"A pobreza no Brasil tem sexo” costuma dizer a presidenta Dilma Rousseff em alus�o ao fato de as mulheres estarem predominantemente nos estratos mais pobres da sociedade brasileira. Segundo os dados em an�lise na Coordena��o de Igualdade de G�nero do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea), mais da metade das fam�lias com filhos chefiadas por mulheres (53%) s�o pobres; ao passo apenas 23,7% das fam�lias com filhos chefiadas por homens est�o nessa condi��o.
“Quando a mulher � chefe de fam�lia, esta tem muito mais chance de estar na pobreza do que quando a estrutura familiar tem como chefe um homem”, confirma a economista Luana Sim�es Pinheiro, do Ipea.
A raz�o da pobreza feminina est� na divis�o do trabalho. As mulheres s�o historicamente incumbidas das tarefas domiciliares, como cuidar dos filhos e, no mercado de trabalho, ocupam os postos de mais baixa remunera��o, dando prefer�ncia �s atividades que permitam continuar cuidando de casa e dos filhos.
Os dados analisados pela economista foram levantados pela Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (Pnad 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica - IBGE). Segundo a mesma pesquisa, o rendimento m�dio das mulheres (R$ 786) � 67,1% do rendimento m�dio dos homens (R$ 1.105), a
Uma s�rie com dados da Pnad montada pelo Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (IETS) mostra que nos �ltimos 20 anos houve alguma melhora na rela��o entre os rendimentos m�dios de homens e mulheres. Em 1992, o rendimento das mulheres era de menos de 60% e em 2001, 65%.
Apesar da evolu��o, � poss�vel ainda notar, na maioria das atividades econ�micas, que as mulheres ganham menos do que os homens. Conforme an�lise publicada pelo IBGE com os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (dados 2009) sobre trabalhadores com curso superior ou com ensino m�dio completo, as mulheres ganham menos se trabalham na ind�stria, no com�rcio, na presta��o de servi�os, na administra��o p�blica e nos servi�os dom�sticos.
A administra��o p�blica e os servi�os dom�sticos s�o as duas �nicas atividades em que as mulheres s�o maioria das pessoas empregadas (94,5% e 63,2%, respectivamente). “Com certeza n�o s�o cargos de dire��o na administra��o p�blica. As mulheres est�o agora come�ando a ocupar esses cargos”, avalia Eliana Gra�a que � assessora pol�tica do Instituto de Estudos Socioecon�micos (Inesc) e volunt�ria do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea).
Em sua opini�o, as mulheres s�o maioria na administra��o p�blica por causa dos concursos. “A quest�o da discrimina��o n�o aparece e elas se d�o bem nessa sele��o, que costuma ser isenta.” Eliana lembra que muitas mulheres inclu�das na administra��o p�blica trabalham como professoras. Na maior parte dos n�veis de magist�rio, as mulheres prevalecem, chegando a ocupar 97% das vagas na educa��o infantil, 82,2% do ensino fundamental e 64,1% do ensino m�dio, de acordo com dados do Minist�rio da Educa��o (Sinopse do Professor da Educa��o B�sica, 2010).
Para Eliana Gra�a e Luana Sim�es Pinheiro, a redu��o da discrimina��o no mercado do trabalho depende, no plano privado, da redistribui��o dos afazeres dom�sticos entre homens e mulheres; e na esfera p�blica, de mais investimento do Estado em pol�ticas sociais que tenham como objetivo “emancipar as mulheres”. “N�o vamos conseguir isso com pol�tica universal”, disse a assessora do Inesc.