(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas AN�LISE

A democracia racial est� em ru�nas?

Ideia de coexist�ncia harmoniosa entre brancos e negros agora encara realidade contenciosa a que assistimos quase que cotidianamente nos notici�rios


23/12/2020 06:00

(foto: Reprodução/Youtube - Reprodução TV Globo - MAURO PIMENTEL/AFP)
(foto: Reprodu��o/Youtube - Reprodu��o TV Globo - MAURO PIMENTEL/AFP)


O mito da democracia racial foi, at� recentemente, um dos pilares da sociedade brasileira. De maneira geral, chamamos de mito da democracia racial a ideia, largamente difundida, de que a rela��o entre brancos, negros e ind�genas no pa�s � marcada, fundamentalmente, pela harmonia e que situa��es de racismo e discrimina��o seriam apenas epis�dicas.

Florestan Fernandes, um dos mais destacados soci�logos brasileiros do s�culo XX, captou como poucos essa nossa tend�ncia de evitar explicitar os conflitos raciais ao afirmar que ter�amos “preconceito de ter preconceito”, pois a discrimina��o seria ultrajante para quem sofre e degradante para quem a pratica. 

Por essa raz�o, uma das estrat�gias adotadas pelas organiza��es dos movimentos negros nos �ltimos 40 anos esteve em denunciar a fal�cia do mito da democracia racial. Essa estrat�gia teve como um dos seus efeitos mais imediatos o aumento da conscientiza��o da popula��o negra, que passou a reivindicar com maior veem�ncia a��es pol�ticas efetivas para o combate ao racismo.  

O recente aumento nas den�ncias de casos de racismo tamb�m pode ser interpretado como um dos efeitos dessa estrat�gia de denunciar o mito da democracia racial. Revela ainda que o racismo expl�cito saiu do arm�rio. A ideia de uma coexist�ncia harmoniosa entre brancos e negros parece estar em ru�nas diante da realidade contenciosa a que assistimos quase que cotidianamente nos notici�rios. 

Nos �ltimos dias tr�s casos de racismo que ganharam bastante visibilidade na m�dia apontam para um inequ�voco processo de corros�o do mito da democracia racial. Em Patos de Minas, Madalena Gordiano foi mantida em condi��es an�logas � escravid�o por 38 anos, sendo passada de m�e para filho como se fosse um objeto. Madalena s� conseguiu ser resgatada ap�s deixar bilhetes solicitando pequenas quantias de dinheiro emprestado aos vizinhos, que desconfiaram dos pedidos e acionaram o Minist�rio P�blico do Trabalho. A fam�lia que a mantinha escravizada negou as den�ncias sob a desculpa de que n�o a consideravam uma empregada, pois ela era “quase da fam�lia”.

Em Caldas Novas, Luiz Eduardo Bertoldo Santiago, uma crian�a de 11 anos, atleta do Uberl�ndia Academy, denunciou, aos prantos, uma situa��o de racismo pela qual passou em uma partida de futebol. O caso obteve grande como��o p�blica e levou atletas de destaque, que usualmente n�o se pronunciam sobre racismo, como Neymar e Gabriel Jesus, a mandarem mensagens de solidariedade e apoio ao menino. Al�m disso, Luiz recebeu convites para fazer testes em diversos times, como Vasco, Fluminense e Santos.

O terceiro caso envolveu o meia Gerson, do Flamengo, que relatou ser v�tima de racismo por parte do jogador Juan Pablo Ram�rez, do Bahia. Segundo Gerson, o t�cnico advers�rio ainda minimizou a situa��o. Ap�s a partida, o t�cnico do Bahia foi demitido (segundo o clube n�o em decorr�ncia de sua interven��o no caso de racismo relatado) e o clube afirmou que investigaria a acusa��o de racismo.

O “cala boca, negro” proferido para Gerson, as inj�rias racistas ouvidas pelo menino Luiz e a supress�o de direitos humanos b�sicos a que foi submetida Madalena s�o tentativas, cada uma � sua maneira, de silenciar a insurg�ncia negra contra a fal�cia da democracia racial e retroceder o pa�s para o tempo em que os negros “sabiam o seu lugar”, consideravam ultrajante serem v�timas de discrimina��o e se calavam, com receio de serem chamados de “vitimistas” ou sofrerem repres�lias. Por�m, o mito da democracia racial segue em processo acelerado de eros�o e, para que continue ruindo, � essencial n�o se calar.  Falem, negros! Falem!


*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)