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Estado de Minas

Ex-dom�sticas bucam novas carreiras em busca de ascens�o


postado em 13/07/2011 10:29 / atualizado em 13/07/2011 10:35

Mulheres que deixaram o servi�o dom�stico para tr�s em busca de ascens�o social e profissional em outros setores relataram � BBC Brasil o que conquistaram ap�s anos de sacrif�cios. O trabalho dom�stico � considerado prec�rio e de baixa qualidade e segundo a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea) Luana Pinheiro, a profiss�o ainda � marcada por uma rela��o de submiss�o com os patr�es. Ela comenta que em pesquisas trabalhadores dom�sticos citam que "essa rela��o ainda � marcada pela explora��o, pela submiss�o e pela humilha��o ".

"Ela est� dentro da casa, mas � exclu�da de tudo, n�o tem direito a comer o que est� dentro da geladeira, come as sobras. E ainda existe uma dificuldade do estado para regulamentar esse trabalho, porque est� dentro da privacidade do lar.

Barbara Baptista (foto: Gisela Camara )
Barbara Baptista (foto: Gisela Camara )
Embora as jornadas sejam extensas, o trabalho � considerado muito simples, nunca � valorizado. Ela est� l�, faz um monte de coisas, mas n�o se d� valor ao que ela faz." Pinheiro acredita que “se a dom�stica pessoa tem a possibilidade de se ocupar em outros lugares com a sua qualifica��o, � evidente que vai optar por isso.”

Ascens�o

�ngela Concei��o Vaz � uma das que investiram em seu aperfei�oamento para aproveitar novas oportunidades. Ela come�ou a trabalhar como dom�stica aos 13 anos, numa casa de fam�lia no Catete, na zona sul do Rio. Para completar o ensino m�dio, deixava o servi�o no fim da tarde todos os dias e rumava para a escola noturna, a mais de uma hora de �nibus.

Conseguiu concluir o ensino m�dio com cerca de 21 anos (n�o lembra a idade exata) e aproveitou a promo��o de uma escola de inform�tica que estava abrindo em Nova Igua�u - munic�pio na Baixada Fluminense onde nasceu e vive at� hoje - para fazer quatro cursos pelo pre�o de dois: gest�o empresarial, telemarketing, ingl�s e inform�tica.

Com o investimento devidamente listado no primeiro curr�culo, �ngela conseguiu emprego como secret�ria de uma consultoria em telemarketing, a Fix Telemarketing, onde est� h� 14 anos.

Hoje, com 35 anos, �ngela diz gostar da intera��o com os clientes, das conversas com o patr�o e de atender os telefonemas. "�s vezes ligam de Buenos Aires, aprendi a entender o espanhol", orgulha-se. Ela diz que seu sal�rio hoje � "muito melhor" e conseguiu o que mais queria: a casa pr�pria.

"Minha casa tem dois andares. A parte de cima ainda est� em constru��o. Tenho m�quina de lavar, micro-ondas, televis�o, bid�. Tudo que tem numa casa, eu tenho, consegui comprar", comemora ela, que mora no bairro de Austin com o marido, eletricista, e os dois filhos.

S� em uma das quatro casas por onde passou, aos 15 anos, �ngela teve que parar de ir � escola. Os patr�es tinham filho pequeno e s� chegavam de noite, e ela n�o podia sair para a aula. "Eu ficava muito triste porque gostava muito de estudar. Tanto � que eu acabei n�o ficando l�", diz.

"Minha casa tem dois andares. A parte de cima ainda est� em constru��o. Tenho m�quina de lavar, micro-ondas, televis�o, bid�. Tudo que tem numa casa, eu tenho, consegui comprar" �ngela Concei��o Vaz, ex-dom�stica e atual secret�ria em consultoria de telemarketing

Os filhos n�o dever�o passar pelo servi�o dom�stico. A mais velha, de 17 anos, trabalha numa academia de gin�stica e est� cursando pr�-vestibular para entrar na faculdade. O mais novo, de 12, estuda num col�gio particular, com bolsa de metade da mensalidade. A outra metade �ngela paga.

"Eles est�o arrumando para o futuro melhor deles. Eu fico com orgulho", diz. Mas �ngela tem amigas que preferem trabalhar como empregadas dom�sticas por terem boas rela��es com seus empregadores. "Elas s�o tratadas como parte da fam�lia. Nem todas querem mudar. Mas se eu ficar desempregada e precisar voltar a trabalhar em casa da fam�lia, eu volto."

‘N�o segui a profiss�o da minha m�e’ . Assim como na fam�lia de �ngela, em outras casas de matriarca dom�stica o rumo tomado pelos filhos � outro, muitas vezes gra�as ao incentivo da m�e. � o caso de B�rbara Jos� Antunes Baptista, de 24 anos. Ela se formou em biotecnologia pelo Centro Universit�rio Estadual da Zona Oeste (Uezo) e agora est� fazendo mestrado em imunologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com bolsa da Capes.

"Eu n�o segui a profiss�o da minha m�e, mas isso porque ela me deu muito apoio e uma dire��o para que eu buscasse uma profiss�o que pudesse me dar um retorno melhor na vida, e melhores condi��es financeiras", diz B�rbara.

A m�e de B�rbara, Odil�a Jos� Antunes, faleceu em 2005 ap�s um erro m�dico numa cirurgia em um hospital p�blico. Na �poca, B�rbara estava prestando vestibular para ingressar na faculdade. "Gra�as a Deus, deu tudo certo. Eu consegui entrar numa estadual e fiz o curso", conta. "A minha m�e sempre dizia que eu tinha que conseguir buscar algo melhor para mim. Ela tinha o sonho de buscar a casa pr�pria, e no trabalho ela n�o tinha condi��es para isso. Acabou morrendo sem conseguir esse sonho", conta.

"Empregada dom�stica � uma profiss�o que d� um dinheiro, garante o sustento, mas n�o favorece que a pessoa cres�a, adquira novos conhecimentos. Minha m�e tinha essa vis�o e queria que eu buscasse novas conquistas", diz B�rbara, que mora em Padre Miguel, na zona oeste do Rio, com uma tia.
Cleusa Ferraz (foto: BBC Brasil )
Cleusa Ferraz (foto: BBC Brasil )

Chef de cozinha

A vontade de juntar dinheiro para uma gradua��o levou Nat�lia Santos, de 32 anos, a deixar o emprego de dom�stica em S�o Paulo. Ela trabalha como assistente de um chef de cozinha, promovendo jantares particulares, e est� juntando dinheiro para entrar numa faculdade particular de gastronomia. "Se Deus quiser, vou come�ar a faculdade no ano que vem", diz.

Pernambucana, Nat�lia chegou a S�o Paulo aos 17 anos para trabalhar. Nos primeiros anos, morava no servi�o e mandava dinheiro para os pais no Nordeste para ajudar. Ap�s 12 anos na casa de duas fam�lias ("era um bom trabalho, meus patr�es hoje s�o meus amigos"), entrou numa empresa de telemarketing e come�ou a economizar. Foi seu primeiro e �nico emprego com carteira assinada.

"Eu quero arrumar um emprego na �rea de restaurante ou industrial. Gosto de cozinhar", diz. "Cada dia � um degrau a mais. Se voc� ficar s� no ramo de dom�stica, n�o tem para onde ir. Se voc� n�o partir para estudar, para ir fazer um curso, n�o sai dessa vida."

J� no caso de Cleusa C�lia Ferraz, de 51 anos, foi gra�as ao trabalho de dom�stica que ela conseguiu pagar um curso de t�cnico em enfermagem e passar para o emprego atual. Ela trabalha em um hospital aberto recentemente em S�o Paulo. "Cada dia � um degrau a mais. Se voc� ficar s� no ramo de dom�stica, n�o tem para onde ir. Se voc� n�o partir para estudar, para ir fazer um curso, n�o sai dessa vida".

Na juventude, Cleusa chegou a trabalhar como assistente de enfermagem, mas depois que se casou, o marido n�o concebia que trabalhasse fora. Ap�s 16 anos como dona de casa, Cleusa se separou e conseguiu recome�ar a vida com o emprego de dom�stica. "Trabalhava durante o dia e � noite fazia o curso. Paguei com o sal�rio de dom�stica, fazendo muita economia e muito sacrif�cio", conta.

Cleusa tem duas filhas, uma j� casada, terminando a faculdade de administra��o, e outra prestes a concluir o ensino m�dio e prestar o vestibular. "Ela quer fazer farm�cia, mas precisa de apoio. Se Deus me der for�a e sa�de para trabalhar, vou ajudar ela a fazer a faculdade."

Carli Maria dos Santos est� acostumada a lidar com este universo pelo menos desde 1981, quando entrou para uma associa��o de empregadas dom�sticas no Rio. O grupo s� p�de se tornar sindicato em 1988, quando a categoria teve o direito a se sindicalizar reconhecido pela Constitui��o.

Hoje, Santos � presidente do Sindicato dos Trabalhadores Dom�sticos do Munic�pio do Rio de Janeiro. No vaiv�m de mulheres que chegam buscando orienta��o e assist�ncia jur�dica, ela j� v� uma mudan�a no perfil geral. “A dom�stica est� evoluindo, mudando de categoria, se informando mais para ter op��es de trabalho. N�o � mais aquela pessoa que ficava 20 ou 30 anos na casa da mesma fam�lia. Ainda h� aquelas que ficam 60 anos trabalhando no mesmo lugar, mas as meninas mais jovens est�o procurando novos caminhos”, afirma.

De acordo com Santos, muitas dom�sticas est�o migrando para companhias de limpeza e manuten��o, trabalhando como motoristas de �nibus ou mesmo na constru��o civil. “Muitas fazem enfermagem e v�o trabalhar em cl�nicas ou hospitais. E tem tamb�m o telemarketing, para aquelas que j� t�m uma instru��o, completaram segundo grau. Os campos est�o se abrindo”, diz.




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