
A Prefeitura de Belo Horizonte reconheceu o territ�rio do Largo do Ros�rio como patrim�nio cultural imaterial da cidade nesta quarta-feira (30/3). O t�tulo � provis�rio e passa a ser definitivo se, em 15 dias ap�s a publica��o do decreto, n�o houver recurso movido contra a decis�o.
O pedido de abertura deste processo ocorreu em agosto de 2021 e, desde ent�o, o Conselho Deliberativo do Patrim�nio Cultural do Munic�pio de Belo Horizonte (CDPCM-BH) estudou o caso e fez diversos levantamentos para que o t�tulo pudesse ser conferido ao bem.
Hist�ria
O Largo do Ros�rio era o nome dado ao espa�o compartilhado no Curral Del Rey entre um cemit�rio com 60 sepulturas, inaugurado em 1811 e uma igreja de mesmo nome, inaugurada em 1819. O espa�o foi constru�do pela Irmandade do Ros�rio dos Homens Pretos, um dos grupos criados pela comunidade negra como alternativa � exclus�o que sofriam das irmandades dos brancos, que j� constru�am suas pr�prias associa��es dedicadas aos santos de sua devo��o.
Durante a constru��o de Belo Horizonte, entretanto, o Largo do Ros�rio foi demolido juntamente de todas as outras constru��es que ficavam onde, hoje, � a Avenida do Contorno para dar lugar a outras edifica��es que abrigariam funcion�rios p�blicos vindos de Ouro Preto. O projeto da cidade n�o previa abrigar as massas de trabalhadores, majoritariamente compostas por negros e imigrantes europeus, que acabaram se deslocaram para as periferias.
Segundo a PBH, com a demoli��o das constru��es da regi�o e a proibi��o do sepultamento ao redor de igrejas, os corpos enterrados no Largo do Ros�rio permanecem l� at� hoje e, para a equipe do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), o reconhecimento do local como patrim�nio cultural vai muito al�m da constru��o em si. “Debaixo do asfalto cinza da cidade de Belo Horizonte dos brancos, tem gente preta sepultada. Percebemos que muito j� se fez e muito ainda est� por fazer”, comentam em uma live do YouTube sobre o tema.
Em 1897, uma nova capela foi constru�da para substituir a Igreja do Ros�rio na esquina da Avenida Amazonas com as ruas S�o Paulo e Tamoios. A Arquidiocese de Belo Horizonte ficou respons�vel pela propriedade e as refer�ncias � Irmandade do Ros�rio dos Homens Pretos foram apagadas com o passar do tempo.
Refer�ncia hist�rica
Com o registro do Largo do Ros�rio como patrim�nio cultural imaterial de Belo Horizonte, surgem novas expectativas para a comunidade negra da cidade. Para o Padre Mauro Luiz da Silva, membro do NegriCidade, um projeto de pesquisa e centro de documenta��o pertencente ao Muquifu, a a��o representa a constru��o de uma nova rela��o com a capital.
“N�o t�nhamos o centro de Belo Horizonte como refer�ncia para a nossa cultura ou nossa religiosidade. [O registro] � uma refer�ncia de que n�s [negros] j� ocupamos o centro da cidade. N�s j� estivemos aqui, j� moramos aqui, mas fomos enviados para as periferias e favelas. Para mim, evidenciar essa hist�ria � a grande import�ncia de reconhecer o Largo do Ros�rio como patrim�nio cultural imaterial”, comenta Padre Mauro.
A titula��o do territ�rio � uma grande contribui��o para o direito � mem�ria da comunidade negra de Belo Horizonte e d� aos mun�cipes mais um peda�o da hist�ria da cidade, agora, com mais diversidade. Uma placa ser� instalada no local onde ficava o Largo do Ros�rio e o Padre Mauro fala sobre novas expectativas. “Ser� uma oportunidade para que crian�as negras, pessoas negras que passem por ali, tenham uma refer�ncia a partir de agora”, explica.
* Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Ellen Cristie.