
Quanto mais tem avan�ado a pandemia, junto caminha minha indigna��o com grupo espec�fico de desassistidos v�timas da COVID-19: os alunos das escolas p�blicas.
No caso dos mais novos, as creches e unidades municipais de educa��o b�sica s�o espa�os que buscam oferecer alimenta��o mais balanceada, al�m de propiciar est�mulos cognitivos fundamentais para romper com d�ficits hist�ricos de defasagem de aprendizado e conhecimento entre pobres e ricos.
Trabalho de d�cadas liderado pelo laureado ao Nobel de Economia James Heckman, contando com a colabora��o de uma equipe multidisciplinar, traz evid�ncias emp�ricas sobre a teoria sintetizada pela Equa��o Heckman. Essa equipe acompanha, por meio de t�cnicas de controle e monitoramento intertemporal, grupos de crian�as oriundas de fam�lias americanas mais pobres e vem trazendo evid�ncias contundentes da import�ncia do ingresso “precoce” de crian�as em espa�os de aprendizado.
No Brasil, para as crian�as que estariam ingressando na pr�-escola, fase que antecede � alfabetiza��o e �s atividades b�sicas de racioc�nio l�gico, a aus�ncia das aulas simplesmente postergou for�osamente esse momento t�o marcante em suas vidas. Se a impossibilidade de ingresso nas creches j� contribui para manter e/ou aumentar a dist�ncia entre o aprendizado dos mais pobres em rela��o aos mais favorecidos, o adiamento do in�cio da idade escolar s� acende luz sobre o acirramento dessa lacuna educacional.
No meio do caminho, tem-se as crian�as e jovens em fase de desenvolvimento e aprimoramento de seus conhecimentos b�sicos, outro grupo que ainda poder� se recuperar com menor �nus cognitivo, mas deixando d�vidas sobre o emocional. Refiro-me aqui aos anos do ensino fundamental II. E na ponta vem os jovens do ensino m�dio, em anos decisivos para o ingresso no ensino superior. A� a trag�dia se instaura definitivamente.
Adentramos no segundo ano da pandemia e os professores n�o est�o na lista de prioridades do calend�rio de vacina��o estipulado pelo Minist�rio da Sa�de enquanto o Minist�rio da Educa��o parece viver lockdown eterno. Nem diretriz clara nem busca por solu��es foram apresentadas formalmente para a sociedade.
No �ltimo dia 14/04, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica – IBGE divulgou os dados de sua pesquisa tem�tica sobre uso e disponibilidade de tecnologia nos domic�lios brasileiros. A pesquisa refere-se ao ano de 2019 e traz informa��es relevantes para se entender o “padr�o tecnol�gico” dos domic�lios brasileiros. De 2018 para 2019, houve redu��o do percentual dos domic�lios com microcomputador e telefone fixo.
Em contrapartida, aumentou-se o percentual com telefone celular – 94%, o que pode-se considerar universaliza��o desse tipo de tecnologia. O uso da internet tamb�m vem se expandindo, mas seu custo elevado ainda � um dos maiores fatores de barreira � universaliza��o. A pesquisa do IBGE aponta na dire��o de uma sociedade a caminho da expans�o do uso da tecnologia. Essa mesma sociedade depende majoritariamente do servi�o p�blico de educa��o.
A �ltima Sinopse Estat�stica da Educa��o B�sica de 2019, realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira - Inep, no mesmo ano da pesquisa do IBGE, indica que o pa�s teve 47,8 milh�es de matriculados nos diversos anos e categorias de ensino.
Desse total, 38,1 milh�es estavam matriculados na rede p�blica de ensino (municipal, estadual e federal) desde o pr�-escolar at� o ensino m�dio, t�cnico e para jovens adultos. Da� surge a pergunta: quanto teria custado ao governo fornecer um smartphone b�sico que fosse capaz de atender �s necessidades m�nimas de ensino remoto utilizando-se a internet e as redes sociais como canais de comunica��o?
Fazendo uma conta bem simples, chego ao custo total de R$23 bilh�es de reais dilu�dos ao longo de nove meses de ensino remoto. Agora vamos aos c�lculos! Se o governo tivesse comprado aparelhos celulares e distribu�dos aos 38 milh�es de crian�as e jovens, seu gasto teria sido da ordem de R$8 bilh�es, referente ao valor de R$212 por aparelho – conforme pre�o de varejo extra�do da internet. Isso sem contar que o pa�s poderia ter gastado ainda menos nessa aquisi��o.
Acrescido ao custo do aparelho, o governo teria gasto mensal com linha telef�nica com acesso � internet para que crian�as e jovens pudessem assistir remotamente �s aulas. A pesquisa que realizei na internet nesse s�bado (17/04) enquanto escrevia essa coluna, indicou custo mensal de R$45 por aluno – tamb�m valor de varejo. Ao final de nove meses, o governo federal teria despendido cerca de R$15 bilh�es com a manuten��o das linhas telef�nicas. Para simplificar: o governo federal teria garantido, ao custo de R$23 bilh�es de reais, o aprendizado de 82% das crian�as e jovens que foram alijadas do processo educacional desde mar�o de 2020.
O governo federal gastou cerca de R$322 bilh�es com aux�lio-emergencial para quase 70 milh�es de pessoas, mas n�o despendeu praticamente nada para garantir que 38 milh�es de crian�as e jovens tivessem seu aprendizado garantido. Manter crian�as e jovens estudando em 2020 custaria cerca de 7% de todo o valor gasto com aux�lio emergencial para 70 milh�es de pessoas.
� fato que o governo foi ineficaz no controle da avalia��o e distribui��o de recursos emergenciais. Segue destilando aus�ncia de planejamento, compet�ncia e cuidado com a vida humana. O adoecimento pela COVID-19 tem chocado o pa�s com seu n�mero de mortes. O descuido com crian�as e jovens n�o fica atr�s. Trar� efeitos desoladores de m�dio e longo prazo, ainda dif�ceis de serem mensurados, mas que seguramente j� tem deixado suas marcas.