
"A demanda global por vacinas para COVID-19 permanecer� alta na pr�xima d�cada, devido ao surgimento de variantes letais do Sars-CoV-2, que escapam (das atuais)", diz Robin Shattock, que lidera o projeto de pesquisa de imunizantes para covid-19 no Imperial College de Londres. Neil King, pesquisador da Universidade de Washington em Seattle e cofundador da startup Icosavax, aposta no que chama de "era digital do desenvolvimento de vacinas", usando m�todos computacionais para fabricar subst�ncias que agem em n�vel at�mico, melhorando a efic�cia e aumentando a imunogenicidade das pessoas vacinadas.
O laborat�rio de King, na Universidade de Washington, utiliza a intelig�ncia artificial para prever como as prote�nas se comportam e se dobram em formas espec�ficas. O objetivo �, a partir dessa informa��o, produzir nanopart�culas que imitam as caracter�sticas proteicas virais. "Em �ltima an�lise, acho que o design de prote�nas computacionais, em combina��o com tecnologias novas e antigas, vai nos permitir fazer vacinas muito mais seguras e eficazes", diz.
A vacina da Universidade de Washington tem como alvo o dom�nio de liga��o ao receptor, uma parte da prote�na spike que se funde com as c�lulas do hospedeiro. Os pesquisadores criam sinteticamente essas estruturas que, anexadas a nanopart�culas esf�ricas, estimulam uma resposta imunol�gica no m�nimo 10 vezes maior, comparada �s subst�ncias que usam spike inteira em sua fabrica��o. Segundo King, � uma abordagem totalmente nova, que ser� �til para a neutraliza��o de outros v�rus, al�m do Sars-CoV-2. Atualmente, o imunizante est� na fase 1 de testes na Icosavax.
Abordagens avan�adas
No Imperial College de Londres, a equipe chefiada por Robin Shattock aposta na segunda gera��o de uma tecnologia que j� � inovadora, a das vacinas gen�ticas. Antes da covid-19, nenhuma subst�ncia do tipo havia sido utilizada; as primeiras foram as da Pfizer/BioNTech e da Moderna. A plataforma pesquisada por Shattock usa um c�digo gen�tico denominado RNA de auto-amplifica��o (saRNA), que treina o sistema imunol�gico no reconhecimento e na resposta �s amea�as externas - nesse caso, o Sars-CoV-2.
Por�m, h� uma importante diferen�a em rela��o � abordagem de mRNA. Uma vez injetada no m�sculo, a mensagem gen�tica faz c�pias de si mesma (se auto-amplifica), gerando um n�mero de "instrutores" bem maior. Isso significa, diz o cientista, que ela pode produzir respostas imunol�gicas fortes e consistentes em uma dosagem muito menor que de outras vacinas baseadas em RNA.

O primeiro ensaio da subst�ncia foi publicado recentemente na plataforma de pr�-impress�o da The Lancet - quando o artigo ainda n�o foi revisado por outros cientistas que n�o fazem parte da pesquisa. O estudo mostrou que a vacina de saRNA gerou resposta imunol�gica em 87% dos 192 participantes, mesmo em doses extremamente baixas. "Agora, estamos refinando a plataforma para desenvolver vacinas para uma variedade de outras doen�as infecciosas, al�m da COVID-19", diz Shattock.
M�ltiplos alvos
Outra plataforma promissora - n�o s� para COVID-19, mas no combate a doen�as como ebola, mal�ria e t�tano - � a da subunidade. Essa tecnologia, que consiste em usar os ant�genos purificados ou sint�ticos dos pat�genos, precisa de um empurr�ozinho para que o sistema imunol�gico reconhe�a o micro-organismo que se quer combater, s�o os chamados adjuvantes. Trata-se de subst�ncias qu�micas que aumentam a efic�cia da vacina.
Na Universidade de Maryland, nos EUA, a plataforma � usada nos testes da NVX-CoV2373, desenvolvida pela start-up de biotecnologia Novavax. "A vacina cont�m ant�genos proteicos que n�o podem se replicar ou causar a COVID-19. Mas os anticorpos gerados por ela ajudam a proteger o corpo do v�rus real", descreve o infectologista Stuart Cohen, que lidera os estudos. Produzidas em reatores a baixo custo, as subunidades da prote�na spike foram adicionadas a um adjuvante patenteado pela companhia. Ele � feito de saponina, derivado da casca de uma �rvore chilena.
H� duas semanas, resultados de fase 3 da NVX-CoV2373 foram publicados na plataforma de pr�-impress�o medRxiv. O estudo, feito com 30 mil adultos com mais de 18 anos no M�xico e nos EUA, mostrou que a subst�ncia oferece 100% de prote��o contra a forma moderada e grave da doen�a, com efic�cia geral de 90,4%. Segundo Cohen, uma das vantagens dessa nova tecnologia � que a vacina pode ser armazenada em estado l�quido a uma temperatura entre 2 °C e 8 °C, dispensando a necessidade de freezers especiais, como os exigidos pelos imunizantes � base de RNA.
Duas perguntas / Victor Bertollo - infectologista especialista em medicina tropical do Hospital Anchieta
Quais os principais gaps das vacinas atuais que as futuras dever�o preencher?
Temos de deixar claro que as vacinas para covid que foram desenvolvidas e j� est�o em uso demonstraram uma elevada efic�cia e uma alta seguran�a. Por�m, sempre h� algo a se evoluir. Por exemplo, h� as novas variantes surgindo, que podem impactar em maior ou menor grau as vacinas. Outro ponto � que temos diferentes componentes do sistema imunol�gico que precisam ser estimulados. Ent�o, pode ser que a gente tenha novas plataformas que tragam uma prote��o mais duradoura ou novos esquemas de vacina��o que misturem vacinas e doses diversas, que v�o complementar as diferentes respostas do sistema imune, o que traria uma prote��o maior e mais duradoura.
Outro ponto � que, apesar de que as vacinas em uso atualmente s�o muito seguras, existe, sim, um risco de efeito adverso, mesmo que muito baixo. Podemos ter novas plataformas que fa�am esse risco ainda menor. Al�m disso, h� alguns ind�cios da queda da prote��o com o tempo, principalmente em idosos e imunossuprimidos. Ent�o, podemos ter plataformas que aumentem a prote��o e a dura��o dessa prote��o, ao mesmo tempo em que conseguem direcionar a resposta imunol�gica para uma gama mais ampla de variantes.
Todos esses estudos e testes com tecnologias variadas podem ajudar no desenvolvimento de imunizantespara outras doen�as?
Esse � um ganho muito grande para a vacinologia em geral. Com essas novas tecnologias sendo desenvolvidas, a gente valida plataformas que se mostraram muito boas e que poder�o ser aplicadas para outras doen�as. Podemos vir a atualizar plataformas usadas tradicionalmente ao mesmo tempo em que teremos um parque fabril e um leque de op��es para novas pandemias que surgir�o no futuro. Sem d�vida nenhuma, quanto mais temos globaliza��o e intera��o entre povos, al�m da intera��o de humanos com animais, a tend�ncia � haver novos v�rus pand�micos em potencial. Quanto mais plataformas e capacidade de produ��o de vacinas, mais preparados estaremos para novas pandemias.

Falta verba para estudo brasileiro
No Brasil, pesquisadores da Universidade Federal do Paran� (UFPR) lan�aram uma campanha para viabilizar uma vacina com tecnologia 100% nacional e baixo custo de produ��o. O imunizante � desenvolvido desde junho do ano passado, mas faltam recursos para a conclus�o dos testes pr�-cl�nicos e o avan�o para o estudo em humanos.
A tecnologia envolve a produ��o de part�culas de um pol�mero biodegrad�vel, revestidas por unidades espec�ficas e sint�ticas da prote�na spike, utilizada pelo Sars-CoV-2 para acessar as c�lulas humanas. "O imunizante n�o � composto de um material que se multiplica dentro do organismo. O material que usamos n�o � vivo, ele s� sinaliza que a prote�na do v�rus est� l�, e o nosso corpo reage a isso. O que estamos vendo agora � quanto tempo dura essa prote��o", explica Emanuel Maltempi de Souza, um dos pesquisadores respons�veis pelo projeto.
De acordo com o cientista, uma caracter�stica in�dita do imunizante � que, al�m de transportar as prote�nas, o biopol�mero funciona como adjuvante, ou seja, aumenta a resposta imunol�gica, dispensando a adi��o de outras subst�ncias qu�micas. Isso reduz o custo da vacina. Outra vantagem econ�mica � a possibilidade de transportar a subst�ncia em p� para os locais de imuniza��o, o que barateia a log�stica.
Para dar continuidade ao projeto, Emanuel Maltempi de Souza estima a necessidade de R$ 50 milh�es para as fases de pesquisas cl�nicas (os testes em humanos). Considerando as despesas administrativas e estruturais, esse custo sobe para R$ 76 milh�es. De julho, quando a campanha foi lan�ada, at� 15 de outubro, haviam sido arrecadados R$ 1,41 milh�o, sendo R$ 100 mil de pessoas f�sicas e jur�dicas.
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