
Eu carrego comigo, quase sempre, um sentimento de algo inacabado. Muitos momentos impunham um tempo de espera para ter resultados, pois n�o fuipaciente para termin�-los, muitas vezes por falta de est�mulos.
As causas do abandono n�o s�o claras. Pode ser porque n�o valiam mais a pena ou porque as circunst�ncias se modificaram. Aspirar a algo sem tempo de cumprimento pode gerar esse afastamento da expectativa inicial. A aus�ncia do prazo de conclus�o dilui o desejo e desvanece a ambi��o de implement�-lo.
Tudo tem seu tempo e hora. Quantas vezes se escuta isso! Uma frase ultrapassada nos tempos modernos, quando tudo tem que ser para ontem. Esperar j� n�o � um verbo f�cil de conjugar. Esperar implica o tempo de um desejo que pode n�o mais pulsar na intensidade do dia anterior. O tempo e a sua rapidez, que impressionam, fazem essa espera n�o ser mais justificada.
Os motivos da espera, que em algum momento fizeram sentido, porque se acreditava que valeria a pena, v�o se enfraquecendo. Queremos viver agora. Queremos ir �quele lugar hoje. Amanh�, talvez esse desejo possa ser realizado num piscar de olhos, mas j� n�o importa mais. Queremos os arrepios da pele provocados pelo ro�ar daqueles l�bios e o toque atrevido das m�os ao longo desse dia. Fa�a o favor de atender. N�o ponha para esperar. Nesse tempo seus l�bios e suas m�os podem n�o mais interessar.
N�o pe�a tempo ao outro. Mas se o fizer, que o fa�a com uma promessa, embasada em palavras mais fortes que todas as outras m�s palavras que surgir�o com a tentativa de afastar a espera. A �nica possibilidade de se reconectar com a esperan�a (e a manuten��o da vig�lia) s�o as lembran�as, mesmo t�nues de palavras e gestos. S�o essas mem�rias que ir�o encorajar o outro a viver na letargia da expectativa, mesmo com os infort�nios que venham a surgir.
A espera subordina o outro. O que se espera � o objeto dominador. Resta saber at� que ponto cogita manter esse poder sobre voc�. Permanecer no estado de espera � viver na incerteza. � projetar um futuro sobre as sombras do passado. E o passado, quase sempre, deve ser mantido onde est�: no passado. Quem coloca em espera manipula o tempo do outro. Mant�m o outro cativo e subordinado, transformando-o em um ser impotente e sem o controle da pr�pria vida.
N�o se prenda ao tempo, quase sempre, “perdido” da espera. Mude as rotas, siga outras setas, mais livres, menos aprisionadas. Fique com o outro n�o porque voc� precisa dele, mas apenas porque o ama. Essa � a mais nobre de todas as formas de partilha de sentimentos: eu apenas amo voc�. � a transforma��o dos sentimentos em amizade sincera. Aquela que n�o imp�e. Est� l�, mesmo quando se encontra distante.
A espera impede de crescer com novos experimentos. Quem ama, n�o coloca o outro em estado de pausa. N�o estabelece prazos. Pedir um tempo significa que essa pessoa n�o quer mais estar com voc�, mas n�o o(a) quer perder. � injusto pedir ao outro para esperar, pois quem o faz pensa apenas nele. Deseja que o outro o espere, enquanto organiza o que sente. Ningu�m merece aguardar a indecis�o alheia.
�s vezes, � necess�rio, apenas ir. Ir, paraconhecer outros horizontes, emocionar-se com “novas loucuras”, encontrar seu caminho. N�o fique onde n�o h� crescimento. Seja livre. A dist�ncia o fortalece e a solid�o o inspire a outras ideias. N�o se reprima.