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Estado de Minas ONDE A LEI N�O ALCAN�A

Sal�rio de dom�sticas abaixo de R$ 100 no interior

Enquanto a Lei das Dom�sticas garante mais direitos, realidade no interior ainda obriga meninas a aceitar todo tipo de abuso para driblar a mis�ria e o isolamento


postado em 21/04/2013 06:00 / atualizado em 21/04/2013 10:29

 

A oferta de emprego que levou Maria Geralda da Silva Santos, a Neguinha, de Marilac, no Rio Doce, oferecia salário de R$ 80, bem inferior ao mínimo da época, mas a livrou da violência e do ambiente pernicioso que vivenciava em casa(foto: juarez rodriguez/EM/D.A Press)
A oferta de emprego que levou Maria Geralda da Silva Santos, a Neguinha, de Marilac, no Rio Doce, oferecia sal�rio de R$ 80, bem inferior ao m�nimo da �poca, mas a livrou da viol�ncia e do ambiente pernicioso que vivenciava em casa (foto: juarez rodriguez/EM/D.A Press)

 

A Lei das Dom�sticas, promulgada pelo Congresso Nacional no in�cio de abril, promete transformar a rela��o trabalhista entre empregadas e patr�es. Na teoria, a expectativa � de que mudan�as como a jornada m�xima de oito horas di�rias melhorem a vida de 6,6 milh�es de trabalhadores dom�sticos no pa�s. Na pr�tica, no entanto, muitos continuam fora do alcance da lei, esquecidos em um universo � parte, onde n�o h� emprego dispon�vel devido baixa qualifica��o e onde o servi�o informal – muitas vezes em condi��es desumanas e com sal�rio abaixo do m�nimo – surge como �nica op��o. Na zona rural e em pequenas cidades, um m�s inteiro de trabalho chega a valer R$ 50 e a mudan�a para a capital e cidades polo acaba significando a liberta��o de uma vida pobre e pouco promissora.


O dia a dia dessas trabalhadoras, suas hist�rias, o sonho com uma vida melhor e o caminho para cidades onde h� promessa de mais oportunidades s�o os temas da s�rie Aonde a lei n�o chega, que o Estado de Minas publica a partir de hoje. S�o hist�rias como a de Elis�ngela Batista de Carvalho, de 23 anos, que deixou o pouco que tinha para tr�s e busca uma vida diferente longe da fam�lia. Moradora de um povoado conhecido como Borrachudo, na zona rural de Paulistas, Regi�o do Rio Doce, ela come�ou no servi�o dom�stico aos 11 anos de idade. “No meu primeiro emprego, ganhava R$ 5 por dia de trabalho”, lembra. Na regi�o em que morava, Elis�ngela sempre cuidou da limpeza da casa de vizinhos, de fazendas da regi�o, mas nunca ganhou mais que R$ 200 por m�s.


A vida pobre ao lado dos 11 irm�os fez com que ela se apegasse ainda mais ao emprego. “Trabalhar ganhando pouco era a �nica forma de ter o que comer, de conseguir uma vida um pouco melhor.” Com as economias acumuladas em 12 anos de trabalho remunerado abaixo do m�nino no interior, Elis�ngela comprou um terreno e construiu casa pr�pria na ro�a. Mas, diante de problemas no relacionamento e da separa��o do marido, ela decidiu deixar quatro irm�os, a m�e, Divina Geralda Batista, e a propriedade para tr�s e tentar a sorte na capital.


Na chegada a Belo Horizonte, se assustou com tanta novidade. Inclusive, no trabalho, onde � tratada com respeito, recebe um sal�rio m�nimo e tem a carteira assinada. “Vim com emprego arranjado pela minha tia na casa de uma senhora”, conta. “A patroa me trata bem. Respeita meus hor�rios. � diferente do interior, onde as pessoas fingiam que nem est�vamos ali as servindo”, ressalta. Em Paulistas, ficou a m�e, que todos os dias lamenta a falta da filha. “A gente quer que eles fiquem por perto, mas o que a gente pode dar � muito pouco”, comenta.


Agora na capital, a vida de Elis�ngela come�a a mudar. Com o primeiro sal�rio, comprou celular, roupas e cosm�ticos. Tamb�m mandou dinheiro para a m�e, que vive com R$ 250 por m�s, al�m de guardar um pouco para comprar outra casa em BH. “Pe�o a Deus que me d� for�as para continuar aqui porque � muito ruim estar longe da fam�lia. � o que mais me faz falta”, diz.

O descaso com que � tratado o trabalho dom�stico em pequenas cidades do interior faz com que as hist�rias se repitam. Maria Geralda da Silva Santos, de 31, que se apresenta para todos como Neguinha, tamb�m precisou mudar o rumo de sua vida. Nascida em Marilac, tamb�m no Rio Doce, saiu de casa pela primeira vez aos 14 anos, quando aceitou o convite para trabalhar em Ipatinga e morar na casa dos patr�es, recebendo R$ 80 por m�s. “Meu pai batia muito em mim e o �nico trabalho era na enxada. N�o tive inf�ncia, n�o aproveitei a minha m�e. Precisei aceitar o emprego. Hoje, tudo que eu tenho � por causa do meu servi�o como dom�stica”, ressalta.

Com R$ 900 por m�s – um sal�rio m�nimo, mais o dinheiro que consegue com as faxinas que faz aos fins de semana –, Maria hoje paga aluguel e est� mobiliando a casa com a ajuda de amigos. No m�s que vem, Maria tamb�m ter� a sua carteira assinada pela patroa, que prometeu cumprir a lei. Para o futuro, pretende dar boa educa��o � filha, que sonha ser veterin�ria. “Vou lutar para isso, nem que tenha que derramar sangue. Quero que ela seja algu�m na vida”, garante. Com os olhos no futuro, ela garante n�o sentir saudades do que ficou, de sua hist�ria e fam�lia. Do passado, Neguinha leva na mem�ria apenas o carinho da m�e, que faleceu h� tr�s anos.

Sonho quebrado

A hist�ria de Juciele Gon�alves Silva, de 23 anos, que nasceu na zona rural de Bras�lia de Minas, na Regi�o Norte do estado, tamb�m ilustra bem a condi��o das empregadas dom�sticas que saem do interior. Ter acesso � escola n�o foi f�cil. Com muito esfor�o, conseguiu concluir o ensino m�dio. Mas o �nico servi�o que encontrou foi de empregada dom�stica numa casa do mesmo munic�pio. Quando Juciele estava com 20 anos, surgiu a oportunidade de trabalhar em Montes Claros. “Vim pensando em estudar, com o sonho de fazer faculdade de psicologia”, relata.

Ela come�ou o trabalho de empregada dom�stica recebendo valor inferior ao sal�rio m�nimo, sem carteira assinada, mas com a promessa de que teria tempo para fazer um curso noturno. Na pr�tica, nada disso aconteceu. “Eu trabalhava at� a noite, n�o tinha descanso e quase n�o sa�a de casa. Minha patroa falava que era muito perigoso sair.” No ano passado, Juciele mudou de emprego. Com a atual patroa, ganhou tempo de descanso e diz ser bem tratada. No entanto, recebe R$ 450 por m�s e n�o tem a carteira assinada. “A minha patroa me explicou que n�o tem condi��es e aceitei numa boa porque minha rela��o com ela � de amiga”, afirma.

Sem benef�cios e agora gr�vida, Juciele deixar� o servi�o de dom�stica. Vai deixar tamb�m os planos de voltar a estudar para depois. Em maio, ela volta para Bras�lia de Minas, at� o nascimento do filho. “Pretendo retornar para Montes Claros no fim do ano, como empregada dom�stica ou em qualquer outro servi�o”, disse a jovem, que sonha um dia ter a carteira assinada, mas que agora vai levar consigo o beb�. Na zona rural, a m�e, Almerinda, lamenta a falta da filha. “Tem dias que choro de saudade. Fico pensando se est� com sa�de, se est� bem alimentada, mas sempre incentivei que ela trabalhasse fora para poder correr atr�s das suas necessidades”, diz.


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