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Estado de Minas DIREITO E SA�DE

O caso da estudante de medicina que ironizou a morte da paciente

Antes de m�dico � preciso ser humano, com respeito e empatia pelo sofrimento alheio. Rir da morte aproxima a estudante mais da psicopatia que da pr�tica m�dica


14/02/2022 07:29

Estudante reclamou, com ironia, em rede social, que a paciente morreu e ela não dormiu durante o plantão
(foto: Reprodu��o/Rede social)


O caso da estudante de 9º per�odo de medicina em Alagoas, que ironizou a morte de uma paciente na �ltima ter�a feira, repercutiu negativamente em todo o pa�s. A jovem exp�s o caso da paciente em uma rede social, compartilhando os dados pessoais e a condi��o de sa�de da enferma, com amigos. Queixou-se da interrup��o do hor�rio de descanso dela, e ao final ironizou o �bito da paciente, informa��o que foi ilustrada por uma alegre “selfie”, informando: “a mulher morreu, e eu n�o dormi”. Ap�s a divulga��o do fato, a estudante foi desligada do hospital municipal, e a faculdade est� discutindo poss�veis san��es.

A grande repercuss�o causada pelo fato se deu pelo fato de a estudante ter, em poucos minutos, praticado a maioria das infra��es �ticas, legais e morais mais reprov�veis dos profissionais da sa�de, mostrando total despreparo para um dia praticar a profiss�o que almeja.

Antes de m�dico, � preciso ser humano, mostrando um m�nimo de respeito e empatia com o sofrimento alheio. Esta � a ess�ncia maior da medicina, conforme suas origens na teoria hipocr�tica. E fazer gra�a com o sofrimento e a morte da paciente aos seus cuidados, pelo fato de lhe privar de algumas horas de sono, � algo que a aproxima mais da psicopatia do que do perfil necess�rio para a pr�tica da medicina.   
 
Para analisarmos a conduta da estudante, n�o nos excederemos em confront�-la ante o C�digo de �tica M�dica, regras que se mostram muito al�m de sua capacidade intelectual. O C�digo de �tica do Estudante de Medicina j� se preza a condenar completamente a conduta da estudante. E n�o precisamos explorar os 45 artigos do referido c�digo, mas somente um de seus 18 princ�pios iniciais:

V - O estudante de medicina guardara%u0301 absoluto respeito pelo ser humano e atuara%u0301 sempre em benefi%u0301cio deste com prude%u0302ncia, apresentando-se condignamente, cultivando ha%u0301bitos e maneiras que fac%u0327am ver ao paciente o interesse e o respeito de que ele e%u0301 merecedor (...).

Da an�lise do c�digo, podemos ainda identificar in�meras infra��es presentes no caso, como o art. 23 (empatia e respeito ao paciente), art. 25 (divulga��o sensacionalista), art. 28 (privacidade), art. 29 (sigilo), art. 32 (sigilo do prontu�rio), art. 34 (confidencialidade), art. 39 (solidariedade e respeito), dentre outros.

Para n�o nos estendermos pelo �bvio, podemos resumir o restante do c�digo de �tica em poucos termos, que j� ilustram a dist�ncia da conduta adotada das obriga��es assumidas pelo estudante: �tica, moral, valores, educa��o, respeito, sigilo, intimidade, empatia, humanidade, benefic�ncia, prud�ncia, sigilo e dignidade.  

Ainda mais do que todos n�s, como sociedade, os m�dicos e estudantes de medicina precisam refletir sobre o tema. Pois se o caso da estudante exp�s um pouco do que pode existir de pior nos corredores dos hospitais e universidades, revelou tamb�m fatos e atitudes que infelizmente s�o muito comuns no meio, por parte de profissionais e estudantes igualmente despreparados (que embora sejam minoria, existem em propor��o cada vez maior, o que � muito preocupante).

Pois no pr�prio grupo de amigos onde foi compartilhada a vergonhosa atitude da estudante, se houve membros que se revoltaram e a denunciaram, possivelmente houve outros que apreciaram a piada de mal gosto, e a compartilharam. O que estimula a continuidade de pr�ticas absurdas como esta, e disseminam o que h� de pior nas pessoas e na pr�tica da medicina, a mais bela das profiss�es, sendo praticada cada vez mais por profissionais sem a menor voca��o.

Criticar com firmeza casos como o presente � agir em defesa de toda a classe m�dica. Pois, infelizmente, a sociedade tem o p�ssimo h�bito de medir toda uma classe profissional conforme os piores exemplos. Relevar atitudes como a da estudante em quest�o acabam por macular toda a classe, inclusive a grande maioria que mant�m uma conduta que em nada se assemelha com a da estudante.

A profiss�o do m�dico demanda mais habilidades e recursos do que a maioria das demais. � uma profiss�o que encanta e atrai muitos jovens pelo status social, al�m das expansivas possibilidades financeiras. Mas ser m�dico � muito mais do que isso, e demanda mais ren�ncias do que qualquer outra profiss�o. Caso n�o esteja preparado para tamanhas ren�ncias, que se escolha outra profiss�o, pois m�dicos sem voca��o para o of�cio n�o s�o um benef�cio para a sociedade, mas sim, uma grande m�cula.

Quanto aos estudantes que, desde a universidade, mostram um perfil mais voltado para a com�dia m�rbida, deveriam optar por outra profiss�o que n�o a m�dica, como por exemplo a stand-up comedy. Mas nunca sem antes procurar um m�dico para se tratar, pois a pessoa que ironiza a morte do paciente sob seus cuidados claramente n�o tem equil�brio e esp�rito sequer para fazer piadas.

Renato Assis � advogado, especialista em Direito M�dico e Odontol�gico h� 15 anos, e conselheiro jur�dico e cient�fico da ANADEM. � fundador e CEO do escrit�rio que leva seu nome, sediado em Belo Horizonte/MG e atuante em todo o pa�s.


Se voc� tem cr�ticas ou sugest�es, escreva para [email protected]
 





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