O mil folhas de broa de fub� ganha sabor com curau de milho verde e doce de leite (foto: Confeitaria Rebobina/Divulga��o)
Rebobinar. Verbo dos tempos de fita VHS e filme fotogr�fico que significa voltar ao come�o. H� dois meses, Rebobina passou a ser o nome da confeitaria que abriu as portas para o p�blico com a proposta de brincar com o tempo. Instalada em um antigo sobrado na Rua dos Aimor�s, em Belo Horizonte, a casa oferece um card�pio de doces e brunch que passeia por mem�rias.
“Rebobina define o meu processo criativo”, explica a confeiteira Gabriela Arya. “Estou sempre rebobinando a minha vida e pensando em como transformar o que j� vivi em comida.”
Desde pequena, ela sempre foi muito conectada com a cozinha. Era l� que se sentava para estudar, entre cheiros e sabores que marcaram sua inf�ncia. Sua brincadeira favorita era vestir o avental e fazer misturas.
Gabriela entrou para o curso de engenharia de produ��o (e logo desistiu), foi para a Fran�a estudar gastronomia, teve o buf� M�o na Massa com a irm� arquiteta e trabalhou com marketing antes de decidir se dedicar aos doces.
Tostada de p�ssego: os mundos doce e salgado se misturam o tempo todo no card�pio (foto: Tha�s Costa/Divulga��o)
Por cinco anos, s� vendia bolos e tortas por encomenda. O sonho de ter uma confeitaria aberta ao p�blico estava l�, guardado, esperando o momento certo, e esse momento chegou.
A casa de dois andares com janelas de madeira � toda branca. Por dentro, a surpresa: uma explos�o de cores, do ch�o ao teto.
A confeiteira buscou refer�ncias no filme favorito da inf�ncia, “A fant�stica f�brica de chocolate”, para criar um ambiente que chama de “ref�gio l�dico”. Um lugar para relaxar, sorrir e, claro, comer del�cias. O colorido tamb�m est� nas mesas e cadeiras que ficam na cal�ada.
Os doces fazem parte da categoria de pratos principais do menu. Com essa provoca��o, Gabriela quer mostrar que as sobremesas podem ser t�o protagonistas quanto os pratos principais.
“Como confeiteira, sinto falta de doces gostosos. �s vezes, voc� tem uma experi�ncia maravilhosa com um prato em um restaurante, mas na hora da sobremesa te oferecem petit gateau”, lamenta.
L�, n�o. As sobremesas t�m camadas de sabores, texturas contrastantes e, o que para Gabriela � inegoci�vel, hist�ria. “A nossa ideia � trazer preparos j� conhecidos de uma forma extraordin�ria. Seja no sabor, no formato, na hist�ria ou para onde cada mordida pode te levar”, destaca. Da� a Rebobina ser descrita na fachada da casa como uma confeitaria trivial extraordin�ria.
O menu de sobremesas foi todo pensado para este momento de portas abertas da confeitaria. Evidencia o amadurecimento do trabalho de Gabriela. “Quando comecei, amava fazer doces, mas n�o tinha t�cnica. Levei cinco anos para chegar at� aqui e entregar o melhor.”
O brownie da Gabi, primeiro doce que ela fez para vender, surge repaginado e como base do entremet com ganache de chocolate intenso com cumaru.
Na busca por mais equil�brio e menos a��car, a confeiteira transformou o sandu�che de cookies, que era recheado com brigadeiro, em torta de cookie com caramelo de miss�. Com um olho no passado e outro no futuro, ela se desafia a fazer doce com um ingrediente salgado, e o contr�rio tamb�m. Daqui a pouco voc� vai entender como.
Mil folhas de broa
Em um passo mais ousado, surgiu o mil folhas de broa de fub�. A massa, bem fina, forma camadas com curau de milho verde da S�nia (que trabalhava na cozinha da sua casa e se tornou uma segunda m�e) e doce de leite.
'S�o coisas que amo comer e que serviria na minha casa', diz Gabriela Arya, ao falar sobre o card�pio (foto: Confeitaria Rebobina/Divulga��o)
A torta Gl�ria � uma homenagem ao bairro onde ela morava com a fam�lia. “Cheiro de manga faz parte da minha inf�ncia. No quintal da minha casa, tinha uma mangueira enorme e o �nico doce que a S�nia sabia fazer era de manga.” Por isso, o recheio tem creme de maracuj� e manga.
Para Gabriela, a cheesecake de queijo com goiabada tem gosto de reencontro com a m�e, Maria Ros�lia, que viajava muito a trabalho e voltada carregada de doces para os filhos. J� a torta Marcela ganhou o nome da sua irm�, uma apaixonada por amendoim.
A grande surpresa � o brunch. Sim, Gabriela n�o pensa s� em doces. Diz que o card�pio � de uma confeiteira que gosta de caf� da manh�. Como toda a fam�lia.
Apesar do nome brunch, as op��es salgadas, classificadas como entradas, s�o servidas todos os dias e a qualquer hora. Assim como as sobremesas, s�o inspiradas em mem�rias. “S�o coisas que amo comer e que serviria na minha casa.”
Os ovos turcos est�o entre os mais pedidos. Dois ovos poch� s�o acompanhados de iogurte, coalhada, azeite temperado, cebolinha e o p�o indiano naam com molho de manjeric�o. Tudo feito na casa. Outro sucesso � a tostada de brioche com p�ssego grelhado, burrata, manjeric�o e adicional de presunto cru, receita que ela aprendeu com uma amiga espanhola.
Veja a hist�ria da babka de alho, que une o p�o tran�ado de origem judaica ao churrasco brasileiro. “Amo muito p�o de alho. Para mim, � a melhor parte do churrasco”, justifica Gabriela, que usa seu lado confeiteira em todo o menu e serve o p�o com sour cream feito � base de chantili.
Na cozinha, ali�s, s� tem confeiteiros e os mundos doce e salgado se misturam o tempo inteiro. Outro exemplo � a torrada de massa folhada com queijo de cabra, picles de cebola roxa e bacon.
