
Pesquisa do instituto Data Popular divulgada com exclusividade para o Estado de Minas comprova a inquieta��o do consumidor na hora de ir �s compras. Os alimentos lideram a lista de grupos de despesas que mais subiram de pre�o, na percep��o dos entrevistados. Para 61% deles, os reajustes nessa cesta de produtos foram os que mais incomodaram no �ltimo ano. Em seguida, a maior parte dos brasileiros diz ter sentido a infla��o em itens de limpeza (59%), de educa��o (56%) e em roupas (52%).
N�o h� como fugir da avalia��o de que o dinheiro das fam�lias est� mais contado neste in�cio de 2014. “O que estamos vivendo � resultado de um processo em que os sal�rios n�o conseguem acompanhar os pre�os dos produtos, que seguem encarecendo em uma velocidade significativa”, comenta o diretor do instituto, Renato Meirelles. A pesquisa escutou 2.017 pessoas em 53 munic�pios espalhados por todas as regi�es do pa�s.
Anestesiadas com a infla��o, 56% das fam�lias das classes D e E come�aram o ano fazendo mais pesquisa de pre�o do que em 2013, aponta o mesmo levantamento. Entre entrevistados da classe C, esse �ndice recua para 50% e, na faixa de maior renda, para 49%. “O problema � que n�o adianta muito. Os pre�os subiram em todos os lugares, � algo disseminado”, observa a aposentada Irani Couto, 64 anos, que na tarde de ontem, dia de promo��o no sacol�o, fazia contas para encher o carrinho. “Infla��o sob controle? Isso n�o existe. Ningu�m est� conseguindo segurar nada”, afirma a aposentada. A visita a supermercados diferentes, completa ela, s� tem valido a pena para garantir os alimentos de melhor qualidade.
Troca de marca Com os constantes saltos de pre�os, sublinha a pesquisa do Data Popular, a maioria dos consumidores (59%) n�o escapa mais da alternativa de trocar a marca do produto para tentar manter a conta no or�amento. Quase um ter�o dos entrevistados confessa ter diminu�do a quantidade de itens no carrinho. E 10% simplesmente deixaram de comprar. “N�o tem outro jeito a n�o ser levar somente o necess�rio”, diz o seguran�a Jacinto Lopes, de 55.
O empres�rio Bernardo Haddad, de 34, reduziu as idas ao restaurante em raz�o do aumento do custo de vida no pa�s. Pelo mesmo motivo, dona Maria Alice Ramalho, de 51, deixou de passear com a fam�lia, este m�s, em Caldas Novas (GO). Como eles, muitos brasileiros mudaram h�bitos e adiaram sonhos em raz�o da disparada dos pre�os de produtos e servi�os. Nos �ltimos 12 meses, o �ndice de Pre�os Amplo ao Consumidor (IPCA), que � a infla��o oficial do Brasil, acumula alta de 5,68%. O indicador est� distante da meta estipulada pelo governo, de 4,5% ao ano.
“Est� tudo ficando mais caro. Apenas para dar um exemplo: o quilo da batata que eu comprava por R$ 2, h� poucas semanas, agora est� R$ 4”, reclama dona Maria Alice, que mora com o marido e a filha. Na �ltima segunda-feira, uma pesquisa do site Mercado Mineiro mostrou que o quilo da batata disparou 45,15% entre janeiro e mar�o, de R$ 2,68 para R$ 3,89. Percentual maior (51,89%) ocorreu com a beterraba, cujo quilo foi de R$ 2,64 para R$ 4,01. Resultado: dona Maria Alice reduziu as compras no sacol�o. Muitas frutas tiveram os pre�os reajustados em dois d�gitos.
Frutas caras
Na Ceasa Minas, por exemplo, o grupo das frutas ficou 28% mais caro na compara��o entre os 75 primeiros dias de 2014 e o mesmo per�odo de 2013. O pre�o de algumas frutas foi reajustado bem acima da m�dia, como a ma�� (74%) e a melancia (38%). “Diminu�mos a quantidade de produto que compr�vamos, principalmente de frutas, verduras e legumes, que ficaram bem mais caros”, lamentou a mulher. A renda mensal na casa dela � de R$ 3 mil. Em mar�o, eles planejaram conhecer as t�rmicas de Caldas Novas, mas tiveram de adiar o plano em raz�o do aumento do custo de produtos e servi�os indispens�veis ao lar.
Bernardo Haddad, o empres�rio que reduziu as idas a restaurantes, tamb�m adiou o sonho de comprar um carro novo: “Iria dar um ter�o de entrada e financiar o restante, mas os juros ficaram mais altos”. No Brasil, a taxa de juros � ditada pela Selic, que est� em 10,75% ano ano. H� um ano, a Selic estava em 7,25%. Os sucessivos aumentos da taxa refletiu no avan�o dos juros das linhas de cr�dito. A disparada dos juros levou Bernardo a adiar a compra do carro. Mas o aumento do custo de vida o levou a mudar um h�bito: “Eu e minha esposa �amos duas vezes por semana a restaurantes. Agora vamos uma vez a cada quinzena. Demos uma segurada. A cerveja ficou mais cara, as por��es…”, disse o empres�rio.
Fora do lar O custo da alimenta��o fora do lar acumula alta acima da infla��o. No bimestre, enquanto o IPCA ficou em 1,24%, o gasto com idas a restaurantes encareceu 1,95%. Quem faz as refei��es em casa tamb�m est� gastando mais. Balan�o da Prefeitura de Belo Horizonte mostra que a cesta b�sica aumentou 4,8% entre 17 de fevereiro e o mesmo dia de mar�o, de R$ 553,72 para R$ 580, 62.
Armas contra o drag�o
O festival de aumento dos pre�os dos alimentos levar� o governo a tomar medidas para atenuar a dispers�o da carestia pela economia. Em reuni�o prevista para ter�a-feira, a c�mara t�cnica do Conselho Interministerial de Estoques P�blicos de Alimentos (Ciep) determinar� a venda de estoques de passagem de milho para abastecer algumas regi�es, sobretudo Nordeste, e discutir� a��es em alimentos b�sicos, como o feij�o, afetado pelo clima nas principais �reas do pa�s.
O movimento do conselho, criado h� um ano pela presidente Dilma Rousseff para reunir quatro minist�rios da �rea, corrobora o alerta do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, externado nesta semana aos senadores, sobre o impacto do choque de pre�os nos alimentos na infla��o. Em plena safra dos gr�os, esperava-se um recuo nos pre�os, inclusive das carnes, diretamente influenciadas pela oferta de milho e soja. Mas, ancoradas em quebras de safra por motivos clim�ticos e pela demanda em alta, as cota��es seguem a trajet�ria ascendente pela terceira vez nos �ltimos anos.
No governo, avalia-se que a escalada dos principais itens de alimenta��o continuar� nos pr�ximos dois meses. “Temos essa preocupa��o, sim. Por isso, vamos tomar medidas”, disse o novo ministro da Agricultura, Neri Geller. “Mas a agricultura tem ajudado, e muito, a controlar a infla��o.”
Os elementos que sustentam a previs�o reservada do governo v�o desde a seca prolongada at� as chuvas que afetaram hortigranjeiros, gerando a “infla��o da salada”. Nesta conta, tamb�m est� a demora na recomposi��o dos estoques globais, a redu��o da oferta mundial de produtos b�sicos, inclusive milho nos Estados Unidos e o trigo na Ucr�nia. A origem da escalada, avalia-se, est� na quebra hist�rica da safra americana de 2012 e na mudan�a estrutural do padr�o de consumo na �sia, especialmente na China. Antes, as quebras na Argentina e no Rio Grande do Sul tamb�m haviam alterado o panorama mundial.
Cr�dito
O governo avalia lan�ar uma linha de financiamento para estufas que cobrem hortigranjeiros, o que ajudaria a reduzir estragos das chuvas, al�m de incentivar o setor de sementes. “A qualidade � baixa e os pre�os est�o altos”, diz o vice-presidente de Agroneg�cios do Banco do Brasil, Osmar Dias. “Sem semente, n�o tem recupera��o da safra.” Os pre�os internos mant�m-se elevados. A cota��o da soja, avalia o governo, deveria estar 20% mais barata, o que ajudaria a conter pre�os das carnes, em franca disparada nos �ltimos dias – a arroba do boi passou de R$ 95 para R$ 120 e os pre�os do leite subiram 7,3% sobre janeiro de 2013.