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Estado de Minas 18 ANOS REAL

Frango passa de s�mbolo a inimigo desde cria��o do real


postado em 02/07/2012 06:50 / atualizado em 02/07/2012 08:49

Quem for a um supermercado ou a�ougue em Belo Horizonte pagar� cerca de R$ 5 pelo quilo do frango, um dos s�mbolos do real. A ave pulou para tal status em raz�o de seu quilo custar, no lan�amento da moeda, apenas R$ 1, o que possibilitou que muitas fam�lias carentes pudessem incluir a carne no card�pio. Hoje, embora o pa�s tenha ficado livre do pesadelo da hiperinfla��o anual, que chegou a quase 2.500% em 1993, alguns produtos e servi�os registram, de julho de 1994 ao fim de maio de 2012, alta maior do que a infla��o oficial acumulada no mesmo per�odo (305,92%) e medida pelo �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). � o caso do pr�prio frango, cujo pre�o subiu 400%. Os vil�es da era do real abrem o segundo dia da s�rie Maioridade real, que o Estado de Minas publica desde ontem.

Eduardo Barros aposta em aumentos no valor dos combustíveis: %u201CAlguém vai ter de pagar essa conta%u201D(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Eduardo Barros aposta em aumentos no valor dos combust�veis: %u201CAlgu�m vai ter de pagar essa conta%u201D (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Os alugu�is e as taxas embutidas no servi�o, como condom�nio e �gua e esgoto, est�o entre as maiores altas dos �ltimos 18 anos (697,6%). Mas o principal destaque negativo fica por conta dos combust�veis dom�sticos (821,27%), representados pelo g�s de cozinha. O pre�o m�dio dos combust�veis de ve�culos tamb�m avan�ou muito (387,26%). Na sexta-feira, 22 de junho, a Petrobras reajustou o pre�o da gasolina e do diesel nas refinarias, mas zerou a al�quota da Contribui��o de Interven��o no Dom�nio Econ�mico (Cide) para que o repasse n�o chegasse �s bombas. A medida levar� a estatal a acumular preju�zo de mais de R$ 200 milh�es a cada m�s. “Algu�m vai ter de pagar essa conta. Por isso, acredito que novos aumentos vir�o por a�”, lamentou o vendedor Eduardo Barros, de 48 anos, enquanto abastecia o tanque de seu carro.

O economista Ant�nio Vieira, professor na Faculdade Arnaldo, recorda que a escalada de pre�os no Brasil, antes de julho de 1994, chegou a ser a maior do planeta. “A teoria econ�mica n�o tinha instrumento para combater um tipo de infla��o que n�o existia no restante do mundo. A economia n�o entrou numa desestrutura��o com o processo inflacion�rio intenso porque havia a corre��o monet�ria”, ensinou o especialista. Na era do real, os produtos e servi�os que mais pesaram no bolso dos consumidores foram as tarifas administradas, que t�m os reajustes monitorados pelo governo – telefone, energia el�trica, transportes, combust�veis, planos de sa�de e taxas p�blicas.

Tamb�m entram na lista dos itens que aumentaram muito al�m da infla��o os gastos com habita��o, da qual o aluguel � o principal, e educa��o. S�o esses produtos que t�m o maior peso no or�amento da classe m�dia do in�cio do real. N�o � toa o ent�o presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu, por ocasi�o dos festejos dos seis anos de estabilidade, em 2000, que a classe m�dia foi quem pagou a conta do real. Os custos dos servi�os pessoais – empregado dom�stico, cabeleireiro, manicure, servi�os banc�rios — tamb�m passaram a morder uma parcela maior do or�amento das fam�lias brasileiras a partir do real. Em 18 anos, a alta � de 540%.

A conta � simples: se esses pre�os e servi�os n�o tivessem aumentado tanto, a infla��o acumulada seria bem menor. A dificuldade para domar a alta do custo de vida vem de uma heran�a da era da hiperinfla��o, que � a indexa��o da economia, a vincula��o de reajustes dos diversos pre�os ao consumidor � infla��o. Quando foi implantada a atual moeda, o governo desindexou em parte a economia, mas manteve, por lei ou contratos, v�rios itens do or�amento atrelados � infla��o, mesmo que ela n�o refletisse a oscila��o dos custos desses itens. Setores que n�o s�o monitorados acabaram mantendo a infla��o como par�metro, segundo analistas.

Os pre�os administrados pelo governo foram os mais beneficiados com o real. Nos contratos dos setores privatizados, como telefonia, energia el�trica e saneamento, foi assegurada corre��o anual pelos IGPs (�ndices Gerais de Pre�o), calculados pela Funda��o Getulio Vargas (FGV). O problema � que esses indicadores refletem valores do atacado, como de commodities – produtos agropecu�rios e minerais –, negociadas em d�lar no mercado internacional, de grande volatilidade. Por isso, os IGPs caem de repente e tamb�m sobem muito.

A justificativa para a indexa��o das tarifas administradas foi a necessidade de oferecer garantias aos empres�rios dos setores que estavam investindo nos setores rec�m-privatizados. “A sociedade pagou uma conta alta durante muito tempo. At� 2002, nos primeiros oito anos do real, talvez fizesse sentido por causa da grande volatilidade do c�mbio, que dava uns saltos, e poderia desequilibrar os contratos. Mas h� uns 10 anos n�o tem mais sentido”, afirma o economista
Sim�o Silber, professor da Faculdade de Economia e Administra��o da Universidade de S�o Paulo (USP).

“A indexa��o continua sendo o problema da economia”, comenta o economista Thiago Curado, da Tend�ncias Consultoria. Apesar de alguns pre�os administrados terem diminu�do o �mpeto por reajustes altos nos �ltimos anos e seguido outros par�metros, como de produtividade, caso da energia e da telefonia, h� ainda uma indexa��o total e parcial em quase todos, afirmam os dois especialistas. “Sobrou uma in�rcia inflacion�ria significativa no pa�s. O grande desafio � romper com ela”, afirma Sim�o Silber, da USP.

BH � a segunda no ranking da infla��o


Belo Horizonte obteve, na era do real, a maior infla��o na Regi�o Sudeste. Levantamento do IBGE mostra que o indicador na capital mineira chegou a 334,35% entre 1º de julho de 1994 e 31 de maio, no �ltimo m�s fechado pela entidade. Em S�o Paulo, a infla��o foi de 294%. No Rio de Janeiro, 330,54%. O drag�o em BH, quando comparado com as 11 regi�es metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, s� ficou abaixo do apurado em Bel�m (334,65%). No pa�s, o �ndice m�dio foi de 305,92%.

Um dos motivos para o percentual no pa�s se deve aos s�mbolos da atual moeda. Iogurte no caf� da manh�, frango no almo�o e sorriso bonito no rosto. S�mbolos do Plano Real, os dois alimentos mais a dentadura entraram para a hist�ria brasileira como representantes de uma nova era do pa�s: a da estabilidade financeira, que permitiria o acesso dos mais pobres a bens antes inacess�veis.

Produtos de elite por causa dos pre�os altos e aspira��o de consumo dos trabalhadores de renda mais baixa em 1994, o frango e o iogurte chegaram fartamente � mesa da classe C e D nesses 18 anos do real. No embalo da preserva��o do poder aquisitivo dos sal�rios, as fam�lias brasileiras agregaram outras mercadorias ent�o consideradas de luxo � mesa. De 1994 para c�, a cesta de produtos dos brasileiros ficou mais diversificada. Entraram material de constru��o e TV LCD.
Preço do quilo do frango subiu cerca de 400% de 1994 aos dias atuais(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press. )
Pre�o do quilo do frango subiu cerca de 400% de 1994 aos dias atuais (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press. )

“Hoje, o sonho de consumo � o carro 1.0”, brinca o economista Sim�o Silber, professor da Universidade S�o Paulo. O frango estreou na nova moeda, em julho de 1994, custando, em m�dia, R$ 1 o quilo. Desde ent�o, ficou 400% mais caro em BH. A bandeja com seis iogurtes sa�a por pouco mais de R$ 1. E hoje, gra�as � concorr�ncia, � poss�vel encontrar, em promo��o, por pre�os em torno de R$ 2. Fora de ofertas, chega a R$ 3,50. Ainda assim, s�o 140% de alta, abaixo da infla��o geral, de 305,9%.

Os dados da Associa��o Brasileira das Ind�strias da Alimenta��o (Abia) mostram que o crescimento da demanda por frango e iogurte, entre 1994 e 2011, foi bem parecido, de 188% e 198%, respectivamente, bem acima do avan�o do Produto Interno Bruto (PIB), de 68,4% no mesmo per�odo. O resultado da maior demanda desses produtos � visto na mesa das classes mais baixas, mas especialmente na nova classe C, afirma o diretor do Departamento de Economia e Estat�stica da Abia, D�nis Ribeiro, citando dados do IBGE.


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