
Durante o final de semana a internet se movimentou com um v�deo de tr�s universit�rias da cidade de Bauru debochando de uma rec�m ingressa para o Curso de Biomedicina, que contava com quarentas anos de idade. No v�deo, uma delas perguntava como se fazia para desmatricular a colega, outra afirmava que ela j� deveria estar aposentada, uma outra determinava que ela n�o teria mais idade para estar na Universidade e outra arrematava afirmando que ela, a mulher de quarenta anos, nem mesmo sabia o que era o Google. O tom pretensioso e arrogante das jovens mostrava claramente que no mundo criado por elas s� cabiam os muito jovens, como se isto fosse um crit�rio de pertencimento para ser aceito no mundo acad�mico.
Se pararmos para refletir, muitas vezes o que move as a��es de preconceito � exatamente o fato de os agressores terem a certeza, ainda que fict�cia, de que nunca ocupar�o o lugar hoje ocupado pelo ofendido. N�o respeitam aquilo que � diferente e, portanto, por raz�es que somente a psicologia pode come�ar a esbo�ar, n�o nutrem simpatia por aquilo que nunca, em suas cabe�as, se tornar�o.
No entanto, com o preconceito proveniente da idade tal situa��o n�o se mostra na pr�tica, j� que os ofensores de hoje ser�o, necessariamente, salvo em caso de morte, os ofendidos de amanh�. Quem hoje acredita que pessoas com quarenta anos devem rejeitar, por exemplo, ao desejo pelo conhecimento pura e simplesmente em raz�o da idade, ser�o os mesmos que ter�o os seus netos tendo a��es de preconceitos para com eles e n�o poder�o dizer nada, pois educaram seus filhos para assim agir.
Quando parte de uma juventude alienada debocha da maturidade, ela demonstra claramente que, ou perdeu - ou ainda nem ingressou - no trem da hist�ria ou est� muito ligado nas suas bolhas de redes sociais, se esquecendo que o mundo � muito maior que seu engajamento nas redes.
Talvez as jovens paulistas privilegiadas n�o saibam ainda que acreditar que pessoas com mais de quarenta anos n�o podem ter acesso ao conhecimento �, antes de tudo, uma imbecilidade sem precedentes, mas � tamb�m n�o reconhecer o poder das trocas. N�s, os maiores de quarenta que j� frequentamos o ambiente universit�rio e sabemos que nossos colegas mais maduros eram os que melhor nos ensinavam. Quem n�o se lembra de uma colega de sala mais velha que as vezes mostrava um ponto de vista que nenhum da roda tinha conseguido alcan�ar, j� que nossa imaturidade n�o nos permitia ir al�m de nossos restritos mundos dom�sticos?
Provavelmente, por nunca terem frequentado o mundo acad�mico, as jovens n�o sabem ainda que as melhores trocas que temos dentro da Universidade s�o, na imensa maioria das vezes, com professores acima dos quarenta anos que, pelos anos de estrada no magist�rio, aprenderam a conhecer tamb�m um pouco da atormentada alma universit�ria. As trocas com os colegas mais novos s�o �timas, mas as orienta��es de um bom professor ou de um colega, geralmente acima dos quarenta, a gente nunca esquece, s�o para a vida.
As universit�rias de Bauru ainda s�o jovens e depois da repercuss�o daquilo que fizeram, certamente parar�o para refletir e, esperamos, um dia, aprendam a n�o diminuir aquilo lhes � diferente. O que assusta � que elas n�o s�o uma exce��o em um mundo de respeito �s pessoas maduras, ao contr�rio, elas s�o fruto de uma sociedade que elevou a juventude a valor moral, que v� o avan�ar dos anos como algo que precisa ser combatido a qualquer custo; que acredita que quem n�o � jovem tem menos valor. Os nossos jovens s�o provenientes dessa sociedade doente que at� mesmo para vender creme antirrugas convida uma modelo vinte anos mais nova do que consumidora que usar� o produto, tudo por temor de envelhecer a marca, se � que algu�m sabe explicar o que isto significa.
O absurdo n�o s�o as universit�rias de Bauru, elas s� s�o a ponta de um iceberg que mostra que parte da juventude est� muito engajada nas redes sociais, mas � preconceituosa na realidade, uma parcela de pessoas etaristas, que acreditam que as pessoas maduras precisam se retirar do mundo para que elas possam viver, j� que a conviv�ncia seria imposs�vel, reservando-lhes unicamente o papel de pagadores.
Tem uma f�bula que diz que um filho, cansado de ver o pai, velho e doente, jogar comida ao ch�o quando se alimentava, mandou os empregados o servirem em uma gamela no ch�o. Um dia, ao chegar em casa, esse filho viu seu pr�prio filho brincando com madeira e lhe perguntou o que ele estava fazendo, ao que foi respondido que estava a lhe fazer uma gamela para lhe servir a comida quando ele ficasse velho, j� que ele tinha feito isto a seu av� e considerava isto, ent�o, a atitude correta a se ter.
Em qual mundo queremos viver, o da gamela?