Servi�os e produtos que na classe D eram considerados artigos de luxo se tornaram febre de consumo da nova classe C. Educa��o, carro na garagem, viagem de avi�o, TV por assinatura, internet de alta velocidade e at� tratamentos em cl�nicas est�ticas passaram a fazer parte do or�amento dos mais de 31 milh�es de brasileiros que nos �ltimos 10 anos entraram na classe m�dia. Somado, o pacote chega a consumir quase 60% da renda m�dia das fam�lias, estimada em R$ 2.295 pelo instituto de pesquisa Data Popular. Isso sem contar os gastos b�sicos com sa�de, alimenta��o e moradia, que n�o entram na conta.
Al�m do novo pacote de gastos, a nova classe m�dia tem uma faixa de renda que pode ser perigosa quando o assunto � tributa��o. O Imposto de Renda para pessoa f�sica � cobrado pela Receita Federal com base numa tabela de al�quotas. Sobre renda mensal de 1.164,01 at� 2.326,00, h� desconto de 15%. Acima desse valor, no entanto, o desconto passa a ser de 27,5%. Como o valor limite � muito pr�ximo � m�dia familiar desse novo grupo, h� sempre o risco de um pequeno ganho extra gerar uma nova facada no recolhimento.
Levantamento realizado pelo Estado de Minas em parceria com o site de pesquisas Mercado Mineiro e empresas do setor estimou em R$ 1.337,71 os gastos m�dios mensais nos lares de fam�lias que possuem um filho em escola particular, enquanto o custo sobe para R$ 1.348,78 se um dos integrantes estiver na faculdade (veja quadro). Inclu�dos na rotina dom�stica, as novas aquisi��es tamb�m se tornam a maior amea�a ao equil�brio do or�amento. Perigo que pode ser ainda maior j� que outros h�bitos tamb�m rec�m-chegados aos domic�lios, como a alimenta��o fora do lar e a presta��o da casa pr�pria, podem aumentar ainda mais esse peso.
Para Edilson Nascimento, gerente da Pesquisa de Or�amento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) – que mede o consumo das fam�lias por classe de renda, e n�o por segmenta��o social –, � n�tida a incorpora��o de servi�os na faixa da popula��o que ganha acima de R$ 1.245. “� isso que diferencia bastante uma classe de renda da outra. As fam�lias com menor poder aquisitivo tendem a utilizar servi�os gratuitos”, pondera. Entre os novos contratos est�o a educa��o, TV por assinatura e internet.
Segundo o �ltimo levantamento da POF, o peso da educa��o sobre o or�amento das fam�lias que ganham entre R$ 1.245 e 2.490 foi de 1,6% da renda, subindo para 2,4% entre aquelas que recebem entre R$ 2.490 e R$ 4.150. Na faixa inferior, entre a parcela da popula��o com rendimento de at� R$ 830, a participa��o desse item n�o chega a 1%. No caso do item que engloba pacote de telefone, TV e internet, os gastos saem de m�seros R$ 1,11 ao m�s, para quem ganha at� R$ 830, para R$ 21,64 entre aqueles que recebem entre R$ 2.490 e R$ 4.150, alta superior a 19 vezes.
Alessandra Bortoni, gerente de projeto da Nova Classe M�dia da Secretaria de Assuntos Estrat�gicos da Presid�ncia da Rep�blica, reconhece o crescimento da demanda por educa��o, um grande gargalo nos estratos mais baixos da sociedade. “Esse � um dos focos, j� que os pais querem um futuro melhor para seus filhos”, observa.
O s�cio-diretor do Instituto Data Popular, Renato Meirelles, diz que s�o justamente esses itens, provenientes do setor de servi�os, que t�m maior peso na infla��o da classe C (leia na p�gina ao lado). Ele lembra que a universidade particular � uma recente conquista da classe m�dia, assim como a TV por assinatura e internet banda larga.
A fam�lia do restaurador de fotografias Am�ncio Miguel da Silva, com ganhos dentro da faixa de R$ 1 mil a R$ 4 mil, sentiu os efeitos do crescimento da renda, incorporando novos h�bitos de consumo ao or�amento. A casa onde moram, na Regi�o Norte de Belo Horizonte, est� sendo reformada e tem internet. Odete Silva � dona de casa, e Am�ncio J�nior, o filho do casal, que ainda mora com a fam�lia, � porteiro. Eles costumam comprar passagens de avi�o para visitar a filha, que mora no Esp�rito Santo. Ela j� concluiu a universidade e tamb�m o mestrado em engenharia ambiental e hoje trabalha dentro e fora do pa�s.
pondera. Am�ncio Silva, que trabalha por conta pr�pria, considera o transporte p�blico ruim e gostaria de ter um conv�nio m�dico. Ele desenvolveu um ponto de vista sobre a classe C. “Acho que, para ser classe m�dia, a pessoa deveria conseguir pagar suas despesas e arcar com os custos da educa��o. A educa��o de qualidade ainda � uma barreira para os brasileiros.”
AMEA�AS
O cientista pol�tico Amaury de Souza, s�cio-diretor da MCM consultores, diz que a principal amea�a para a manuten��o do patamar de consumo adquirido pela classe C � o desemprego, ou, de forma mais ampla, uma redu��o do n�vel de crescimento da economia. “A infla��o � outra amea�a formid�vel, pois esses s�o setores que dificilmente podem se defender coletivamente, dado o n�mero de trabalhadores informais que os integram.”
Para Meirelles, a classe C, mesmo dependendo do cr�dito para manter em dia os desejos, ser� respons�vel por evitar que o Brasil mergulhe em uma crise econ�mica como as economias europeia e norte-americana. “Tudo indica que a classe C continuar� muito bem empregada, salvando o mercado interno brasileiro”.