consequ�ncias socioecon�micas. Somos solid�rios nessa ang�stia da popula��o.
Nosso papel � agir em defesa de toda e qualquer medida fundamental para a prote��o de vidas. Refor�amos a necessidade urgente de a��es governamentais com vacina��o da maior parte da popula��o o mais r�pido poss�vel, com a manuten��o continuada das demais medidas preventivas reconhecidas na redu��o da transmiss�o da COVID-19: distanciamento f�sico, evitando-se aglomera��es, uso correto de m�scaras protegendo o nariz e a boca, higieniza��o frequente das m�os com �gua e sab�o ou �lcool gel a 70%."
S�o Paulo, 05 de mar�o de 2021.
Diretoria da Sociedade Brasileira de Infectologia
Diretoria da Associa��o M�dica Brasileira