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Estado de Minas RENATO ASSIS

Mais um �bito em cirurgia pl�stica, e mais um m�dico injusti�ado

A l�ngua portuguesa � uma megera. Mas n�o s�o erros, s�o distor��es dos fatos totalmente conscientes, com o objetivo de gerar desinforma��o, e ganhar likes


26/04/2023 14:34 - atualizado 26/04/2023 17:07

 Instituto Mineiro de Obesidade (Instituto IMO)
Mulher de 38 anos morreu na madrugada de ter�a-feira (25/4), depois de uma cirurgia pl�stica (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press)
Ontem finalizei o dia me questionando se h� vida inteligente em parte da imprensa. Sei que existe muita gente competente, mas foi exatamente este o sentimento, ao ver a forma como alguns ve�culos de comunica��o repercutiram a fatalidade ocorrida na madrugada passada ap�s uma lipoaspira��o, em um hospital de Belo Horizonte, sem que haja qualquer ind�cio de culpa do cirurgi�o.

Os exames da paciente comprovaram suas plenas condi��es de sa�de para se submeter � cirurgia, e ela foi devidamente informada sobre os riscos, consentindo com eles. A cirurgia transcorreu com normalidade, e s� 12 horas depois a paciente apresentou instabilidade, sendo imediatamente atendida pela equipe do hospital e pelo pr�prio cirurgi�o.

Infelizmente ocorreu o �bito, possivelmente por Tromboembolismo Pulmonar (TEP), uma complica��o amplamente prevista na literatura m�dica para cirurgias do g�nero, sem qualquer conex�o com erro m�dico, e que fez parte do consentimento da paciente (que era t�cnica de enfermagem, plenamente capaz de compreender os riscos).

Ainda assim, contra toda a l�gica t�cnica e cient�fica (e para surpresa de absolutamente ningu�m) parte da imprensa elegeu imediatamente como respons�vel pelo �bito, o cirurgi�o, que � devidamente qualificado para o procedimento, especialista em cirurgia geral, em cirurgia pl�stica e membro do CRM-MG e da SBCP-MG.

Algumas horas ap�s o �bito, a primeira not�cia divulgada sobre o assunto j� trouxe informa��es totalmente equivocadas, apontando a exist�ncia de uma condi��o preexistente como prov�vel causa do �bito. Demoraram horas para a corrigir, e at� l�, o m�dico foi v�tima de uma onda de ataques de internautas
enfurecidos, que foram induzidos a consider�-lo negligente pela equivocada reportagem.

V�rios rep�rteres me procuraram para comentar o assunto. Os recebi ainda pela manh�, e ap�s analisar os fatos, me comprometi a conceder uma entrevista dentro dos limites do que era sabido sobre o caso.

Ap�s iniciada a entrevista, surgiram perguntas relacionando o caso a assuntos que lhe s�o estranhos, com o claro objetivo sensacionalista. Encerrei a entrevista e condicionei meu consentimento ao uso leal do conte�do. Como esperado, preferiram n�o o utilizar.

Outra manchete publicada ontem, apontava o cirurgi�o como "processado e procurado". Ao ler a �ntegra da mat�ria, entendi que ele � processado, porque ele � parte em um processo judicial (assim como a maioria das pessoas) e procurado, porque a cita��o do processo ainda n�o foi entregue (mesmo se tratando de uma pessoa que passa os dias e as noites em sua cl�nica ou no hospital, facilmente localiz�vel).

Meu Deus, o homem � procurado pelo carteiro! Mas o uso malicioso das palavras, claramente induz ao equ�voco de entender se tratar de um fugitivo da justi�a.

Em outra reportagem inacredit�vel, a afirma��o do advogado do hospital, de que o nosoc�mio n�o teria qualquer responsabilidade por somente alugar a estrutura, foi transformada em uma acusa��o: o hospital disse que n�o � o respons�vel, portanto, disse que o m�dico �.

Sabemos que a l�ngua portuguesa � uma megera, mas isso n�o s�o erros, s�o distor��es totalmente conscientes, com o claro objetivo de induzir a erro e gerar desinforma��o, as famosas fake news.

Esta � a tr�gica situa��o em que o mal jornalismo coloca as pessoas envolvidas em qualquer fatalidade, jogando a sociedade contra elas e causando um verdadeiro e imediato linchamento social, sem qualquer possibilidade de defesa.

No caso das cirurgias pl�sticas, o m�dico � imediatamente apontado como carrasco, e o paciente como algu�m que ariscou sua vida, por mera vaidade. Al�m de todo o sofrimento dos familiares por perder o ente querido, e do cirurgi�o pela perda do paciente, h� pessoas que distorcem os fatos e agravam o sofrimento alheio, para ganhar cliques e likes.

Algo inacredit�vel.

Um dos rep�rteres com quem falei ontem afirmou: n�o � a primeira complica��o grave deste cirurgi�o, existe uma anterior! Ora, o cirurgi�o j� realizou mais de 3 mil cirurgias em sua carreira. 2 complica��es graves representariam um percentual de meros 0,00066%.

E quando falamos de complica��es em lipoaspira��o, h� estudos que indicam um �ndice de intercorr�ncias acima de 33%, e outros que apontam a ocorr�ncia de TEP (hip�tese considerada para o caso) em 14,77% dos casos de complica��es.

Como qualquer ser humano, o m�dico goza da presun��o de inoc�ncia, sobretudo em casos em que n�o h� qualquer ind�cio de culpa. Nem todas os eventos adversos s�o evit�veis, e imput�veis ao m�dico. A medicina n�o � uma ci�ncia exata, e o m�dico nunca ter� total dom�nio sobre o desfecho de uma cirurgia.

Sua obriga��o � utilizar a melhor t�cnica visando o melhor resultado poss�vel, sem qualquer garantia.

A cirurgia pl�stica envolve muitos riscos, mesmo no caso de pacientes jovens e saud�veis, e em que pese a ado��o de todas as medidas de precau��o de complica��es e intercorr�ncias.

O papel do cirurgi�o � informar o paciente acerca dos riscos, e obter seu consentimento. Caso isto ocorra adequadamente, o paciente assume todos os riscos de um eventual mal resultado (exceto caso este decorra de culpa do m�dico).

Eventos adversos n�o evit�veis podem ocorrer em qualquer procedimento m�dico invasivo (e at� os n�o invasivos), e n�o s�o sin�nimo de erro m�dico. O erro deve ser provado, e nunca presumido.

Obviamente, existem muitos casos nos quais m�dicos erram causando danos aos pacientes, assim como h� casos de pacientes que negligenciam as orienta��es dos m�dicos e agravam o pr�prio estado de sa�de. Mas ao que tudo indica, nenhuma destas condutas ocorreu no presente caso, mas sim uma triste fatalidade,
na qual o cirurgi�o � t�o v�tima quanto a paciente (em propor��es obviamente
diversas).

Casos como o presente precisam ser abordados pela imprensa de forma isenta e profissional, livre do preconceito e do estigma com o qual perseguem os m�dicos, sobretudo cirurgi�es pl�sticos. O assassinato de reputa��es que ocorre sempre que h� uma fatalidade, mesmo sem qualquer indicativo de culpa do m�dico, � absurdo.

O m�dico, que, via de regra, � t�o v�tima quanto o paciente, � condenado sumariamente pela imprensa e apedrejado nas redes sociais, a verdadeira pra�a p�blica da era moderna. Sem possibilidade de defesa e com requintes de crueldade, como na idade m�dia.

N�o h� nada que indique a culpa do m�dico, no caso em quest�o. A certeza s� existir� ao final das investiga��es, e ap�s o devido processo legal. Conden�-lo sumariamente � absurdo. Se voc� apoia esta pr�tica, reflita, pois amanh� o acusado de algo pode ser voc�.

  • Renato Assis � advogado, especialista em Direito M�dico e Odontol�gico h� 16 anos, e conselheiro jur�dico e cient�fico da ANADEM. � fundador e CEO do escrit�rio que leva seu nome, sediado em Belo Horizonte/MG e atuante em todo o pa�s.
  • [email protected]

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