
Um gesto que n�o se inscreve como ato natural, o ato de aprender se relaciona com o desejo de buscar algo que nos falta, com a incompletude que sentimos diante dos fen�menos do mundo e das pessoas que nos rodeiam. Aprendemos quando conseguimos dar sentido � rede simb�lica que nos invade por meio da experi�ncia sensorial e, assim, desenvolvemos o mist�rio da abstra��o, manifesta��o essencialmente humana.
N�o � verdade que aprendemos fazendo. Aprender � um ato que vai al�m do reducionismo pr�tico contempor�neo. O processo de aprendizagem acontece quando somos capazes de abstrair o significado de algo e conseguimos, por meio da reflex�o, relacion�-lo ao sentido de estarmos no mundo. S� a partir da abstra��o conseguimos produzir um texto, calcular uma derivada, entender as rela��es qu�micas, refletir sobre as Leis de Newton, ler Shakespeare, chorar na companhia de Fernando Pessoa e construir conceitos filos�ficos.
A nova pedagogia, ao se valer apenas da atividade concreta, se funda em uma ideia desvirtuada de ser humano, se � que ela construiu alguma. O pr�prio conceito de “m�o na massa”, despossu�do de qualquer significado acad�mico, importado da cultura maker norte-americana, carece de uma musculatura conceitual mais r�gida. Ainda n�o entendemos o que isso quer dizer, caso queira significar alguma coisa al�m de “pr�tica”.
Colocar crian�as e jovens diante de parafern�lias coloridas, cheias de bot�es para downloads, viciadas em um eterno plug and play n�o as far� mais inteligentes, apenas mais ansiosas mesmo. Talvez, distanci�-las de habilidades reflexivas, ofertando metodologias pasteurizadas, distantes de qualquer abstra��o, seja apenas um projeto torpe que as entregar�, de forma alienante, � acelera��o do mundo atual.
Ao olharmos com admira��o para a educa��o grega e seus constructos simb�licos, como a democracia, o teatro, a filosofia e as Olimp�adas, � porque eles se dedicaram a formar sujeitos reflexivos, que entenderam o ato de educar como gesto abstrato, capaz de ajudar o ser humano a resistir � opress�o da sucessividade, como nos ensinou Borges.
Lemos com Her�doto, historiador grego, que os persas educavam seus filhos, dos 05 aos 20 anos, seguindo apenas tr�s preceitos: andar a cavalo, manejar bem o arco e dizer a verdade. Apenas tr�s habilidades fundamentais para orientar toda a educa��o na corte de Dario. Essa pedagogia do simples estava focada em tr�s compet�ncias b�sicas: o equil�brio, a concentra��o e a sabedoria.
Consultando a BNCC – Base Comum Nacional Curricular, documento da nova pedagogia que orienta a constru��o de programas de ensino em todo territ�rio nacional, encontramos, apenas em L�ngua Portuguesa, mais de 100 habilidades a serem desenvolvidas ao longo da Educa��o B�sica. Ser� que precisamos disso tudo mesmo? Seremos, com isso, mais completos que gregos e persas? S� o tempo ser� capaz de dizer.
Do lado de c� da hist�ria, ficamos apenas com a pergunta, capacidade abstrata presentada pelos deuses: de verdade, quais e quantas habilidades s�o necess�rias para o desenvolvimento de um ser humano equilibrado, saud�vel e s�bio?
De certa forma, escolher a melhor educa��o para os filhos �, antes de tudo, pensar essa quest�o fundamental.