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Estado de Minas GEST�O P�BLICA

Covid-19: para al�m da imuniza��o, o desalento dos menos escolarizados

Ano de 2022 desnudar� os problemas estruturais da baixa escolaridade e da falta de oportunidade no mercado de trabalho para pessoas menos qualificadas


25/05/2021 06:00 - atualizado 24/05/2021 11:10

Mulher é vacinada contra COVID-19 em Moju, no interior do Pará(foto: Joao Paulo GUIMARAES / AFP)
Mulher � vacinada contra COVID-19 em Moju, no interior do Par� (foto: Joao Paulo GUIMARAES / AFP)


Para al�m do risco de cont�gio e morte pelo coronav�rus, h� um adoecimento social em curso no pa�s. Ainda estamos longe de “fecharmos um diagn�stico” sobre sequelas que a pandemia deixar�, mas restrinjo-me �s crian�as e jovens, que provavelmente carregar�o por mais tempo efeitos ps�quicos e cognitivos decorrentes do afastamento social vivenciado em ambientes nem sempre acolhedores conjugados � aus�ncia das aulas presenciais e ao conv�vio di�rio com colegas e amigos. 

A pandemia do coronav�rus retirou boa parte das crian�as das creches e escolas e adiou, por pelo menos um ano e meio – at� o momento!, o processo de alfabetiza��o e aprendizado. Para os jovens das classes mais baixas, sobretudo aqueles em vias de conclus�o do ensino m�dio, os efeitos da aus�ncia das aulas presenciais podem ser ainda mais danosos, com consequ�ncias diretas sobre o mercado de trabalho e a perpetua��o do ciclo intergeracional da pobreza

Em artigo publicado na �ltima sexta-feira, 21/5, no jornal Valor Econ�mico, Na�rcio Menezes Filho mostra como a contra��o da atividade econ�mica tem impactado mais severamente as pessoas menos qualificadas, tanto no setor servi�os, como na ind�stria e no com�rcio, enquanto pessoas mais qualificadas j� se encontram em n�veis de emprego pr�ximos aos verificados na fase pr�-pandemia. N�veis maiores de desemprego para pessoas menos escolarizadas revelam a forma��o de novo perfil do mercado de trabalho que deve trazer consigo s�rias implica��es socioecon�micas. 

Intensifica��o do com�rcio eletr�nico, dos pedidos de comida por aplicativos, da simplifica��o e automatiza��o das atividades dom�sticas s�o alguns exemplos de novos h�bitos e din�micas econ�micas que afetam mais incisivamente pessoas menos qualificadas que se alocavam, sobretudo, em atividades �s quais a pandemia vem castigando. O crescimento do com�rcio eletr�nico, promovido pelas classes de renda mais elevada, tem gerado ganhos “inesperados” de arrecada��o tribut�ria e reduzido o espa�o de atua��o da informalidade, na qual se abriga parte da m�o de obra menos qualificada com s�rias dificuldades de reinser��o no mercado laboral. E a nova din�mica social n�o parece que trar� o retorno ao “antigo normal” com o p�s-pandemia. 

A vacina est� chegando no Brasil, em ritmo lento, mas s� deve estar dispon�vel para todos eleg�veis no �ltimo trimestre de 2021. Os maiores estados do pa�s, S�o Paulo e Minas Gerais, vacinaram, at� o momento, cerca de 20% de suas popula��es enquanto nas regi�es do Norte e Nordeste, esses percentuais foram de aproximadamente 15%. 

O artigo Covid-19 dynamics after a national immunization program in Israel, publicado na semana passada na revista Nature Medicine, avalia os reais efeitos da pol�tica de imuniza��o daquele pa�s cujos resultados indicaram que as quedas expressivas de casos e interna��es s� se tornaram eficazes com vacina��o superior a 50% da popula��o, por grupos et�rios ou eleg�veis – comorbidades, gr�vidas, profissionais da �rea de sa�de etc. Portanto, os resultados de Israel refor�am a percep��o geral de que estamos longe de reduzir nossos n�veis de casos, interna��es e �bitos, mantendo-nos, inclusive, vulner�veis a nova variantes.

O �ltimo relat�rio Proje��o Contratual de Entregas de Vacinas Covid-19, divulgado em 19/05 pelo Minist�rio da Sa�de, mostra que no m�s de junho devem ser disponibilizadas mais 12 milh�es de doses de vacinas, ainda voltadas para os grupos priorit�rios. Para o terceiro trimestre, estima-se receber 166,9 milh�es de doses, e 158,6 milh�es no �ltimo quadrimestre do ano. Esses s�o n�meros j� acordados junto aos fornecedores internacionais, exclu�dos contratos em negocia��o, e evidenciam longo caminho a percorrer rumo � imuniza��o

Se alcan�armos a meta de imuniza��o em massa em fins de 2021, o ano de 2022 desnudar� os problemas estruturais da baixa qualidade da escolaridade e da falta de oportunidade no mercado de trabalho para as pessoas menos qualificadas. Crian�as e jovens que estiverem frequentando a escola poder�o expor a lacuna de aprendizagem dos dois anos remotos, enquanto a falta de oportunidade no mercado de trabalho para os menos escolarizados agravar� de vez o cen�rio do desalento. Contra esse grave problema estrutural vivido pela sociedade brasileira, a vacina se chama igualdade de oportunidades e o pa�s n�o tem como produzi-la no curto prazo. 

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