(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MULHERES NOT�VEIS

'N�o sei como consegui segurar a m�o dele com a faca', lembra hero�na

A s�rie Mulheres Not�veis traz o perfil de Patr�cia Dias Fonseca, de 46 anos, que salvou a advogada Ver�nica Suriani do feminic�dio


23/06/2022 10:00 - atualizado 23/06/2022 11:41

Patrícia Dias Fonseca, de 46 anos, sorri e usa blusa preta
Patr�cia Dias Fonseca, de 46 anos, salvou a vida da advogada Ver�nica Suriani (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Nas telonas de cinema, a Mulher-Maravilha � uma guerreira invenc�vel, reconhecida como a princesa das amazonas. Mas a representa��o hollywoodiana, muitas vezes, encobre as verdadeiras hero�nas do dia a dia. 

Elas n�o usam tiaras douradas, escudo e espadas, mas t�m a mesma for�a, coragem e determina��o da Mulher-Maravilha. Se voc� passar por Patr�cia Dias Fonseca, de 46 anos, pode n�o a reconhecer, mas ela � uma hero�na. Ela � a terceira entrevistada da s�rie Mulheres Not�veis, do DiversEM.

Nesta quinta-feira (23/6), completa um m�s que Patr�cia salvou a vida da advogada Ver�nica Suriani, de 40 anos, quando foi atacada pelo engenheiro Bruno Costa Val, de 33. Ver�nica estava na rua de casa, no Bairro Gutierrez, em Belo Horizonte, quando foi abruptamente abordada pelo agressor, que come�ou a golpe�-la com uma faca. Foram 17 perfura��es nos bra�os e nas costas. Tudo acompanhado pelos filhos da advogada.


No dia em que o EM conversou com as duas, pouco menos de m�s depois do ocorrido, Ver�nica ainda tinha pontos e hematomas nos bra�os que demonstravam a brutalidade do atentado que, gra�as � interven��o de Patr�cia, n�o terminou em feminic�dio. Naquele dia, o sentimento das duas era de gratid�o e de que estabeleceram um v�nculo de amizade para a vida toda, para al�m da rela��o profissional de patroa e bab�.
 

"Eu tenho que salv�-la"

Patrícia e Verônica juntas sentadas na sala
Ver�nica costuma dizer que naquele dia, depois da interven��o de Patr�cia, ela nasceu de novo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 
Patr�cia estava levando os dois filhos de Ver�nica para a escola e havia acabado de entrar em um carro de aplicativo, quando viu a patroa ser esfaqueada pelo ex-namorado. A bab� n�o pensou duas vezes, desceu do carro, lutou com o agressor e interceptou o golpe que poderia ter sido fatal

"Na hora que vi que ela gritou e correu, pensei: 'Tenho que salv�-la'. Ele levantou a m�o no alto e foi para dar a facada no peito dela. Foi quando eu o joguei na parede. N�o sei como consegui segurar a m�o dele com a faca. Puxei ele e o joguei longe dela. Ele saiu catando cavaco e tentou pegar a faca, mas meu pai me ensinou a dar 'gog�', ent�o o peguei pelo pesco�o e joguei no meio da rua”. Depois, para se assegurar, ela chutou a faca para longe.
 
De maneira destemida e at� com risco de ser atingida, Patr�cia defendeu muito mais do que a patroa. "Ela sempre fala que sou a fam�lia dela aqui. Minha fam�lia � a fam�lia dela. Ent�o, ela � minha fam�lia. Qualquer coisa que preciso, � ela que me ajuda. Quando estou passando mal, cuida de mim. Ela fala com os meninos: 'Hoje voc�s n�o fa�am bagun�a. A Patr�cia n�o est� bem'".

Em 2019, Patr�cia teve uma trombose e precisou ser hospitalizada. Foi nesse per�odo que a amizade entre patroa e bab� se estreitou. "Lembro at� hoje quando sa� do hospital. Dona Ver�nica veio me abra�ar. � uma cena que n�o sai da cabe�a."

"Deus foi maravilhoso naquele momento"

As duas evitam rever o v�deo das imagens do atentado, mas quando viram a imagem pela primeira vez, tiveram a certeza de que contaram com ajuda divina. Ver�nica, no momento que estava sendo atacada, clamou a Nossa Senhora. "Foi Deus que nos ajudou. Deus foi maravilhoso naquele momento", acredita Patr�cia. 
 
A bab� ainda tenta entender como lutou com o agressor e tirou a faca da m�o dele. "Ela teve for�a de homem, lutou com um oponente de 100 quilos", diz Ver�nica. Religiosa, Patr�cia acredita que teve tamb�m a prote��o do Anjo Gabriel. "Ele luta com a espada. Veio at� mim, deu o escudo e disse ‘vai l�’."

"Nasci de novo, e todo mundo brinca: 'Quem pariu foi a Patr�cia'. Agora eu tenho uma nova m�e. Se a Patr�cia n�o interv�m, n�o estaria aqui"

Ver�nica Suriani, advogada


 
Patr�cia nunca parou para refletir sobre feminismo e desconhece a palavra "sororidade", mas, na pr�tica, ela e Ver�nica se apoiam mutuamente. "A nossa rela��o � de amizade, companheirismo", diz Patr�cia.
 
Ver�nica costuma dizer que, naquele dia, depois da interven��o de Patr�cia, ela nasceu de novo. "Uma conjuntura de fatores que me fizeram sobreviver a essa tentativa de assassinato. Nasci de novo, e todo mundo brinca: 'Quem pariu foi a Patr�cia'. Agora eu tenho uma nova m�e. Se a Patr�cia n�o interv�m, n�o estaria aqui. N�o seriam s� 17 facadas. Estaria esquartejada."
 

Patr�cia mora no Bairro Nova Cintra com os dois filhos, Michael Alessandro, de 24, e Gustavo Henrique, de 17. "Minha fam�lia � negra, mas � misturada. Tem branco, tem negro, gente de toda cor. Minha av� era descendente de ind�gena". O sonho � terminar de construir a casa pr�pria e est� recebendo ajuda de Ver�nica.  

Patricia e a imagem de Nossa Senhora da Aparecida
Na tradi��o afro-brasileira, ela � filha de Ogum, o orix� guerreiro. No catolicismo, � devota de Nossa Senhora da Aparecida e S�o Miguel Arcanjo (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Demonstra coragem no dia a dia para cuidar sozinha dos dois filhos. "At� que � gostoso ser m�e solo. D� um trabalho, mas a gente consegue. Ser m�e e pai e explicar para eles a vida como �. Ter responsabilidade." Patr�cia ensina para o filho mais velho, que j� namora, que a rela��o precisa ser baseada em respeito e amizade, com um ajudando o outro a crescer. 

Umbandista e cat�lica

Patr�cia conheceu Ver�nica quando procurava um emprego, h� cinco anos, e se cadastrou em um site de recoloca��o profissional. "Estava procurando algu�m para trabalhar comigo quando busquei refer�ncia. Nunca vou me esquecer o que me disseram: 'A Patr�cia � a pessoa mais feliz do mundo. Voc� s� vai ter felicidade da Patr�cia. S� n�o estou com ela at� hoje porque n�o tenho mais condi��es de pagar'. Ela (a pessoa que deu as refer�ncias) ficou 40 minutos falando da Patr�cia".
 
Umbandista e cat�lica, Patr�cia � bastante espiritualizada. Na tradi��o afrobrasileira, ela � filha de Ogum, o orix� guerreiro.  No catolicismo, � devota de Nossa Senhora da Aparecido e S�o Miguel Arcanjo.

Patr�cia tem na fam�lia a maior realiza��o. Tamb�m se realiza no trabalho como bab� dos filhos de Ver�nica, por ter desenvolvido uma rela��o de trabalho e tamb�m de amizade. "Falo que essa hist�ria � muito legal. Fiz a carne cozida e fiz fil� mignon. Dona Ver�nica comeu a carne cozida e a empregada o fil� mignon. Aqui n�o tem isso de separa��o", diz.
 
Patr�cia come�ou a trabalhar aos 12 anos em casa de fam�lia. Trabalhou como dom�stica e em uma f�brica de joias. A fam�lia de cinco irm�os n�o tinha condi��es para que todos estudassem e ela teve que contribuir com a renda familiar. Ter que trabalhar t�o cedo impediu que ela pudesse estudar, fez at� o quarto ano do ensino fundamental. Ela pensou em retomar os estudos, mas j� com os filhos n�o foi poss�vel retomar.

"Queria ser enfermeira" 

No entanto, ela sabe o valor de uma forma��o, incentiva os filhos. "Queria ser enfermeira, mas agora n�o d�. Hoje luto para ajudar meus filhos na faculdade. O mais velho faz gradua��o em Tecnologia da Informa��o (TI). N�o que eu queira que eles sejam o que eu queria ser, mas realizo meus sonhos ajudando meus filhos", afirma.
 
Tem posi��o firme sobre viol�ncia contra a mulher. "Meus filhos sabem da minha hist�ria com o pai. Ensinei para eles que � preciso ter respeito, di�logo. Nada de encostar a m�o. Na hora da raiva poder controlar, respeitar a mulher", afirma.  O relacionamento dela chegou ao fim no momento em que o ex-companheiro deu sinais de viol�ncia. "Acabou o respeito, acabou o casamento", depois de 10 anos de matrim�nio.
Aos 32 anos, Patr�cia se separou quando estava gr�vida de cinco meses do filho ca�ula. A boa cria��o dos filhos era o que mais a preocupava, queria que tivessem boas refer�ncias e decidiu que seria melhor dar um fim ao casamento. "Minha m�e me disse voc� n�o est� sozinha, ent�o resolvi separar."

Ou�a e acompanhe as edi��es do podcast DiversEM




podcast DiversEM ï¿½ uma produ��o quinzenal dedicada ao debate plural, aberto, com diferentes vozes e que convida o ouvinte para pensar al�m do convencional. Cada epis�dio � uma oportunidade para conhecer novos temas ou se aprofundar em assuntos relevantes, sempre com o olhar �nico e apurado de nossos convidados.

   


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)