
Um retrato � sempre uma surpresa. Fitar o pr�prio retrato � um desafio para a auto-consci�ncia. Foi o que aconteceu agora, com a esperada divulga��o dos primeiros resultados do Censo Demogr�fico de 2022, de longe o maior esfor�o sistem�tico de coleta de dados sobre nosso pa�s e o estado de sua popula��o.
constata��o num�rica chocou o pr�prio IBGE, respons�vel pela coleta nacional, que chegou a bater na porta de mais de 100 milh�es de endere�os, percorrendo o vasto territ�rio brasileiro desde agosto do ano passado.
constata��o num�rica chocou o pr�prio IBGE, respons�vel pela coleta nacional, que chegou a bater na porta de mais de 100 milh�es de endere�os, percorrendo o vasto territ�rio brasileiro desde agosto do ano passado.
IBGE enfrentou s�rias dificuldades para realizar este Censo, cuja partida em 2020 (a data correta seria num ano zero) fora adiada pela pandemia e, em seguida, agravada pelo inconceb�vel descaso da gest�o Bolsonaro/Guedes em rela��o �s verbas essenciais � realiza��o confi�vel de um levantamento de tal magnitude.
O Censo da popula��o, a cada dez anos, � o retrato do pa�s. Mirar nosso pr�prio retrato e avaliar como estamos � t�o vital quanto fazer exames de laborat�rio a intervalos razo�veis. “Como estamos, ent�o, doutor?”
A resposta do Censo 2022 � dram�tica para uma na��o que ainda acalenta o sonho do desenvolvimento acelerado. Os 203,1 milh�es de habitantes que aparecem na fotografia do Brasil chocaram at� o IBGE que, meses antes, havia projetado – por conta da demora de concluir o recenseamento – um n�mero populacional da ordem de 207 milh�es. Ficamos em 203 milh�es.
A curva da popula��o envergou, “a espinha quebrou”, denotando um fraqu�ssimo crescimento de 0,52% ao ano desde o Censo anterior (2010) quando a popula��o do Pa�s ainda crescia no ritmo de 1,2% ao ano. A velocidade de crescimento desabou a menos da metade. Menos crian�as por casal, menos jovens – enterrados por mortes violentas, menos adultos e idosos – tolhidos pela COVID-19, menos for�a de trabalho produtiva e riqueza financeira – pelos que decidiram fazer suas malas para tentar a sorte noutro pa�s.
A curva da popula��o envergou, “a espinha quebrou”, denotando um fraqu�ssimo crescimento de 0,52% ao ano desde o Censo anterior (2010) quando a popula��o do Pa�s ainda crescia no ritmo de 1,2% ao ano. A velocidade de crescimento desabou a menos da metade. Menos crian�as por casal, menos jovens – enterrados por mortes violentas, menos adultos e idosos – tolhidos pela COVID-19, menos for�a de trabalho produtiva e riqueza financeira – pelos que decidiram fazer suas malas para tentar a sorte noutro pa�s.
Quase nenhum novo imigrante, j� que o Brasil se tornou uma oportunidade frustrada at� para sofridos venezuelanos e haitianos que por aqui aportam. Tudo somado, entre pandemias e endemias, governos p�ssimos e mortes nas ruas e becos, nosso retrato continuou surpreendendo para pior.
Considero que o fen�meno catastr�fico de uma d�cada inteira de estancamento da economia, de Dilma Rousseff para c�, tenha sido fator decisivo para a decis�o de milh�es de casais e progenitores singulares, de simplesmente abandonar a ideia do pr�ximo filho.
Aconteceu uma conjun��o infernal: a forte eleva��o do custo de educar e cuidar de uma crian�a, de um lado, enquanto, por outro lado, minguavam as oportunidades para os pais dessa crian�a. A decis�o coerente, embora dif�cil, dos pa�s tem sido a de evitar mais filhos. Est� assim contratada a fal�ncia inevit�vel da previd�ncia social em poucos anos.
Considero que o fen�meno catastr�fico de uma d�cada inteira de estancamento da economia, de Dilma Rousseff para c�, tenha sido fator decisivo para a decis�o de milh�es de casais e progenitores singulares, de simplesmente abandonar a ideia do pr�ximo filho.
Aconteceu uma conjun��o infernal: a forte eleva��o do custo de educar e cuidar de uma crian�a, de um lado, enquanto, por outro lado, minguavam as oportunidades para os pais dessa crian�a. A decis�o coerente, embora dif�cil, dos pa�s tem sido a de evitar mais filhos. Est� assim contratada a fal�ncia inevit�vel da previd�ncia social em poucos anos.
Os lares se esvaziam. Mais de 40% dos munic�pios – entre capitais e interior – perderam popula��o. De uma m�dia nacional de 3,3 residentes por habita��o no Censo de 2010, o n�mero caiu abaixo de tr�s (agora s�o 2,8 habitantes por resid�ncia) embora o n�mero total de domic�lios tenha dado um salto, de 67,5 para 91 milh�es entre Censos, com aumento expressivo de resid�ncias sem ocupa��o ou de uso apenas ocasional.
O pa�s vai se esvaindo enquanto o tempo escorre. Lentamente vamos nos “perdendo”, enredados em conflitos in�teis e perplexidades paralisantes. Por ser um processo gradativo e suave, o perdimento n�o � percebido no dia-a-dia da nossa cont�nua aus�ncia de dinamismo vital.
O pa�s vai se esvaindo enquanto o tempo escorre. Lentamente vamos nos “perdendo”, enredados em conflitos in�teis e perplexidades paralisantes. Por ser um processo gradativo e suave, o perdimento n�o � percebido no dia-a-dia da nossa cont�nua aus�ncia de dinamismo vital.
Graves consequ�ncias nos aguardam. O baixo crescimento e as pol�ticas permanentes de incentivo ao n�o-trabalho, a puni��o di�ria a quem quer produzir e empregar, a reforma tribut�ria falsa que n�o ataca a quest�o dos encargos excessivos sobre os empregados formais, o alto custo de vida e a proposta atual de taxa��o hedionda sobre produtos essenciais - medicamentos, alimentos, transportes e habita��o, tudo somado cria um caldo pastoso de estagna��o imposs�vel de ser vencido por mais empreendedorismo, inova��o, solidariedade ou esfor�o educacional.
A resposta dos “ventres amargurados” do Brasil � silenciosa mas severa. � a resposta das m�es do futuro, que n�o mais ser�o. � o prematuro ocaso populacional de um pa�s ainda despovoado (varia de 4 a 92 habitantes por km2 nas cinco regi�es) onde praticamente tudo est� por fazer.
� enorme o d�bito moral das lament�veis elites dirigentes, encasteladas numa Bras�lia que decide consultando o pr�prio umbigo e respira os odores dos seus altos sal�rios e remunera��es secretas, enquanto o Pa�s real patina entre a taxa de juros mais alta do mundo e os mais elevados impostos contra o consumo e a produ��o que, por sinal, ser�o agravados, se votada a proposta oficial da desdita reforma tribut�ria.
� enorme o d�bito moral das lament�veis elites dirigentes, encasteladas numa Bras�lia que decide consultando o pr�prio umbigo e respira os odores dos seus altos sal�rios e remunera��es secretas, enquanto o Pa�s real patina entre a taxa de juros mais alta do mundo e os mais elevados impostos contra o consumo e a produ��o que, por sinal, ser�o agravados, se votada a proposta oficial da desdita reforma tribut�ria.
Definitivamente, desse jeito n�o pode dar certo.