Uma fila de meninos e outra de meninas. A forma de organiza��o que real�a a diferen�a de g�nero est� na mem�ria escolar da maior parte dos brasileiros e ainda � uma pr�tica comum nas escolas. O que � visto com muita naturalidade por todos os agentes do ambiente escolar e pela pr�pria sociedade pode esconder pr�ticas que acabam tamb�m incentivando a discrimina��o de g�nero, que, na maior parte das vezes, faz como v�tima o lado feminino.
“As meninas s�o sempre elogiadas por ficarem quietinhas, mais comportadas. � comum ouvir colegas de trabalho dizendo que esse � o comportamento de uma mo�a. Quando a situa��o � inversa, ou seja, uma menina mais agitada, fatalmente ouviremos a seguinte repreens�o: 'n�o � assim que uma mo�a
Embora o relato apresente uma cena cotidiana, comum em todo pa�s, o incentivo dessa pr�tica nas escolas brasileiras vem chamando a aten��o do governo. Preocupado com o baixo �ndice de mulheres em profiss�es que requerem mais ousadia e inova��o, o governo colocou como meta, qualificar, at� 2014, meio milh�o de professores nas quest�es de g�nero e diversidade.
De acordo com a ministra Iriny Lopes, da Secretaria Especial de Pol�ticas para Mulheres (SEPM) �rg�o ligado � Presid�ncia da Rep�blica, a decis�o tem o intuito de iniciar uma mudan�a cultural a longo prazo, que tenha reflexos na condi��o da mulher no mercado de trabalho.
“Uma das nossas metas � chegar em 2014 com meio milh�o de professores formados em g�nero e diversidade, um programa que est� sendo coordenado pelo Minist�rio da Educa��o. Temos que dar escala a essa forma��o e melhorar as condi��es para trabalhar a autonomia das mulheres”, enfatizou a ministra que logo que assumiu a SEPM, se surpreendeu com os dados de g�nero revelados pelas Olimp�adas de Matem�tica.
Uma observa��o feita pela pr�pria idealizadora e coordenadora da competi��o, Suely Druck, demonstrou que nas s�ries iniciais, a participa��o de meninas � praticamente igual � dos meninos. J� nas s�ries mais adiantadas, o percentual de meninas participando da competi��o nacional cai drasticamente. “O que acontece � que elas s�o direcionadas para outros focos, que n�o a matem�tica. Como a matem�tica � uma ci�ncia exata, ela � m�e da engenharia, da f�sica, da qu�mica e outros espa�os cient�ficos, onde predominam os homens”, considera a ministra.
“Esse direcionamento � feito pela fam�lia e tamb�m pela escola. As meninas v�o, aos poucos, migrando para as �reas de assist�ncia social, educa��o. Tudo que trata da �rea de cuidar do outro. Ficam com os meninos as �reas de mais ousadia e inova��o. Isso � parte da explica��o do porqu� temos t�o poucas mulheres cientistas”, destaca Iriny.
“Tomei conhecimento de um dado e n�s vamos trabalhar com isso. N�s temos um protocolo assinado com o governo americano para desenvolvermos a��es no sentido de enfrentar a discrimina��o das mulheres no meio cient�fico e tecnol�gico. Por que n�o h� produ��o com um olhar de g�nero nas universidades? Por que a presen�a de cientistas mulheres � t�o baixa? Por que temos t�o poucas mulheres em cargos de dire��o de institutos tecnol�gicos e de pesquisa cient�fica no Brasil?”, questiona a ministra.
Um caso emblem�tico dessa cultura foi o lan�amento, em 1968, da primeira boneca Barbie que falava. Uma das frases da sequ�ncia repetida pela boneca era “eu odeio matem�tica”.
“Sem uma mudan�a de cultura, n�o adianta ter Lei Maria da Penha cumprida integralmente, n�o adianta ter equidade de g�nero cumprida integralmente, se n�o se prepara as futuras gera��es para outras posturas. Quando falamos em escola, n�o queremos falar somente em vagas para mulheres estudarem, at� porque, hoje temos a maioria de mulheres com maior tempo de estudos do que os homens”, destacou a ministra.
A S�ntese de Indicadores Sociais (SIS) 2010, que busca fazer uma an�lise das condi��es de vida no pa�s, tendo como principal fonte de informa��es a Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) 2009, demonstrou que, mesmo mais escolarizadas que os homens, o rendimento m�dio das mulheres continua inferior ao dos homens. As mulheres ocupadas ganham em m�dia 70,7% do que recebem os homens. A situa��o se agrava quando ambos t�m 12 anos ou mais de estudo. Nesse caso, o rendimento delas � 58% do deles.
“O maior n�vel de escolaridade n�o fez todos iguais no mercado de trabalho nem fez com que os sal�rios fossem iguais entre homens e mulheres para as mesmas fun��es. Infelizmente isso [o maior n�vel de escolaridade] n�o serviu no Brasil para al�ar as mulheres a cargos de poder, de decis�o, de chefia”, destaca Iriny.
De acordo com a Pnad, as mulheres trabalham em m�dia menos horas semanais (36,5) que os homens (43,9), mas, em compensa��o, mesmo ocupadas fora de casa, ainda s�o as principais respons�veis pelos afazeres dom�sticos, dedicando em m�dia 22 horas por semana a essas atividades contra 9,5 horas dos homens ocupados.