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Estado de Minas GEOPOL�TICA

Genoc�dio: alguns eventos de exterm�nio em massa no S�culo XX

O genoc�dio, de acordo com a Conven��o da ONU, corresponde � destrui��o total ou parcial de um grupo nacional, �tnico, racial ou religioso


06/02/2023 07:41 - atualizado 06/02/2023 09:00

Agente de saúde segura bebê indígena Yanomami no Hospital de Campanha da FAB, construído dentro da Casa de Saúde Indígena na cidade de Boa Vista (RR)
Agente de sa�de segura beb� ind�gena Yanomami no Hospital de Campanha da FAB, constru�do dentro da Casa de Sa�de Ind�gena na cidade de Boa Vista (RR) (foto: Michael DANTAS / AFP)
O termo genoc�dio (um h�brido do grego “genos” -ra�a- com o sufixo do latim “cidium”

- matar ou cortar-) foi utilizado pela primeira vez durante a Segunda Guerra Mundial, por Raphael Lemkin, um advogado de origem polonesa, ao caracterizar, em 1944, a pr�tica de exterm�nios de na��es e grupos �tnicos, como judeus, grupo ao qual pertencia. 

Esse neologismo significa, de acordo com o Artigo 2 da Conven��o das Na��es Unidas sobre a Preven��o e Puni��o do Genoc�dio (1948), a destrui��o total ou parcial de um grupo nacional, �tnico, racial ou religioso. O Holocausto (“cat�strofe”, em hebraico), ocorrido durante o per�odo da Segunda Guerra Mundial, resultou no assassinato de quase 6 milh�es de judeus, de origem europeia, pela Alemanha nazista e seus colaboradores ao longo de 6 anos do mais sangrento conflito da humanidade. 

Lemkin, que cunhou o termo “genoc�dio”, foi tamb�m uma de suas v�timas. Quarenta e nove membros de sua fam�lia, incluindo a m�e e o pai, foram presos no leste da Pol�nia e executados nas c�maras de g�s em Treblinka, em 1943. Foi gra�as, em parte, aos seus esfor�os que a Conven��o da ONU foi criada e ratificada. Entretanto, morreu em 1959, sozinho, pobre, sem amigos e sem ver nenhuma pessoa condenada pelos crimes a que deu nome.

Posteriormente, de forma retrospectiva, a express�o foi usada para descrever o massacre sistem�tico de outros grupos no in�cio do S�culo XX e para o que ocorreu em Ruanda, em 1994.

O exterm�nio de 80% do povo Herero e 50% do povo Nama, entre 1904 e 1908, � considerado o primeiro genoc�dio do s�culo passado. Essas sociedades foram exterminadas pelas for�as alem�s do Segundo Reich, no territ�rio da atual Nam�bia, no sudoeste africano.  Aproximadamente, 65.000 Herero e 10.000 Nama foram mortos.  

As v�timas morreram devido aos trabalhos for�ados durante a constru��o de ferrovias, de maus-tratos (independentemente de g�nero e idade), viola��o de mulheres e desnutri��o (a fome proposital foi uma das armas utilizadas contra esses povos).  Infelizmente, a hist�ria n�o dedica grande espa�o a esse evento. Os primeiros campos de concentra��o alem�es surgiram em 1905, nessa regi�o. Portanto, a pr�tica j� era conhecida pela Alemanha antes da grande guerra que assolou o mundo, entre 1939 a 1945.

O genoc�dio arm�nio, entre 1915 e 1917, que os governos turcos se recusam a reconhecer, dizimou mais de um milh�o de arm�nios crist�os, do pequeno territ�rio localizado na rota estrat�gica de liga��o entre a �sia e a Europa, nas montanhas do C�ucaso. Os povos arm�nios foram eliminados pelos turcos otomanos, de forma intencional e planejada ao longo da Primeira Grande Guerra, com o claro objetivo de varr�-los da face da Terra , segundo a maioria dos historiadores.

A incipiente participa��o arm�nia na pol�tica otomana, no final do S�culo XIX, talvez seja o ponto crucial nas a��es governamentais que levaram ao in�cio do massacre de comunidades arm�nias, seguindo as ordens do sult�o, espalhadas pelo imp�rio, at� ao desfecho de exterm�nio de todo um povo, concomitantemente � Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Com a restaura��o da Constitui��o Otomana, em 1908, as comunidades crist�s foram, pela primeira vez na hist�ria do Imp�rio Otomano, integradas na vida pol�tica do pa�s: tinham direito de voto, de eleger deputados, de participar do recrutamento de soldados. Mas a harmonia durou pouco.  � medida que o imp�rio perdia possess�es na Europa, a ideia de uni�o de uma sociedade multi�tnica e multiconfessional se tornou uma utopia.

Assim, disseminar entre os turcos a ideia dos arm�nios como uma na��o de infi�is e traidora foi algo que n�o exigiu muito esfor�o. Somado ao temor de perder um territ�rio estrat�gico que permitia uma recupera��o da Turquia Asi�tica, deram in�cio ao processo de remo��o dessa sociedade, o que  originou um dos mais sangrentos genoc�dios esquecidos e ignorados pela humanidade.

H� defensores de que o esquecimento da aniquila��o dos arm�nios durante a Primeira Guerra Mundial tenha alimentado os planos de exterm�nio de judeus pela Alemanha nazista, na Segunda Grande Guerra. Afinal a omiss�o hist�rica ao que ocorreu no C�ucaso poderia se repetir com a elimina��o dos judeus nos campos de concentra��o, favorecendo os interesses do Terceiro Reich. A hist�ria mostrou que estavam enganados: o Holocausto � uma das barb�ries mais citadas da humanidade.

N�o h� como negar que o projeto de exterm�nio judaico foi constru�do no per�odo entreguerras   por Hitler, seus l�deres mais influentes e com a anu�ncia de civis. C�maras de g�s e cremat�rios gigantescos n�o se constroem de um dia para o outro. Pessoas comuns se envolveram com essas obras durante anos e n�o questionaram ou condenaram o objetivo das constru��es.

Hitler fez men��o aos massacres que ocorreram no passado, em v�rias ocasi�es, e tirou deles a li��o necess�ria:  durante uma guerra total pode-se massacrar uma popula��o civil impunemente. Era isso que ele evidenciava no seu c�lebre discurso que fez no dia 22 de agosto 1939, diante de seus generais, � v�spera de invadir a Pol�nia.

Na sua fala, a ordem durante essa invas�o era que matassem massas de civis poloneses para ampliar o espa�o vital alem�o. Referiu-se tamb�m �s hordas assassinadas por Genghis Khan e dizima��o dos arm�nios – “Quem ainda hoje fala do exterm�nio dos arm�nios?”  e acrescentou: “o mundo s� acredita no sucesso”. 

O seu discurso demonstrava o claro planejamento da destrui��o dos “inimigos do povo alem�o”, que inclu�a de judeus, ciganos, Testemunhas de Jeov�, homossexuais, entre outros, cuja extin��o sistem�tica estava programada.

Tampouco, n�o h� nada que indique que o Holocausto n�o teria ocorrido caso os respons�veis pelo massacre arm�nio tivessem sido punidos, mas o sil�ncio e o esquecimento pol�tico que se seguiu na �poca pode ter colaborado para os horrores dos campos de concentra��o nazistas.

Ap�s as tentativas de exterm�nio dos arm�nios e judeus da Europa, o genoc�dio dos tutsis, em 1994, � tido como um dos �ltimos genoc�dios do S�culo XX. Orquestrado pelo partido governante, dominado pela etnia hutu de Ruanda, na regi�o do grande rift africano, o massacre fez um milh�o de v�timas no espa�o de 3 meses, entre abril e junho daquele ano.

De forma distinta ao genoc�dio dos judeus, a matan�a dos tutsis n�o se concentrou em locais espec�ficos, como nos campos de exterm�nio.  O assassinato planejado ocorre no espa�o da vida cotidiana do povo ruand�s. A partir de 7 de abril de 1994, barreiras foram erguidas em todas as encruzilhadas estrat�gicas, inicialmente, na capital Kigali, depois em todo o pa�s.

Todos aqueles que portavam uma carteira de identidade com a identifica��o “tutsis” eram mortos na hora.  O envolvimento da popula��o civil nos massacres � um dos tra�os marcantes desse genoc�dio.  Os assassinos eram agrupados em pequenas forma��es, determinados a matar e inclu�am tanto homens jovens quanto mulheres e at� crian�as.

Haximu, uma regi�o montanhosa na fronteira do Brasil com a Venezuela, onde 16 pessoas da tribo Yanom�mi, em 1993, foram mortas por garimpeiros, tornou-se o primeiro crime considerado genoc�dio no pa�s.  H� 30 anos, o Brasil era palco desse crime b�rbaro, conhecido como o massacre de Haximu.

O massacre da comunidade Yanom�mi de Haximu, na Amaz�nia venezuelana, foi perpetrado por vinte e dois garimpeiros brasileiros. Nesse violento ataque, foram massacrados homens, mulheres, crian�as e idosos, incluindo um beb�, que foi desmembrado a golpes de fac�o. Os sobreviventes, at� hoje, clamam por justi�a. A condena��o foi tardia e, em 2011, todos os criminosos foram libertados. Atualmente, o �nico assassino ainda vivo continua entre os garimpeiros que devastam as terras ind�genas dos Yanomami.

Todavia, a triste realidade � que os territ�rios desse povo continuam invadidos por garimpeiros clandestinos, que poluem os rios com merc�rio e destroem a floresta.  A expuls�o desses exploradores nunca foi conclu�da e, nos �ltimos anos, a presen�a desses grupos, junto com os impactos sobre o meio ambiente, foi superior � de d�cadas anteriores. 

A tentativa de dizimar o povo Yanomami tem objetivos claros de apossar de um territ�rio rico em recursos minerais, que atraem a gan�ncia dos “brancos”. As den�ncias das a��es do garimpo e abandono dessa sociedade pelo governo anterior ganharam as p�ginas dos meios de comunica��o nos �ltimos dias e chocaram parcela expressiva da sociedade brasileira e mundial. 

Lemkin, l� nos idos de 1944, disse que “o genoc�dio constitui uma nova t�cnica de ocupa��o destinada a conquistar a paz, mesmo que a guerra seja perdida”. Talvez isso explique as a��es repetidas de aniquilar uma sociedade, seja aqui no Brasil , seja em qualquer lugar do mundo: perde-se a guerra, mas conquista-se a paz, mesmo com uma mancha de barb�rie humana. 

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