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Estado de Minas COLUNA

20 anos dos EUA afundados no Afeganist�o

Oficialmente, a guerra custou cerca de US$ 1 trilh�o, equivalente ao programa de investimentos em infraestrutura dom�stica aprovado no Congresso dos EUA


15/08/2021 04:00 - atualizado 14/08/2021 17:14

Guerra do Afeganistão levou à morte de milhares de pessoas(foto: SHAH MARAI/AFP)
Guerra do Afeganist�o levou � morte de milhares de pessoas (foto: SHAH MARAI/AFP)
A vida � cheia de dilemas do tipo custo afundado. Esses custos s�o todos aqueles investimentos irrecuper�veis que algu�m fez em algo e que funcionam como uma barreira mental impedindo que se desista de um mau investimento. Tem a ver com um sentimento de avers�o a perda comum a seres humanos e outros animais.

Enquanto avers�o a perda � uma caracter�stica important�ssima da nossa humanidade, levar em conta custo afundado em decis�es objetivas � uma fal�cia. 

Assim, esses custos afundados s�o problem�ticos quando s�o usados para se fazer no presente uma proje��o sobre o futuro. O problema surge no sentido de que o passado aprisiona o futuro. A pessoa se agarra em algo em que j� investiu muito, mesmo que no presente as perspectivas n�o sejam boas.

Esse conceito, muito usado para avaliar empreitadas empresariais, serve para entender o dilema dos EUA nos quase 20 anos de ocupa��o do Afeganist�o . Evitem a fal�cia e saiam. E, se for para voltar, que voltem amigos do Afeganist�o.

Daqui a poucas semanas, no anivers�rio do fat�dico atentado de 11 de setembro em Nova York, as tropas americanas se retirar�o de vez da guerra mais longa da sua hist�ria.

Centenas de milhares de afeg�os morreram na guerra que, por conta de avan�os tecnol�gicos, custou a vida de um n�mero bem menor de combatentes americanos. 

Qualquer vida perdida em uma guerra evit�vel � muito, mas a habilidade de ter conseguido manter as casualidades abaixo de 3 mil soldados do lado dos EUA funcionou para esticar a corda por duas d�cadas. 

Segundo a Universidade Brown , entre custos diretos e indiretos a guerra levou US$ 2,2 trilh�es at� aqui. Oficialmente, a investida custou cerca de US$ 1 trilh�o no acumulado dos anos, valor equivalente ao programa de investimentos em infraestrutura dom�stica aprovado dias atr�s no Congresso dos EUA. 

Apesar de muito se falar de reconstru��o do Afeganist�o, do custo trilion�rio afundado na guerra, apenas cerca de US$ 40 bilh�es foram direcionados a ajuda humanit�ria e para o desenvolvimento do pa�s, o que, convenhamos, � um percentual baix�ssimo. 

O restante foi quase tudo para guerra e seguran�a. Os outros US$ 88 bilh�es que ficaram com os afeg�os foram direcionados para montar essas for�as de seguran�a locais que est�o caindo para os talib�s desde o momento em que os EUA iniciaram a retirada. 

O grande dilema americano durante todos esses anos foi do tipo custo afundado. Todo ano o futuro da ocupa��o se mostrava desastroso, mas todo ano se pensava em tudo o que j� tinha se investido e, investindo um pouco mais, seria poss�vel "consertar" o Afeganist�o.

O balan�o destrui��o/constru��o pende pesadamente para a situa��o custo afundado. 

Esse modelo de ocupa��o militar sem perspectiva de compromissos econ�micos e culturais funciona menos do que o colonialismo na �poca dos imp�rios ultramarinos, que ningu�m deseja que volte. J� no Afeganist�o isso � bem menos claro.

Os EUA entraram e em poucas semanas desalojaram os talib�s. Agora saem, e em poucas semanas voltam os talib�s com a viol�ncia de sempre. Legado? N�o se sabe.

A decis�o inicial de invadir Cabul em 2001, tomada no calor do atentado, foi equivocada. Na ocasi�o, falharam os pesos e contrapesos dos EUA, como tamb�m falhou a ONU.

N�o se declara guerra a um pa�s para se correr atr�s de um grupo estrangeiro em tal pa�s. Mesmo com o Afeganist�o invadido, l� se foram 10 anos at� conseguirem chegar a Osama bin Laden .
 
Sem a invas�o, a compaix�o no Oriente M�dio teria encontrado jeito de entregar o criminoso a um custo menor.

Muitos outros problemas brotaram da malfadada invas�o, e o passado segue teimando em n�o passar. Com a retirada dos EUA, quem est� voltando ao poder s�o precisamente os talib�s - em parte impulsionados pelo vizinho Paquist�o.

O grupo j� controla mais da metade das capitais provinciais do pa�s. Os EUA j� negociam para que os talib�s fa�am uma invas�o ordeira de Cabul. 

Na melhor das hip�teses, voltamos a uma situa��o t�o ruim quanto a de 20 anos atr�s. Logo, � hora de investir em algo diferente e menos mort�fero. Pois, quando o esfor�o vai para aquilo que voc� gosta, n�o existe dilema do tipo custo afundado. Isso vale para as rela��es pessoais e afetivas, mas tamb�m para muitas decis�es civis e pol�ticas. 

Os EUA podem investir a vida toda em seu pr�prio pa�s sem se questionar se o pa�s � vi�vel, nem imaginar que haveria retorno melhor investindo alhures. 

Por hora, aos afeg�os, afundados em suas terras ocupadas, resta mais uma vez lutar para quem � de luta; fugir para quem n�o � de morte; subir �s montanhas para tentar enxergar um futuro diferente e melhor para al�m da pilha de danos colaterais e destro�os ali deixados.  (Com Henrique Delgado)

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