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Estado de Minas Econom�s em bom portugu�s

Um carnaval sem fantasia, mas de m�scara

Na ilus�ria constru��o do pa�s do futuro, o Brasil segue, desde sempre, criando narrativas fantasiosas e expectativas desconectadas de suas realidades


01/03/2022 06:00 - atualizado 01/03/2022 07:04

Imagem de um palhaço com semblante entristecido, pensativo num banco em tons envelhecidos
'A vida pode ser sempre vista como o Carnaval, com tra�ados meio fantasiosos, meio verdadeiros, a depender da roupa que se pretende vestir, ou da m�scara que se deseja tirar' (foto: Pixabay)

�s v�speras do nosso feriado de Carnaval, o mundo viu-se diante de ousada e perigosa jogada geopol�tica do presidente russo Vladimir Putin. Os desdobramentos imediatos indicam que os riscos de instabilidade mundial s�o elevados e que, no m�nimo, a maioria das economias sofrer� impactos ainda imprevis�veis. As pe�as desse tabuleiro est�o em movimento e algumas ainda n�o entraram – diga-se, principalmente, a China. Para o Brasil, cuja economia tem se mostrado � deriva, os impactos podem ser bem graves.
O Carnaval sempre foi a festa mais bonita que o pa�s “exibia” para o mundo, mas segue h� dois anos cancelada. Ir �s ruas fantasiados, participar de verdadeiras maratonas de blocos de rua, ou de eventos fechados, assistir a enredos criativos de majestosos desfiles, participar seja em forma de manifesta��o, seja por mera divers�o � a experi�ncia cultural mais t�pica da grande maioria dos brasileiros. 

A fantasia tem sido nutriente fundamental para a sociedade brasileira, que sempre demonstrou dificuldade em encarar suas distor��es e atrasos. O recalque tamb�m nos assombra talvez na mesma magnitude que nossas fantasias. Mas, neste Carnaval, nem mesmo a atra��o pela contraven��o surtiu efeito expressivo: a maioria da popula��o quase nem tem ido �s ruas nem se fantasiado. Sua principal alegoria ainda tem sido as m�scaras.  

No final da semana passada, algumas divulga��es de pesquisas e tend�ncias vieram refor�ar o profundo efeito que a pandemia tem produzido no inconsciente coletivo nacional. Ainda parece dif�cil conjugar fantasia com alegria! Para al�m da falta de conforto em tentar viver como se a vida estivesse voltando ao “normal”, o Brasil fechou o ano de 2021 com taxa de desocupa��o (desemprego) de 11,1%, mantendo-se nos elevados patamares de dois anos atr�s, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). 

Quando o governo atual assumiu, em janeiro de 2019, a taxa de desocupa��o era de 12,6%. Na verdade, desde 2016, in�cio da crise econ�mica que at� hoje se arrasta pelo pa�s, a taxa de desemprego mant�m-se em dois d�gitos.  Para agravar o quadro, os resultados dos rendimentos reais totais, em fins de 2021, indicaram que, h� quase dez anos, a popula��o trabalhadora n�o tem tido ganhos reais de rendimento – ganhos acima da infla��o. 

Do lado do setor privado, o �ndice de Confian�a Empresarial, produzido pela Funda��o Get�lio Vargas (FGV), caiu pelo quinto m�s consecutivo, em combina��o de pessimismo generalizado dos empres�rios com a situa��o atual e expectativas mais otimistas, para os pr�ximos meses, somente nos setores da constru��o e do com�rcio. O �ndice de Confian�a do Consumidor, tamb�m da FGV, subiu levemente em fevereiro, mas seu comportamento continua incerto e  mantido em n�vel historicamente muito baixo. 

O tenso e imprevis�vel jogo geopol�tico atual tem mostrado que todas as vers�es defendidas pelas partes podem fazer algum sentido. As revis�es (futuras) hist�ricas dos fatos transformam-se, quase sempre, em provas de que os seres humanos s�o pe�as f�ceis de manobra de l�deres cujas ambi��es de poder nunca ser�o completamente reveladas. Sempre haver� fantasia, no inconsciente coletivo, facilmente regida por algu�m com perspic�cia, ambi��o e frieza suficientes para lutar para chegar ou manter-se no poder. 

Inventando Anna � o nome da miniss�rie produzida pela Netflix que conta a hist�ria da jovem (sociopata?!) russa Anna Sorokin, ou Anna Delvey, que se passa por milion�ria alem�, na sedutora Nova Iorque, e consegue enganar pessoas poderosas e influentes, vivendo glamourosamente e chegando pr�xima de alcan�ar suas ambi��es megaloman�acas. 

Anna pode ser vista tamb�m como fruto de nossa sociedade atual, na qual a ambi��o � capaz de transpor as barreiras da �tica, confian�a e  palavra por meio de jogadas estrat�gicas, persuas�o e manipula��o. “Essa hist�ria � completamente verdadeira, exceto pelas partes que foram totalmente inventadas”, slogan apresentado no inicio de cada um dos nove epis�dios da miniss�rie, diz muito sobre farsa, manipula��o, fantasia, realidades paralelas, poder e ambi��o.  

A vida pode ser sempre vista como o Carnaval, com tra�ados meio fantasiosos, meio verdadeiros, a depender da roupa que se pretende vestir, ou da m�scara que se deseja tirar. Pode ser verdadeiramente narrada, exceto pelas partes inventadas. Na ilus�ria constru��o do pa�s do futuro, o Brasil segue, desde sempre, criando narrativas fantasiosas e expectativas desconectadas de suas realidades. E o que � pior: cantando-as em meio a “risos e alegrias para os palha�os no sal�o”. E assim empurramos, para 2023, a ilus�o de que tudo ser� melhor, at� mesmo o Carnaval. 

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