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Estado de Minas GEOPOL�TICA

Caos no Cazaquist�o: um olhar atento a isso

Protestos pela alta nos pre�os dos combust�veis no Cazaquist�o se tornaram violentos, levando coaliz�o militar liderada pela R�ssia a enviar tropas ao pa�s


10/01/2022 07:07 - atualizado 10/01/2022 10:40

Conflito com a polícia durante protesto no Cazaquistão
Conflito com a pol�cia durante protesto no Cazaquist�o (foto: Alexander PLATONOV / AFPTV / AFP)


O ano de 2022 amanheceu mais tenso na �sia Central. No dia 2 de janeiro, grandes manifesta��es eclodiram na regi�o oeste de Mangistau e Almaty, no Cazaquist�o, um dia ap�s o an�ncio do aumento exorbitante do pre�o do combust�vel, especialmente, o g�s liquefeito de petr�leo (GLP). 

Segundo os analistas, somada ao aumento dos combust�veis, h� uma insatisfa��o com o sistema pol�tico e com as quest�es econ�micas do governo autorit�rio de Kassym-Jomart Tokayev (acusado de opress�o, pris�o dos opositores para permanecer no poder), que corroboram com o cen�rio de tens�o que se instalou no pa�s, desde ent�o. 

O Cazaquist�o possui a maior extens�o territorial (com tr�s fusos hor�rios) e � o mais rico da �sia Central, gra�as �s ricas reservas de petr�leo, g�s natural e de ur�nio (maior fornecedor global, com produ��o de 40% de todo ur�nio do mundo). Uma parte de suas fronteiras � compartilhada com a R�ssia (uma das maiores do mundo, com mais de 7.000 km) e com a China, o que o coloca numa posi��o estrat�gica invej�vel na regi�o. 

O pa�s � uma das 15 na��es que surgiram com a fragmenta��o da ex-URSS, em 1991, e, com a R�ssia e a Ucr�nia, forma a tr�ade de maior desenvolvimento econ�mico, depois da desagrega��o sovi�tica. 

A riqueza, todavia, n�o � bem distribu�da. O sal�rio m�dio � de 500 euros e a corrup��o corre solta, como em boa parte das na��es subdesenvolvidas. Apesar desse cen�rio, nunca haviam ocorrido levantes dessas propor��es. A fa�sca foi o aumento do GLP, que dobrou de pre�o, no primeiro dia do ano.

Segundo o Whashington Post, entre 70 a 90% dos ve�culos s�o movidos a GLP. A pandemia da COVID-19 afetou a economia do pa�s e os subs�dios do governo � energia foram suspensos. Com o aumento do valor do combust�vel,  o panorama foi agravado, comprometendo outras cadeias produtivas, como a de alimentos, cujos pre�os est�o inflacionados desde o in�cio da pandemia.

As tens�es agravaram e o presidente declarou estado de emerg�ncia no pa�s. A R�ssia tentou se manter distante, acreditando em uma a��o r�pida e satisfat�ria do governo, mas viu-se obrigada a agir com o enfraquecimento de Tokayev. 

H� suspeitas de interfer�ncias externas, pois, mesmo ap�s o governo anunciar a ren�ncia do seu gabinete (o que causou revolta entre o cl� de Nursultan Nazarbayev, ex-presidente, destitu�do do poder),recuar no aumento dos combust�veis e prometer transforma��es pol�ticas, as manifesta��es continuaram. 

O agravamento das tens�es levou o presidente cazaque a pedir ajuda a Organiza��o do Tratado de Seguran�a Coletiva (OTSC), a alian�a criada em 2003, que tem a R�ssia como maior lideran�a. Tokayev, ao buscar apoio, demonstra n�o confiar totalmente no aparato de seguran�a, que at� o dia 06/01 estava nas m�os de pessoas ligadas a Nursultan Nazarbayev. Imagens de for�as policiais e soldados simpatizando com os manifestantes foram divulgadas, aumentando essas suspeitas.

H� alguns ind�cios de que os movimentos tenham surgido dentro do governo ou apoiados por membros do alto escal�o governamental, uma vez que h� representantes acusados de alta trai��o e o grande n�mero de policiais mortos, fato que � bem raro nesses cen�rios. 

Pela primeira vez na hist�ria da OTSC, o Governo do Cazaquist�o invocou a Artigo 4, a cl�usula que afirma que um ataque armado a um dos membros ser� considerado um ataque a todos (muito similar ao Artigo 5 da OTAN). Nas primeiras horas do dia 06 de janeiro, Tokayev pegou o telefone da Organiza��o e pediu apoio. 

Em poucas horas, milhares de paraquedistas e for�as especiais russas e bielorussas estavam a caminho de Almaty, a capital econ�mica do pa�s, onde havia uma das maiores manifesta��es. O intuito foi o de controlar o levante. Os demais membros (Quirquist�o, Arm�nia e Tadjiquist�o) enviaram apoio, mesmo que em menor n�mero. 

A situa��o tensa evoluiu, com dezenas de civis e policiais mortos (mais de 160), al�m de milhares de feridos (mais de 5800). As medidas adotadas pelo presidente n�o dispersaram os manifestantes, que passaram a exigir a expuls�o de toda a for�a pol�tica regional (indicada pelo presidente, desde a independ�ncia, em 1991). N�o havia antes uma oposi��o real a essas autoridades. 

Tokayev prometeu uma resposta en�rgica aos manifestantes, a quem chamou de criminosos terroristas, treinados no exterior. O l�der recusou qualquer negocia��o e deu ordens de “atirar para matar”.  A rede de internet foi cortada no pa�s, como meio de evitar a propaga��o de imagens e informa��es.  Um efeito colateral da suspens�o da internet foi sobre o bitcoin, j� que o Cazaquist�o � o segundo “produtor” dessa criptomoeda. Em poucas horas a queda da produ��o foi de 12%.

Mas ainda n�o h� uma vis�o clara dos componentes sociol�gicos dessas manifesta��es. Cada lideran�a que se projeta, a pol�cia prende. Parece um movimento multifacetado, com atores insatisfeitos com o cen�rio econ�mico atual. A estabilidade do pa�s foi colocada em xeque. Manifesta��es destas propor��es n�o eram comuns. A maior ocorreu h� mais de 10 anos. 

Toda essa tens�o eclodiu dias antes do encontro entre os emiss�rios da R�ssia e dos EUA, em Genebra, com o objetivo de tra�ar um plano de neutraliza��o da crise ucraniana, previsto para o dia 10 de janeiro. 

O Kremlin acusa o Ocidente de lan�ar uma nova “Revolu��o Colorida”, �s v�speras das principais negocia��es, para enfraquecer Putin e a sua presen�a massiva na fronteira da Ucr�nia, que alimenta os riscos constantes de uma guerra. Moscou n�o aceita os protestos no Cazaquist�o como genu�nos.

Uma a��o militar comandada por Moscou na antiga rep�blica sovi�tica ainda, � incerta. Em parte, devido � presen�a militar russa na Ucr�nia e aos custos que isso implica. Mas uma enxurrada de tropas russas foi enviada para a regi�o. Putin quer deixar claro que n�o permitir� nenhuma interfer�ncia externa nos pa�ses da ex-URSS, considerados por ele espa�o inviol�vel da influ�ncia da R�ssia. 

Os interesses russos no Cazaquist�o s�o m�ltiplos. Envolvem o Cosm�dromo de Baikonur (a primeira e a maior  base de lan�amentos de foguetes do mundo, emprestada � R�ssia a um custo de 115 milh�es de d�lares anuais), as reservas de g�s do pa�s para equilibrar a produ��o interna quando essa � insuficiente, as reservas de ur�nio e os russos �tnicos presentes no pa�s. Al�m, de ser um meio de reafirmar sua hegemonia regional. 

A China, principal parceiro comercial, tem um interesse expressivo na estabilidade do territ�rio cazaque.  O vizinho fornece, aproximadamente, 5% do g�s natural consumido pelos chineses e o Cazaquist�o � um pa�s chave para o megaprojeto “Belt and Road Iniciative”. Os chineses continuam observando como falc�es cada ato, e parecem felizes com a atua��o russa. 

O cen�rio � muito complexo. H� de se considerar a pr�pria sociedade cazaque. Muitos s�o jovens e n�o viveram os processos revolucion�rios que antecederam a independ�ncia. O fortalecimento do Islamismo na regi�o, com a vit�ria do Talib�s, no Afeganist�o, pode exercer influ�ncia sobre esses jovens. Os l�deres mais antigos da era sovi�tica podem ser rejeitados pela nova gera��o que cresceu sob a independ�ncia e em um ambiente muito mais inspirado no Isl�. 

Os EUA pouco podem fazer. Nem um embaixador possuem l�, nesse momento. Podem dizer �s autoridades para retomar a normalidade da internet, evitar a viol�ncia e pressionar, a longo tempo, a realiza��o de elei��es livres. Mas pr�ticas, como san��es econ�micas, n�o s�o adequadas. As principais empresas de energia norte-americanas est�o profundamente integradas � economia do pa�s. As san��es afetariam a produ��o e o fornecimento de combust�veis dessas empresas, impactando e economia de forma mais global. 

As cartas da geopol�tica global foram novamente colocadas � mesa. A presen�a russa gera incertezas e pode comprometer a soberania cazaque. Se Tokayev for bem sucedido, controlar as tens�es e se sobrepuser � dinastia de Nazarbayev, com o apoio de Putin, fica em d�vida com Moscou. Uma “nova Belarus” das estepes pode surgir da�.  S�o cenas dos pr�ximos cap�tulos. Por enquanto, s�o especula��es. 

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