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Estado de Minas 'QUASE BIOGRAFIA'

Masculinidade negra: quilombola lan�a campanha de financiamento de livro

'Sou eu minha estrela maior' conta a trajet�ria de Danilo Candombe, do Quilombo do A�ude, e sua rela��o com a masculinidade e o patriarcado da branquitude


19/05/2023 14:43 - atualizado 19/05/2023 15:33
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Foto do rosto de Danilo, um homem negro de dreadlocks
Danilo Candombe lan�a campanha de financiamento coletivo para lan�ar livro sobre masculinidade negra (foto: Arquivo Pessoal)

Danilo Candombe, quilombola de 38 anos nascido no A�ude, na regi�o da Serra do Cip�, em Minas Gerais, est� com uma campanha de financiamento coletivo para o lan�amento de seu livro “Sou eu minha estrela maior”. A obra, chamada de “quase biografia” pelo autor, conta a trajet�ria de vida de Danilo e de sua rela��o com a masculinidade e o patriarcado da branquitude.

No livro, o quilombola candombeiro busca refletir sobre a sua percep��o traum�tica de masculinidade negra, ao ter esbarrado com relacionamentos interraciais t�xicos e experi�ncias nem sempre seguras para si e para as comunidades negra e quilombola do A�ude. Na obra, tamb�m fala de suas experi�ncias art�sticas e culturais, comentando sobre os princ�pios e bases que o formaram como ser humano individual e subjetivo.

“Eu conto as minhas experi�ncias e viv�ncias desde a inf�ncia at� o dia de hoje. A partir da�, vamos buscar compreender os impactos do racismo estrutural na sa�de mental e nas rela��es dos homens negros consigo mesmos e com o mundo ao seu redor. O projeto pretende ser uma oportunidade para discutir os desafios enfrentados pelos homens negros na constru��o de suas identidades em uma sociedade marcada pelo racismo”, explica Danilo.

Trajet�ria

Danilo com outros dois meninos brancos e uma senhora, também branca
Danilo cresceu em meio a uma fam�lia de pessoas brancas (foto: Arquivo Pessoal)
 
Danilo Candombe saiu do Quilombo do A�ude aos 3 anos de idade por quest�es de sa�de e foi morar em Belo Horizonte com sua m�e em uma casa de brancos, onde vivia em um “quarto de empregada”. Conforme crescia, passou a questionar por que determinados comportamentos seus eram punidos com maior severidade do que de seus amigos brancos.

“Fora do quilombo, pr�ximo de pessoas brancas de classe m�dia, eu sempre tentei agir da mesma forma que elas. Mas nunca entendi o porqu� de minhas atitudes serem vistas e cobradas de forma diferentes, ou at� mesmo condenadas com muito mais peso. E n�o � me fazer de v�tima, porque eu erro, e erro muito, mas sempre vi ao meu redor erros at� piores sendo cometidos por homens brancos sendo tratados de forma bem diferentes”, explica Danilo.

Para o psic�logo Cl�udio, as rela��es que permeiam a viv�ncia de homens negros precisam ser entendidas para al�m das quest�es de g�nero, entrando na discuss�o da racialidade.

“Colocar essa discuss�o em debate � extremamente importante, principalmente dando enfoque �s masculinidades negras, porque a gente v�, muitas vezes, essa discuss�o pensando numa masculinidade branca, mas os homens t�m especificidades que s�o marcadas pela ra�a que tamb�m precisam ser compreendidas”, explica Cl�udio.

 No caso de Danilo, que precisa “apertar o bot�o de ‘reset’” sobre suas percep��es sobre a pr�pria exist�ncia, a desconstru��o e a reconstru��o passam por lugares dolorosos.

“Quando ele chega na cidade, acaba tendo uma dificuldade, uma dor. Como foi para o Danilo sair do seu lugar, que vive de uma forma tradicional, para viver a experi�ncia da vida na cidade grande sem estar preparado para isso e tentando lidar com o sucesso dos seus colegas e amigos que cresceram com ele, mas nunca conseguindo fazer como eles? Como fica a vida de um menino nessas condi��es?”, questiona Leo Gon�alves.

Danilo refor�a a import�ncia de se repassar as experi�ncias para que outros possam se identificar e se desconstruir.

“Pessoas pretas no Brasil n�o precisam de muito tempo de vida para ter hist�rias para contar. Somos hist�ria bem antes de nascer: somos desumanizados; libertaram nossos corpos e fizeram um sistema no qual n�s mesmos acorrentamos nossas mentes, nos fazendo acreditar que somos resto”, conta Danilo.

“Me analiso e me observo muito, e sei que boa parte das minhas atitudes consideradas machistas v�m por tentar me inserir em um universo que n�o pertence � minha realidade e a pessoas da minha cor. Quero me expor porque sei que existem mais homens pretos que precisam apertar esse bot�o de ‘reset’ e reconstruir a masculinidade para parar de dar for�a a esse machismo, que tem nome e sobrenome: patriarcado branco”, completa o quilombola.

Planejamento

 
“Sou Eu Minha Estrela Maior” � organizado por Leo Gon�alves, escritor que trabalha h� mais de 20 anos com literatura e tradu��o, e comentado por Cl�udio Patr�cio, psic�logo formado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) que j� pesquisa sobre masculinidade negra h� algum tempo.

“A narrativa da vida do Danilo me interessou muito e reconheci, nela, o que chamamos de marronagem, que � a ideia de fuga e uni�o afrodiasp�rica em movimento para chegar a um lugar de se repensar e de se recriar a sua estadia no mundo. E aqui, a gente n�o v� somente uma nova din�mica na rela��o da cultura branca com a cultura negra, mas tamb�m um embate na cultura de uma sociedade da cidade grande com o quilombo”, declara Leo.

“� um momento de dar voz aos homens negros que, dentro de todas as categorias sociais, � uma das cadeiras que menos tem capacidade de falar por si pr�pria. Os homens negros sempre s�o calados, ent�o, � muito interessante pensar a biografia de um homem quilombola que veio para a metr�pole”, complementa Cl�udio.
 

O objetivo do financiamento coletivo � custear a primeira parte do projeto do livro, que � o processo de escrita. O plano � que o livro seja finalizado em agosto desse ano e impresso at� janeiro de 2024. A campanha de arrecada��o teve in�cio pela plataforma Catarse, mas com baixa ades�o, Danilo e sua equipe passaram a receber apoio financeiro por meio do PIX. A chave � o n�mero de telefone (31) 98343-1264 e Danilo recomenda colocar o e-mail do doador na descri��o da transfer�ncia.
 
Imagem de divulgação da chave pix de Danilo, que é o telefone (31) 98343-1264
Campanha de financiamento continua via PIX (foto: Danilo Candombe/Divulga��o)
 

As expectativas s�o de que o livro e a hist�ria de Danilo se tornem refer�ncia em discuss�es sobre masculinidade negra e que, al�m de auxiliar na express�o de mais homens pretos, torne-se semente para uma organiza��o coletiva entre quilombolas.

“Espero que o livro chegue ao m�ximo de pessoas poss�veis, e que n�o seja mais um material de apoio para a classe m�dia branca. N�o quero que esse livro seja a B�blia dos ‘esquerdomachos’. Quero que seja uma semente para n�s, pretos”, explica o quilombola.

“Tamb�m � um livro para mim mesmo. Como quilombola, acredito que mais irm�os e irm�s v�o se encorajar e contar suas hist�rias. Expor para se tornar semente e refer�ncia. Quero que o povo preto se organize como os irm�os ind�genas v�m se organizando: etnias diferentes, mas juntos pela luta de todo um povo origin�rio”, completa ele.
 

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