(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas FAZER O BEM SEM OLHAR A QUEM

Mulher decide fazer gentilezas para estranhos todos os dias por um ano

Bernadette Russell fez diz que essa experi�ncia mudou sua vida. Mas como ela fez isso? E o que acontece com nosso c�rebro quando somos legais com os outros?


24/03/2022 22:04 - atualizado 25/03/2022 09:06


Mãos passando papel higiênico de uma cabine para outra em banheiro público
Ser gentil n�o custa nada... (foto: Getty Images)

"Voc� poder� achar que a bondade � sinal de fraqueza, ilus�o ou transig�ncia, mas, na verdade, ela � fundamental para a forma como nos conectamos."

Quem afirma � Robin Banerjee, do Centro de Pesquisa da Bondade da Universidade de Sussex, no Reino Unido.

"Para mim, ser am�vel � parte do prop�sito de estar vivo", afirma Bernadette Russell, ativista pela gentileza.

J� para Nina Andersen, fundadora do projeto Community Senior Letters, "os atos de bondade s�o necess�rios no mundo, agora mais do que nunca".

Robin Banerjee, Bernadette Russell e Nina Andersen falaram com a BBC sobre o poder extraordin�rio da bondade e da gentileza e seu impacto sobre a nossa pr�pria sa�de mental.

O extraordin�rio poder da bondade

"Em 2011, eu estava sentada em uma lanchonete, tomando meu caf� da manh�, quando olhei para uma televis�o e havia um �nibus de dois andares em chamas em Londres", conta Bernadette Russell.

O que ela estava vendo eram os maiores dist�rbios da hist�ria moderna da Inglaterra, desencadeados pela morte de Mark Duggan, de 29 anos, que foi assassinado a tiros pela pol�cia em Tottenham, no dia 4 de agosto de 2011.

"Parecia uma guerra civil", relembra Russell. "E houve uma rea��o muito negativa aos dist�rbios que tamb�m me perturbou muito. Comecei a ficar cada vez mais desesperada por ver como s�o enormes os problemas do mundo. E n�o sabia o que podia fazer."


Ônibus de dois andares em chamas
O �nibus londrino de dois andares envolto em chamas, em 2011 (foto: Getty Images)

Alguns dias mais tarde, Russell estava em uma ag�ncia dos correios e viu que faltavam algumas moedas para um estranho comprar um selo. E ela deu a ele as moedas.

"Sua gratid�o foi muito grande em compara��o com o pouco tempo e dinheiro que gastei. Mas pensei: 'coloquei um sorriso no seu rosto' e isso me fez bem. No caminho de volta para casa, bolei um arriscado plano de fazer um ato de bondade todos os dias para um estranho durante um ano. Isso mudou a minha vida!"

Pequenos encantos

Estudos demonstraram muitas vezes que a gentileza � intuitiva. Quanto mais tempo temos para pensar, menos am�veis somos. At� as crian�as t�m o instinto de ajudar quando se sentem conectadas aos demais.


Garota oferecendo banana para um orangotango
A gentileza n�o tem idade (foto: Getty Images)

E ser gentil tamb�m pode ter efeitos poderosos sobre os nossos c�rebros. "� um dos grandes paradoxos da bondade que um ato am�vel, cuja inten��o � de beneficiar os demais, na verdade tem consequ�ncias positivas para voc� mesmo", destaca Robin Banerjee, que � diretor da Faculdade de Psicologia da Universidade de Sussex, na Inglaterra.

Segundo ele, "existem padr�es de ativa��o no c�rebro que correspondem a um est�mulo ao bem-estar. As formas de recompensa no c�rebro s�o ativadas quando as pessoas realizam atos de gentileza."

A gentileza desencadeia neurotransmissores no c�rebro, que s�o os mensageiros qu�micos que controlam nosso estado de �nimo. As sensa��es agrad�veis geradas pelos neurotransmissores impulsionam uma sensa��o de conex�o com os demais.

"As rela��es necess�rias para trabalhar em coopera��o s�o baseadas nas conex�es sociais b�sicas. Por isso, � algo fundamental para a forma como os seres humanos interagem entre si", ressalta o psic�logo.

A am�vel Bernadette

Mas o que aconteceu com Bernadette Russell durante o per�odo em que ela se prop�s a ser gentil todos os dias durante um ano inteiro?


Bernadette Russell
Bernadette Russell agora vive da gentileza, dando palestras e escrevendo livros (foto: BBC)

Ela contou � BBC que a experi�ncia acabou sendo "totalmente comovente, completamente aterrorizante, ocasionalmente cara e, �s vezes, fisicamente perigosa, como quando carreguei compras muito pesadas por 6,5 km at� o apartamento de uma senhora. Foi muito muito cansativo e incrivelmente inspirador."

Russell havia sentido os efeitos qu�micos da chamada euforia dos generosos ("helper's high", em ingl�s) - a sensa��o especial de formigamento que se apodera de n�s quando somos gentis.

"Eu ficava em �xtase todos os dias. Na maior parte do tempo, sentia uma esp�cie de energia suave envolvendo meu cora��o e tamb�m na barriga... Em resumo, eu me sentia muito bem."

Mas, se a bondade � t�o ben�fica e est� na nossa natureza, por que n�o vivemos em um mundo mais gentil?


Ilustração de mão segurando guarda-chuva para proteger mulher na tempestade
Ilustra��o de m�o segurando guarda-chuva para proteger mulher na tempestade (foto: Getty Images)

Para Banerjee, "n�s, seres humanos, somos predispostos a ser bondosos, mas tamb�m a ser cru�is com as outras pessoas. Nosso ambiente faz muita diferen�a."

"Quando voc� pensa em uma pessoa muito bem sucedida, voc� pensa em algu�m am�vel? Ou em uma celebridade ou algu�m muito rico?", pergunta o psic�logo. "O que podemos fazer para mudar a narrativa do sucesso, para que possa envolver rela��es positivas com as outras pessoas?"

Bernadette Russell afirma que "precisamos questionar todas as hist�rias que mostram a gentileza como se fosse uma fraqueza".

Pandemia de bondade

O teste de bondade - um estudo recente idealizado pela Universidade de Sussex e lan�ado pela BBC, que teve a participa��o de mais de 60 mil pessoas em todo o mundo - concluiu que dois ter�os das pessoas acreditam que a pandemia de covid-19 fez com que as pessoas fossem mais am�veis.


Menino mostrando imagem com desenho de arco íris
Este menino quis alegrar aos que passavam em frente � sua casa durante a pandemia (foto: Getty Images)

No primeiro confinamento de 2020, a adolescente brit�nica Nina Andersen criou uma campanha para que os alunos das escolas escrevessem para idosos.

"Pensei em como as pessoas idosas n�o tinham mais contato al�m das paredes das suas casas de repouso", ela conta. "O que come�ou como uma ideia localizada muito pequena converteu-se em algo muito maior do que poderia ter imaginado. [O projeto] chegou a mais de 250 escolas e mais de 250 casas de repouso, com impactos positivos para milhares de pessoas." E sua campanha ultrapassou as fronteiras do Reino Unido.

"O que presenciamos durante esse per�odo foi o quanto ansiamos por ajudar-nos uns aos outros. O que precisamos fazer agora � recordar a imensa bondade de que fomos capazes", afirma Bernadette Russell.

Como se poderia fazer um mundo mais am�vel?

Robin Banerjee afirma que "n�o se trata simplesmente de instruir �s pessoas em um determinado ambiente para que sejam gentis. Precisamos mudar o nosso ambiente para que pare�a normal ser am�vel."


Ilustração de mão dando moedas para outra mão
Ilustra��o de m�o dando moedas para outra m�o (foto: Getty Images)

"Gostaria de ver todas as empresas, as escolas, os hospitais e todos os servi�os p�blicos formarem um manifesto de bondade. Para que todos se perguntem: 'Isso � gentil?' Para que se torne um tema comum nas nossas conversas em todos os n�veis de todas as organiza��es, em todos os lugares", afirma Bernadette Russell.

Mas desejar grandes mudan�as n�o significa que os pequenos atos de gentileza n�o sejam significativos. Russell conta que "a maior li��o para mim foi aceitar o fato de que todos os dias posso fazer alguma coisa, seja simplesmente cumprimentar uma pessoa ou sorrir... � assim que mudamos o mundo".

Para Nina Andersen, "cada uma das suas boas a��es aumenta a possibilidade de que elas se reproduzam e formem um c�rculo de gentileza".

E Robin Banerjee destaca que "as coisas pequenas podem, na verdade, ser coisas grandes. Todas essas pequenas coisas que voc� pensa que n�o s�o relevantes podem ser o mais importante para criar um ambiente que realmente permita que as pessoas se sintam bem e possam trabalhar juntas para assumir desafios realmente grandes."

"Assim como uma praia � composta de bilh�o de gr�os de areia, existe essa bela humildade ao dizer 'eu posso, a qualquer momento e a qualquer hora do dia, colaborar para fazer do mundo um lugar melhor'", conclui Russell.

Assista ao v�deo completo (em ingl�s) que originou esta reportagem no site BBC Ideas.

Sabia que a BBC est� tamb�m no Telegram? Inscreva-se no canal.

J� assistiu aos nossos novos v�deos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)