
Exemplo de preserva��o, o modo de vida do povo kalunga e o reconhecimento da propriedade coletiva de parte da terra pelo Estado explicam a elevada prote��o ao bioma na regi�o.
O kalunga Sirilo dos Santos Rosa, de 69 anos, considerado uma lideran�a anci� pela comunidade, explicou que a preserva��o do Cerrado � uma condi��o necess�ria para o modo de vida do quilombo.
“N�s dependemos muito do Cerrado em p�, do Cerrado vivo. Ele protege a �gua, tem as frutas que s�o fonte de renda para sociedade. Assim, a gente n�o tem como n�o preservar o Cerrado. Esse � um trabalho que nossos antepassados deixaram pra n�s e n�s queremos deixar para as futuras gera��es”, afirmou.
Sirilo acrescentou que cerca de 15% do territ�rio tem sido usado para fazer a ro�a com planta��es de arroz, feij�o, mandioca, legumes e verduras que ajudam a alimentar as cerca de 3.500 pessoas que vivem e em 39 comunidades espalhadas pelo territ�rio que ocupa 261 mil hectares.
“A gente faz nossas ro�as, mas n�o prejudica a natureza em volta. A gente sempre deixa uma parte de reserva. Al�m disso, depois de dois ou tr�s anos fazendo a ro�a a gente muda o local da planta��o e a mata volta a se recuperar de novo depois de sete ou oito anos. Quanto mais r�pido a ro�a � abandonada, mais r�pido a vegeta��o do Cerrado volta”, disse Sirilo.
Segundo os dados do MapBiomas, dos 16% do territ�rio com uso antr�pico, ou seja, usado pelos humanos, 12% � de pastagem, sendo 4% com uso diversos. Ainda segundo o levantamento, em 1985, apenas 10% do territ�rio Kalunga era usado pelos humanos, sendo 90% ocupado por Cerrado nativo.
Cerrado e economia
O Cerrado vivo e em p� � uma condi��o necess�ria para a economia do povo kalunga, destacou Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa de Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, do Popula��o e Natureza (ISPN). O ISPN trabalha com comunidades tradicionais h� cerca de 30 anos.
Segundo Isabel, o territ�rio Kalunga, assim como outras terras ocupadas por povos e comunidades tradicionais, tem uma l�gica de uso da terra “que inclui a vegeta��o nativa nas atividades econ�micas. Elas utilizam o Cerrado em p� e a vegeta��o nativa conservada para extrair rem�dios diversos, alimentos, madeira e fibras. S�o produtos que fazem parte da economia dessas comunidades e, portanto, � interessante para elas manter o Cerrado em p�”.
Reconhecimento do Estado
Al�m disso, outro fator que ajuda a explicar a preserva��o do bioma ao longo das �ltimas d�cadas nessa regi�o � o reconhecimento, feito pelo Estado, de que aquele territ�rio � de propriedade coletiva do Quilombo Kalunga.
Em 1991, a Lei Estadual nº 11.409 qualificou a comunidade como S�tio Hist�rico e Patrim�nio Cultural em Goi�s. Em 2004, o Instituto de Coloniza��o e Reforma Agr�ria (Incra) iniciou o processo de titula��o das terras. Em 2010, o quilombo foi declarado como �rea de interesse pela Presid�ncia da Rep�blica, sendo iniciados os processos de desapropria��es dos im�veis rurais privados.
Em 2014, o Incra titulou 31 mil hectares do territ�rio tradicional. Em 2023, acordo firmado pela Advocacia-Geral da Uni�o garantiu posse de outra �rea da terra da comunidade.
Esse processo de reconhecimento do quilombo pelo Estado � apontado como fator importante para reduzir o ass�dio de invasores dentro do territ�rio, como grileiros e fazendeiros, o que contribui para preserva��o do Cerrado na regi�o.
Exemplo internacional
Em fevereiro de 2021, o Territ�rio Kalunga foi o primeiro do Brasil a ser reconhecido pela Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) como Territ�rios e �reas Conservadas por Comunidades Ind�genas e Locais (TICCA). O t�tulo global � concedido �s comunidades que “t�m profunda conex�o com o lugar que habitam, processos internos de gest�o e governan�a e resultados positivos na conserva��o da natureza”.