
O jornal Le Monde publicou, no �ltimo dia 10, brilhante artigo do economista franc�s Thomas Piketty, no qual conseguiu, em curto espa�o de linhas, apontar importantes consequ�ncias das diferen�as entre os regimes pol�tico-econ�micos do Ocidente e da China, a estrutura de suas finan�as p�blicas, os impactos da arrog�ncia ocidental dos pa�ses desenvolvidos ao (des)tratar a quest�o do clima e a possibilidade de sustentabilidade de suas economias.
O recado do economista � bem claro: o Ocidente que se cuide e comece a se preparar para nova forma de governo, por ele proposto como “socialismo democr�tico e participativo”, conforme aponta o t�tulo de seu artigo, “Frente ao regime chin�s, a boa resposta passa por uma nova forma de socialismo democr�tico participativo” – traduzido para o portugu�s.
O recado do economista � bem claro: o Ocidente que se cuide e comece a se preparar para nova forma de governo, por ele proposto como “socialismo democr�tico e participativo”, conforme aponta o t�tulo de seu artigo, “Frente ao regime chin�s, a boa resposta passa por uma nova forma de socialismo democr�tico participativo” – traduzido para o portugu�s.
No artigo do jornal franc�s, Piketty discorre sobre aspectos divergentes entre os pa�ses desenvolvidos ocidentais e a China, dentre os quais chamo aten��o de dois: primeiro, do lado ocidental, o elevado endividamento p�blico e a concentra��o dos ativos nas m�os do setor privado, ante uma China, de outro, detentora de 10% do setor imobili�rio e de 50% das empresas do pa�s, sendo capaz de impulsionar investimentos essenciais em educa��o, sa�de, meio ambiente e desenvolvimento.
O economista refor�a que os pa�ses ricos tornaram-se Estados pobres e dependem do setor privado para se financiarem. O segundo aspecto � sobre a responsabilidade pelo desequil�brio ambiental. As enchentes nos ver�es de 2002 e 2021, na Europa, j� v�m mostrando que a conta est� chegando e que n�o cair� no colo da China.
O economista refor�a que os pa�ses ricos tornaram-se Estados pobres e dependem do setor privado para se financiarem. O segundo aspecto � sobre a responsabilidade pelo desequil�brio ambiental. As enchentes nos ver�es de 2002 e 2021, na Europa, j� v�m mostrando que a conta est� chegando e que n�o cair� no colo da China.
� bom lembrar que os dados da atividade econ�mica chinesa, no segundo trimestre de 2021, indicam desacelera��o do ritmo de sua expans�o. Fica a d�vida se a desacelera��o cabe mais � demanda interna ou externa. Hoje a China � o grande term�metro do mundo, e nesta pandemia tem funcionado como indicador antecedente para a maioria das grandes economias. Resta aguardarmos mais um pouco para entendermos se o consumo internacional tamb�m n�o tem dado sinais de retomada como esperado. Os pa�ses ricos t�m se endividado ainda mais para manter a recupera��o da atividade econ�mica, muito embora o resultado recente da China ponha em xeque o �xito de tal a��o.
H� 50 anos que o mundo deu in�cio �s tratativas formais para discutir os impactos da atividade econ�mica sobre o meio ambiente, com seleto grupo de economistas reunidos no vilarejo de Founix, em junho de 1971. De l� que surgiram os preparativos para o evento de Estocolmo, em 1972, marcado como o grande primeiro encontro sobre o tema. O segundo grande evento coube � Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) e se deu na cidade do Rio de Janeiro – a famosa Rio-92. De l� em diante, pode-se afirmar que o passo mais expressivo da ONU foi a cria��o da Agenda 2030, pactuada apenas 23 anos depois - em 2015.
No entanto, os mais recentes encontros do World Economic Forum e do G-20 t�m ganhado mais envergadura, muito embora, pelo andar da carruagem, ainda seja not�rio o descompasso entre discurso e a��es em rela��o ao meio ambiente. Na semana passada, decis�o robusta tomada praticamente ao mesmo tempo pelos Estados Unidos e pela Uni�o Europeia chamou aten��o do mundo: a defini��o de que ser�o criados tributos sobre importa��o de produtos oriundos de pa�ses que n�o adotem pol�ticas agressivas contra emiss�es de carbono.
Mas nem tudo distingue os pa�ses ocidentais ricos da China. Entre os modelos neoliberais ocidentais e o capitalismo autorit�rio e opressor da China reside um denominador comum: o paradoxo entre felicidade e renda. Em todos esses, as pesquisas que “medem” a sensa��o de felicidade indicam que ela n�o caminha com a emancipa��o da renda. Segundo o economista Richard Easterlin, em entrevista concedida ao Jornal Valor Econ�mico no �ltimo dia 10 – coincidentemente o mesmo dia em que foi publicado o artigo do Piketty -, � poss�vel medir a felicidade e os governos deveriam se preocupar em faz�-lo.
Estudioso do paradoxo entre felicidade e renda desde 1974, Easterlin argumenta que os pa�ses ricos promoveram, durante muitos anos, aumento na renda de seus cidad�os n�o acompanhado pela sensa��o de maior felicidade. Esse antagonismo se faz presente quando avaliado por per�odos longos de tempo. Na mesma linha, China e India, pa�ses que tiveram grandes ganhos de renda per capita durante as �ltimas tr�s d�cadas, tamb�m n�o conseguiram gerar aumentos de felicidade em suas popula��es.
Curiosidades bem interessantes das evid�ncias dos estudos de Easterlin s�o, por exemplo, que:
- homens e mulheres s� s�o igualmente felizes nos Estados Unidos, mas em outros 73 pa�ses onde se fez o mesmo estudo, as mulheres eram mais felizes que os homens e, em ambos casos, o tempo de durabilidade da felicidade das mulheres era superior ao dos homens;
- homens e mulheres s� s�o igualmente felizes nos Estados Unidos, mas em outros 73 pa�ses onde se fez o mesmo estudo, as mulheres eram mais felizes que os homens e, em ambos casos, o tempo de durabilidade da felicidade das mulheres era superior ao dos homens;
- casamento traz felicidade e separa��o, o contr�rio, mas o importante n�o � necessariamente o casar, mas sim ter um(a) companheiro(a); e
- cat�strofes e trag�dias t�m impacto por tempo muito mais duradouro que eventos festivos pontuais como Copa do Mundo – no �ltimo, geralmente, a sensa��o de alegria dura apenas 4 dias, enquanto no primeiro � revivido por muitos anos.
Nesse sentido, a proposta de Piketty de caminhar na promo��o de novo modelo econ�mico (socialismo democr�tico e participativo) capaz de promover o compartilhamento do saber e de buscar caminhos mais equ�nimes de distribui��o de riqueza pode soar como poss�vel quebra do paradoxo entre riqueza e felicidade. Semana retrasada o G-20 deu primeiro passo nesse sentido, com a defini��o da nova tributa��o sobre as multinacionais, restando saber se os para�sos fiscais n�o v�o continuar limitando a felicidade para poucos detentores do capital.
- cat�strofes e trag�dias t�m impacto por tempo muito mais duradouro que eventos festivos pontuais como Copa do Mundo – no �ltimo, geralmente, a sensa��o de alegria dura apenas 4 dias, enquanto no primeiro � revivido por muitos anos.
Nesse sentido, a proposta de Piketty de caminhar na promo��o de novo modelo econ�mico (socialismo democr�tico e participativo) capaz de promover o compartilhamento do saber e de buscar caminhos mais equ�nimes de distribui��o de riqueza pode soar como poss�vel quebra do paradoxo entre riqueza e felicidade. Semana retrasada o G-20 deu primeiro passo nesse sentido, com a defini��o da nova tributa��o sobre as multinacionais, restando saber se os para�sos fiscais n�o v�o continuar limitando a felicidade para poucos detentores do capital.
Por aqui, ainda seguimos achando que o modelo neoliberal e as privatiza��es a qualquer pre�o s�o o �nico caminho para se tirar das m�os do Estado (ineficiente) a condu��o da constru��o da sociedade. Dificilmente superaremos o paradoxo felicidade-riqueza em um pa�s cujo Congresso Nacional aprova or�amento em que se autoconcede aumento de R$2 bilh�es para R$5,7 bilh�es de recursos destinados aos fundos partid�rios para as elei��es de 2022, al�m de n�o prever nem ganhos reais para a camada mais baixa da sociedade – vide a corre��o do sal�rio-m�nimo - nem recursos para investimento.
- Veja como votaram os parlamentares mineiros no projeto do fundo partid�rio
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Se o mundo ocidental mais pr�spero economicamente ainda segue lento em seus desenhos de modelo de pol�tica e sociedade capazes de permitir que felicidade e riqueza caminhem na mesma dire��o, o que dizer de um pa�s cujo Congresso Nacional ainda atua primordialmente em causa pr�pria(?!). Nessas horas, o contingente de 90 milh�es de integrantes do Partido Comunista Chin�s voltado para construir uma na��o cada vez mais forte economicamente, com planejamento de longo prazo que visa romper desafios hist�ricos de sustentabilidade e desigualdade de educa��o e renda, faz inveja em qualquer pa�s.