
O capacitismo � uma forma de discrimina��o que considera as pessoas com defici�ncia como inferiores ou incapazes, perpetuando estere�tipos negativos e negando a elas igualdade de oportunidades e tratamento justo na sociedade.
Conforme previsto no Estatuto da Pessoa com Defici�ncia (LBI, 2015), “toda pessoa com defici�ncia tem direito � igualdade de oportunidades com as demais pessoas e n�o sofrer� nenhuma esp�cie de discrimina��o”. Para que isso aconte�a na pr�tica � preciso tirar o foco da defici�ncia e colocar a inten��o na elimina��o das barreiras que impedem a participa��o plena das pessoas com defici�ncia na sociedade.
A legisla��o diz que barreira � “qualquer entrave, obst�culo, atitude ou comportamento que limite ou impe�a a participa��o social da pessoa”. Ela tamb�m aponta quais s�o esses tipos de barreiras �s quais devemos estar atentos: f�sicas, comunicacionais, de transporte e tecnol�gicas. E diante desse apontamento diversas normas t�cnicas forma elaboradas no sentido de oferecer orienta��es para o desenvolvimento de solu��es acess�veis.
Entretanto, infelizmente, os conceitos e as regulamenta��es em vigor ainda n�o garantem que as pessoas com defici�ncia tenham seu direito de inclus�o social garantido. Por isso � t�o importante considerar a diversidade humana desde a concep��o do projeto. Uma das maneiras de fazer isso � utilizando o conceito e os princ�pios do design universal.
O design (ou desenho) universal � um tema relativamente recente tanto no meio acad�mico, como nas pr�ticas profissionais. No campo de estudos do design, ele surgiu como um caminho poss�vel, a partir da d�cada de 1970, para se contrapor ao consumismo exagerado das sociedades capitalistas e como uma busca de voltar a aten��o para o ser humano e para o meio ambiente. Paralelamente a esse movimento no design, o desenho universal tamb�m come�a a ser discutido em conven��es e debates sobre a acessibilidade de pessoas com defici�ncia.
Em 1961, algumas na��es europeias, al�m de Jap�o e Estados Unidos, se reuniram na Su�cia para pensar em como reestruturar e recriar o velho conceito do “homem padr�o”, um padr�o criado com a Revolu��o Industrial e a massifica��o da produ��o em escala, mas que nem sempre considera o homem real. Mais tarde, esse conceito foi aprofundado e passou a ser chamado de Universal Design pelo americano Ronald Mace, com a proposta de atender TODAS as pessoas, com uma perspectiva realmente universal.
Ronald Mace acreditava que o Universal Design n�o era uma nova ci�ncia ou estilo de vida, mas uma mudan�a de percep��o na forma como projetamos e produzimos produtos e servi�os, tornando-os utiliz�veis por todas as pessoas. Na d�cada de 90, ele se reuniu com um grupo de profissionais que acreditavam na acessibilidade como um direito (arquitetos, engenheiros, advogados e pesquisadores) e criaram os princ�pios do Desenho Universal:
Igualit�rio – uso equipar�vel
S�o espa�os, objetos e produtos que podem ser utilizados por pessoas com diferentes capacidades, tornando os ambientes iguais para todos.
Adapt�vel – uso flex�vel
Design de produtos ou espa�os que atendem pessoas com diferentes habilidades e diversas prefer�ncias, sendo adapt�veis para qualquer uso.
�bvio – uso simples e intuitivo
De f�cil entendimento para que uma pessoa possa compreender, independentemente de sua experi�ncia, conhecimento, habilidades de linguagem, ou n�vel de concentra��o.
Conhecido – informa��o de f�cil percep��o
Quando a informa��o necess�ria � transmitida de forma a atender as necessidades do receptador, seja ela uma pessoa estrangeira, com dificuldade de vis�o ou audi��o.
Seguro – tolerante ao erro
Previsto para minimizar os riscos e poss�veis consequ�ncias de a��es acidentais ou n�o intencionais.
Sem esfor�o – baixo esfor�o f�sico
Para ser usado eficientemente, com conforto e com o m�nimo de fadiga.
Abrangente – dimens�o e espa�o para aproxima��o e uso
Que estabelece dimens�es e espa�os apropriados para o acesso, o alcance, a manipula��o e o uso, independentemente do tamanho o corpo (obesos, an�es etc.), da postura ou mobilidade do usu�rio (pessoas em cadeira de rodas, com carrinhos de beb�, bengalas etc.).
Ronald Mace foi o fundador do Centro de Design Universal (CUD) da Universidade de Carolina do Norte. A miss�o do centro � melhorar o ambiente constru�do, bem como produtos e servi�os para todos os usu�rios, por meio da pesquisa, assist�ncia, informa��o, forma��o (CUD, 2014). Foi nesse local que os conceitos-chave que fundamentam o conceito de Desenho Universal foram debatidos e articulados para cria��o dos sete princ�pios descritos acima. Princ�pios esses que foram adotados mundialmente e at� hoje s�o utilizados como diretrizes para orientar qualquer programa de acessibilidade plena.
Pelo contexto que vivemos hoje, tendo o capacitismo na estrutura da nossa sociedade, � preciso intencionalidade para que a inclus�o aconte�a. A elimina��o das barreiras que geram exclus�o come�a nas nossas atitudes e comportamentos (barreiras atitudinais) com rela��o �s pessoas que s�o diferentes de n�s. A partir dessa percep��o, as demais barreiras podem ser identificadas e eliminadas.
No entanto, por mais que estejamos atentos, n�o existir� guia ou receita pronta para atender toda a diversidade humana. A elabora��o de um plano de acessibilidade visa avaliar cada contexto buscando a acessibilidade universal ao maior n�mero de pessoas poss�vel, assim como a proposta do Design Universal.
Espa�os e solu��es mais acess�veis nos permitir�o conviver com a diversidade, naturalizando assim as diferen�as e gerando a inclus�o real de todas as pessoas.