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Estado de Minas

Escassez de dom�sticas pode mudar h�bitos da classe m�dia


postado em 14/07/2011 08:48 / atualizado em 14/07/2011 08:56

A menor oferta e a maior renda de empregadas dom�sticas podem trazer "impactos profundos" para a sociedade brasileira, dizem analistas, obrigando fam�lias a reorganizarem suas vidas e h�bitos dom�sticos. "As classes m�dia e m�dia alta se organizaram em fun��o do trabalhador dom�stico, que estrutura suas vidas e possibilita suas jornadas de trabalho", diz Luana Pinheiro, do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea).

Mercado de trabalho

De acordo com a pesquisadora, a migra��o de mulheres jovens para outros setores do mercado de trabalho formal tende a reduzir a oferta de trabalhadoras dom�sticas, mas a demanda continua alta. "Essa n�o-reposi��o (de profissionais na categoria) pode ter impactos muito profundos na sociedade. Se a oferta se tornar muito pequena, as fam�lias podem ter que se reorganizar e redistribuir as tarefas dom�sticas", diz a soci�loga.

Fam�lias acostumadas � ajuda dom�stica ter�o que encontrar novas maneiras de dar conta de cuidados com filhos, limpeza e alimenta��o, diz Pinheiro, e adotar uma divis�o de tarefas mais equilibrada entre homens e mulheres.

(foto: BBC)
(foto: BBC)
Mas tamb�m o Estado ser� chamado � responsabilidade, afirma a soci�loga, preenchendo lacunas que v�m sendo compensadas por trabalhadoras dom�sticas.

"O Estado vai ter que compartilhar com as fam�lias a responsabilidade por atividades como o transporte escolar e a oferta de creches", diz Pinheiro. "Os cuidados n�o devem ser responsabilidade s� da fam�lia, ou s� da mulher dentro da fam�lia. Se for assim, quem tem dinheiro resolve, quem n�o tem n�o resolve."

‘Segunda libera��o feminina’

"Os cuidados n�o devem ser responsabilidade s� da fam�lia, ou s� da mulher dentro da fam�lia. Se for assim, quem tem dinheiro resolve, quem n�o tem n�o resolve". Luana Pinheiro, do Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea)

De acordo com o economista Marcelo Neri, do Centro de Pol�ticas Sociais da Funda��o Get�lio Vargas (FGV), o processo de entrada das mulheres brasileiras no mercado de trabalho, no passado, veio apoiado no trabalho dom�stico. As empregadas permitiram que “as mulheres deixassem a casa e fossem trabalhar”. Tanto que o processo incluiu a entrada de uma legi�o de mulheres de baixa escolaridade no mercado, na retaguarda.

Para Neri, agora come�a "a segunda etapa da libera��o feminina". "Est� havendo e vai continuar a haver uma mudan�a no mercado, permitindo a libera��o das empregadas dom�sticas de um trabalho pouco qualificado", diz. A seu ver, isso vai trazer mudan�as culturais para a sociedade e fazer com que novas tecnologias sejam incorporadas aos lares para compensar pela falta – ou redu��o – da ajuda dom�stica.

Mesmo dom�sticas poder�o ter que readequar sua rotina de trabalho: de acordo com pesquisa do Data Popular, 17% das empregadas no Brasil (mais de um milh�o de pessoas) contam com ajuda de outros trabalhadores em suas casas para poder sair para trabalhar.

‘Servi�o de luxo’

Para o economista Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), a queda no total de trabalhadores no setor – observada desde setembro nas seis principais metr�poles brasileiras – pode fazer com que o Brasil caminhe para uma realidade pr�xima � de pa�ses desenvolvidos:

"A gente pode estar caminhando para uma tend�ncia de grandes centros como Estados Unidos e Europa, de o servi�o dom�stico se tornar um servi�o de luxo, mais caro", diz. "Est� havendo e vai continuar a haver uma mudan�a no mercado, permitindo a libera��o das empregadas dom�sticas de um trabalho pouco qualificado", informa Marcelo Neri, do Centro de Pol�ticas Sociais da Funda��o Get�lio Vargas.

De acordo com pesquisa do Data Popular, instituto de pesquisa e consultoria em S�o Paulo, a renda de trabalhadoras dom�sticas teve crescimento acima da m�dia nacional de 2002 para c�. Enquanto a renda do brasileiro m�dio aumentou 25%, a das dom�sticas subiu 43,5%. "Hoje, quem tem pouca educa��o est� ganhando mais, e quem tem muita educa��o est� ganhando menos", diz Marcelo Neri. "Est� mais dif�cil arcar com os custos de uma empregada dom�stica, uma coisa pretensamente de classe m�dia", diz.

Margareth Galv�o Carbinato, presidente do Sindicato dos Empregadores Dom�sticos do Estado de S�o Paulo (Sedesp), diz que as dificuldades da classe m�dia t�m outra raiz: os encargos e as exig�ncias trabalhistas, que desestimulam contrata��es.

Novos direitos

Em junho, uma resolu��o hist�rica da Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT), integrada por 183 pa�ses, determinou que empregados dom�sticos devem ter os mesmos direitos b�sicos que trabalhadores de outros setores, incluindo regula��o de jornada de trabalho, descanso semanal de 24 horas consecutivas e um limite para pagamentos em dinheiro vivo.

Ap�s a decis�o, o Minist�rio do Trabalho anunciou que vai elaborar uma proposta para equiparar os direitos trabalhistas de empregadas dom�sticas aos de outros trabalhadores, assegurando, por exemplo, o direito ao FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servi�o) e o pagamento de horas extras. De acordo o ministro Carlos Lupi, o projeto ser� apresentado � presidente Dilma Rousseff at� o fim do ano. A decis�o levou a protestos entre representantes de empregadores, que argumentam que a medida levaria a forte queda nas contrata��es.

Carbinato afirma que o trabalho dom�stico deve continuar sendo tratado como uma categoria especial e argumenta que � imposs�vel regular a jornada de trabalho de uma empregada dom�stica ("O empregador n�o teria condi��es de saber se o empregado trabalhou enquanto estava fora de casa ou se ficou assistindo a novela, ou falando no celular sentado na cozinha. N�o tem como controlar.")

"Com cada vez mais encargos no ombro do empregador, vai acabar havendo uma mudan�a nos h�bitos", diz. "Em vez de voc� ter uma pessoa que vai todo dia, vai acabar pegando diarista. Quem tinha tr�s empregados vai ter uma, e quem tinha uma vai ter s� uma diarista, ou nenhuma. E as pessoas que eram empregadas v�o ter que pular para outra �rea para sobreviver", diz.

Quando se casou, h� dois anos e meio, o casal Mariana e Thiago Lago, de Niter�i, no Rio de Janeiro, contava com uma diarista uma vez por semana, mas se viu obrigado a cortar a empregada por conta do aperto no or�amento com a chegada do primeiro filho, no in�cio do ano. "O dia a dia trabalhando e sem uma empregada � um inferno", reclama Thiago.




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