Retrato de Pagu feito, no final da d�cada de 1920
Wikip�dia/Reprodu��o
A escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista e jornalista brasileira Patr�cia Rehder Galv�o, conhecida como Pagu, � a homenageada deste ano da Festa Liter�ria Internacional de Paraty (Flip), que ser� realizada entre os dias 22 e 26 de novembro pr�ximo. Nascida em 9 de junho de 1910, em Santos (SP), e falecida em 12 de dezembro de 1962, em S�o Paulo, Pagu teve destaque significativo no movimento modernista iniciado em 1922, embora n�o tivesse participado da Semana de Arte Moderna porque, na �poca, tinha apenas 12 anos de idade.
As curadoras da Flip 2023, Fernanda Bastos e Milena Britto, destacaram que, por meio de seus in�meros pseud�nimos, v�rias mulheres se manifestaram em Pagu. “Muitas s�o as paisagens de dentro e de fora que ela nos mostra com suas m�ltiplas linguagens, todas trazendo em comum uma contesta��o incans�vel diante do mundo r�gido. Com seus modos de dizer e desenhar mundos, Pagu desenvolve uma paisagem em que s�o retratadas diversas mulheres brasileiras: oper�rias, m�es, bo�mias, artistas, as que aspiram � liberdade. � transformador olhar o presente por meio das lentes de Pagu”, atestam as curadoras.
“Atuou nos movimentos modernista e feminista, al�m de ter se dedicado ao ativismo contra o fascismo. Pagu teve destacada atua��o na imprensa, tendo participado de publica��es como Br�s Jornal, Revista da Antropofagia, O homem do povo/A mulher do povo, A plateia, A vanguarda socialista, France-Presse, Suplemento Liter�rio do Jornal Di�rio de S�o Paulo, Fanfulla e A tribuna”.
Come�o de Pagu
O apelido Pagu foi dado pelo poeta Raul Bopp, pensando que ela se chamava Patr�cia Goulart. Foi uma mulher avan�ada para os padr�es da �poca, com comportamento considerado extravagante. Ela defendia causas feministas, fumava e bebia em p�blico, usava cabelos curtos e roupas colantes e transparentes, costumava falar palav�es e manteve diversos relacionamentos amorosos, o que contrastava com sua origem familiar, conservadora e tradicional.
Aos 15 anos de idade, em 1925, mudou-se com a fam�lia para a capital paulista, onde conseguiu o primeiro emprego como redatora, escrevendo cr�ticas contra o governo e as injusti�as sociais em uma coluna do Br�s Jornal, assinando com o pseud�nimo de Patsy.
Aos 18 anos, ap�s completar o curso na escola normal da capital paulista, integrou-se ao Movimento Antropof�gico, sob a influ�ncia de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. O poema de Raul Bopp Coco de Pagu, escrito em sua homenagem, foi o respons�vel por tornar c�lebre a jovem Pagu. Ela pr�pria o interpretou no Teatro Municipal de S�o Paulo, em 1929.
Casou-se com Oswald de Andrade, em abril de 1930, depois que ele se separou de Tarsila. Desquitaram-se em 1934. Com Oswaldo de Andrade, teve um filho, Rud� de Andrade.
Em 1931, Pagu ingressou no ent�o Partido Comunista do Brasil (PCB). Ao participar da organiza��o de uma greve de estivadores em Santos, no mesmo ano, foi presa pela pol�cia pol�tica de Get�lio Vargas. Essa foi a primeira de uma s�rie de 23 pris�es ao longo da vida. Em 1940, iniciou relacionamento com Geraldo Ferraz, com quem teve o segundo filho, Geraldo Galv�o Ferraz, em 18 de junho de 1941.
Pluralidade
Conforme avaliam Fernanda Bastos e Milena Britto, a pluralidade de g�neros incorporados no repert�rio art�stico de Pagu faz dela uma apari��o destacada na cena liter�ria brasileira, “ainda que tenha falecido em 12 de dezembro de 1962 sem o reconhecimento e a legitima��o que muitos de seus contempor�neos usufru�ram.
Foi prol�fica � sua maneira, dedicando-se a muitos projetos que sempre cruzavam linhas e normas estabelecidas, surpreendendo no desenho, cartum, tradu��o, poesia, prosa, cr�tica liter�ria, panfleto pol�tico, caderno de croquis, correspond�ncia, cr�nica, di�rio e performance”.
Pagu publicou os romances Parque Industrial, em 1933, com o pseud�nimo de Mara Lobo, considerado o primeiro romance prolet�rio brasileiro, e A Famosa Revista, publicado em 1945 em colabora��o com Geraldo Ferraz.
Sob o pseud�nimo King Shelter, lan�ou diversos contos policiais, reunidos posteriormente no volume Safra Macabra. Para o teatro, traduziu grandes autores, muitos deles at� ent�o in�ditos no Brasil, como James Joyce, Eug�ne Ionesco, Fernando Arrabal e Octavio Paz.
“O nome Pagu nos leva a lutas est�ticas e pol�ticas; nos alerta o quanto pode incomodar a coragem de uma mulher que enfrenta a for�a plena representada por institui��es regulamentadoras de vida, de arte, de liberdades. Essa artista de vida extraordin�ria teve de pagar um pre�o alto por ser plenamente o que era em uma �poca de tantas interdi��es. Foi encarcerada algumas vezes, uma delas tendo passado quatro anos na pris�o, onde enfrentou torturas f�sicas e psicol�gicas. Entre os sofrimentos que lhe deixaram profundas cicatrizes, Pagu teve de enfrentar abandono e desprezo de muitos aliados, mas jamais cedeu em seu esp�rito livre, continuou lutando contra as regras e a ordem cerceadora at� o fim, mesmo que algumas vezes de maneira incompreens�vel para os seus contempor�neos".
As curadoras da Flip salientam que “� esta mesma luta que perdura, com arte e artimanha, que nos faz olhar para os espa�os de encarceramento e imaginar mentes livres, criadoras; que nos faz olhar para a paisagem pol�tica do mundo e verificar a for�a de tantas mulheres sonhando mundos para todos; olhar para a arte de todo lugar e ver o sorriso de uma Pagu que sabia que o pa�s que o Brasil escondia teria ainda de ser revelado”.
Homenagens
Em 1988, a vida de Pagu foi contada no filme Eternamente Pagu (1987), primeiro longa-metragem dirigido por Norma Benguell, com Carla Camurati no papel-t�tulo, Ant�nio Fagundes como Oswald de Andrade e Esther G�es no papel de Tarsila do Amaral.
Em 2004, foi publicado o Caderno de Croquis de Pagu e outros momentos felizes que foram devorados reunidos, com 22 desenhos da artista. O livro foi organizado por L�cia Maria Teixeira Furlani, com a colabora��o de Leda Rita Ferraz e de Rud� de Andrade, filho de Pagu e Oswald de Andrade.
Foi tamb�m feita uma exposi��o de seus desenhos no Museu de Imagem e do Som (MIS), S�o Paulo. Em 2005, a cidade de S�o Paulo comemorou 95 anos de nascimento de Pagu com uma vasta programa��o, que incluiu lan�amento de livros, exposi��o de fotos, desenhos e textos da homenageada, apresenta��o de um espet�culo teatral sobre sua vida e inaugura��o de uma p�gina na Internet.
A lista de escritores homenageados pela Flip inclui tamb�m, em 2022, Maria Firmina dos Reis; 2021, Ind�genas v�timas da COVID-19; 2020, Elizabeth Bishop; 2019, Euclides da Cunha; 2018, Hilda Hilst; 2017, Lima Barreto; 2016, Ana Cristina Cesar; 2015, M�rio de Andrade; 2014, Mill�r Fernandes; 2013, Graciliano Ramos; 2012, Carlos Drummond de Andrade; 2011, Oswald de Andrade; 2010, Gilberto Freyre; 2009, Manuel Bandeira; 2008, Machado de Assis; 2007, Nelson Rodrigues; 2006, Jorge Amado; 2005, Clarice Lispector; 2004, Guimar�es Rosa; e 2003, Vinicius de Moraes.
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